A Braskem (BRKM5) precisa apressar os trabalhos de preenchimento de minas de extração de sal sob a superfície de Maceió como forma de se evitar uma repetição do afundamento ocorrido nesta semana que tem causado alarme na cidade, afirmou o ministro dos Transportes, Renan Filho, nesta sexta-feira.
A atividade de extração de sal sob a capital alagoana vinha sendo realizada desde os anos de 1970, mas foi interrompida em 2019 após bairros da cidade passarem a registrar rachaduras em ruas e em edifícios diante da movimentação de enormes cavidades criadas com a mineração.
Desde então, cerca de 50 mil pessoas foram retiradas de cinco bairros da cidade por precaução em meio ao registro constante de sismos e movimentações do solo.
“Isso tem demorado muito”, disse Renan Filho em entrevista à CNN Brasil nesta sexta-feira, se referindo aos trabalhos da Braskem para o fechamento e estabilização das minas em Maceió.
“A empresa tem que acelerar este cronograma para que não vejamos essas movimentações… Isso aterroriza”, acrescentou o ministro, que é alagoano e foi governador do Estado de 2015 a 2022.
O ministro afirmou que tem mantido contato com autoridades locais e defendeu uma maior participação do governo federal nos trabalhos de solução da crise.
Desde a quarta-feira, quando um alerta de colapso iminente da mina 18 da Braskem, no bairro de Mutange, foi dado pela Defesa Civil de Alagoas, o solo na região já cedeu mais de 1 metro, afirmou o prefeito de Maceió, João Henrique Caldas (PL), à mídia local.
A prefeitura da cidade informou à Reuters na manhã desta sexta-feira que desde a véspera a situação da região, que fica também próxima da lagoa Mundaú, segue a mesma, com o solo cedendo cerca de 5 centímetros por hora.
Maceió tem sob sua superfície 35 minas de sal-gema, mineral usado na produção química da Braskem. A companhia reservou 14,4 bilhões de reais desde o início da crise para compensação de moradores e entes públicos, além dos trabalhos para estabilização das minas.
As ações da Braskem recuavam mais de 8% nesta sexta-feira, maior queda do Ibovespa.
Procurada nesta sexta-feira sobre os comentários do ministro, a Braskem não pôde comentar o assunto de imediato. Um dia antes do alerta da Defesa Civil de Alagoas, a empresa afirmou que esperava concluir no início de 2024 as ações do plano de realocação e compensação de moradores de Maceió e encerrar até 2025 o fechamento das minas.
“O ritmo desse cronograma tem que ficar claro, se não pode acelerar, eles têm que dizer por que não pode”, disse Renan Filho na entrevista, comparando o desastre a outros de grandes proporções ocorridos no mundo, como o da explosão da usina nuclear de Chernobyl, em 1986, que também obrigou um exôdo de milhares de pessoas.
A crise na mina 18, que, segundo o ministro, seria uma das próximas a ser preenchida para estabilização, ocorre em um momento em que o nível de alavancagem da Braskem disparou pressionado por um quadro de excesso de oferta de petroquímicos no mercado global e demanda lenta, e afetado ainda pelos desembolsos relacionados a Maceió.
A intensificação da movimentação do solo na região também acontece em um momento em que a Novonor, ex-Odebrecht, recebeu propostas de interessados na compra de sua participação na Braskem. O grupo petrolífero de Abu Dhabi Adnoc anunciou em novembro uma oferta de 10,5 bilhões de reais pela fatia.
A Braskem foi intimada na quinta-feira sobre decisão da Justiça sobre ação de autoridades federais e de Alagoas relacionada à movimentação da mina 18. O valor atribuído à ação pelos autores é de 1 bilhão de reais.