Por Gustavo Chierighini, publisher da Plataforma Brasil Editorial.
Caro leitor, começo este artigo com um questionamento: você sabe me dizer o que está acontecendo com a classe produtiva do Brasil (entenda-se: empresariado estabelecido, empresariado nascendo, empresários em geral e profissionais corporativos)? O que aconteceu com os brasileiros?
Claro, eu poderia escutar como resposta que eles estão apreensivos, aflitos com os destinos da economia (com o êxito ou não do ajuste fiscal) e/ou que estão enfrentando mais uma crise relevante. São respostas verdadeiras e coerentes. Contudo, qual seria a resposta se eu ainda perguntasse: mas por que tanta passividade?
Ou melhor, por que nos tornamos assim, tão “fofinhos” e fáceis de levar por um estado, independentemente da legenda de plantão, que adora aportar nas nossas costas mais e mais responsabilidades, mas que detesta fazer o dever de casa? Não seríamos nós mesmos os culpados?
O fato é que, independentemente do latido forte (de cachorro grande) que representa o nosso peso econômico, as divisas que trazemos e a arrecadação que geramos com suor e noites mal dormidas, atuamos tal qual um poodle miniatura em meio a pitbulls bravos, pesados e manipuladores.
(É importante o leitor não confundir voz ativa e protagonismo empresarial com cooptação para negociatas, adesão financeira a projetos e poder ou acordos para a manipulação de contratações públicas).
Nossas entidades empresariais até mesmo são consultadas, colocam seus pontos de vista, argumentam, concedem entrevistas para a imprensa procurando com isso alguma ressonância na sociedade, mas o que se sabe é que o seu poder para influir e sensibilizar a máquina pública é absolutamente diminuto.
O nosso mundo produtivo se lança, altivo, assumindo cada vez mais intermináveis responsabilidades sociais (resignando-se ao aceitar que vencer uma causa trabalhista é caso raríssimo) e cuida das questões ambientais (enquanto estatais responsáveis pelos recursos hídricos convivem com desperdícios inexplicáveis).
Executivos de diversas empresas (uma maioria, felizmente) promovem o voluntariado nas suas fileiras, mas na hora de defender os interesses da produtividade (que em última análise beneficiam toda cadeia econômica), escondem-se embaixo da cadeira.
Isso é compreensível, até certo ponto. O nosso mundo corporativo não foi feito para reclamar, para lutar por direitos, foi feito para produzir. Nos corredores corporativos, quem reclama ou se impõe contra a boiada logo recebe um estigma.
Quem reclama ouve coisas tipo “Ah, ele não é proativo” (quem inventou essa expressão?) ou ainda recomendações do tipo “Não me venha com problemas, eu quero soluções” – e nessa dinâmica vamos levando a vida, arrecadando impostos escandinavos e buscando a “meta-competência” no mundo de Antártida.
Não é incomum escutarmos na narrativa de eventos empresariais e de especialistas em gestão sentenças recheadas de assertividade, tais como: “As vendas caíram? Trabalhe mais” ou “A situação está ruim, então acorde mais cedo e trabalhe dobrado”.
É obvio que apenas reclamar não resolve muita coisa, mas a nossa timidez institucional acarreta consequências muito penosas para quem toma risco (seja o risco do emprego que pode ser perdido ou do investimento feito) e gosta de trabalhar.
É uma questão de produtividade e eficiência do capital investido, uma questão de resultados mais robustos e menos sustos econômicos, que por sua vez prejudicam toda a cadeia econômica e social.
Precisamos de uma mudança de atitude e postura, de uma vez por todas, ou passaremos a existência vendo segmentos de imenso potencial naufragando. Neste sentido, recomendo uma leitura panorâmica sobre o setor sucroalcooleiro, bastante emblemático no Brasil.
Há também o setor de defesa, tradicionalmente responsável pela grande carga de tecnologia sensível para aplicação civil e emprego estratégico, que convive com uma mortalidade empresarial elevadíssima e ciclos econômicos de crescimento que não se sustentam e pousam na pista poucos anos depois da decolagem.
Necessitamos urgentemente de protagonismo em alto nível, reconquistando o respeito e os ouvidos das lideranças públicas! Hoje pagamos um preço altíssimo pela nossa voz fraquinha e a nossa vontade doentia de nos adequarmos ao que dita a bota do “politicamente correto”. Brasileiros, precisamos de vocês!
Permitir as derrotas econômicas por pura timidez, sem falarmos grosso, avisando a proximidade do abismo que resultará invariavelmente em falências, desemprego e miséria é talvez o melhor exemplo de um comportamento bastante politicamente incorreto. Até quando? Até o próximo.
Foto “Heavy bag”, Shutterstock.