O porta-voz da fabricante de veículos chineses BYD, Li Yunfei se opôs a relatos sobre más condições de trabalho em um canteiro de obras no Brasil (Veja as fotos abaixo), onde está sendo construída uma fábrica da montadora, dizendo que as alegações visam difamar a China, as marcas do país e minar a amizade entre o Brasil e a potência asiática.
As imagens, contudo, mostram que as camas oferecidas aos trabalhadores não possuíam colchões. Além disso, a cozinha não possuía geladeira e os alimentos encontravam-se acondicionados ao ar-livre.
No início da semana, uma força-tarefa liderada por promotores brasileiros disse ter resgatado 163 cidadãos chineses que, segundo eles, estavam trabalhando em condições “semelhantes à escravidão” e com situação sanitária ruim. A BYD disse que “rescindiria imediatamente o contrato” com o Jinjiang Group, empreiteira responsável pela obra, e que estava estudando outras medidas apropriadas.
“A BYD Auto do Brasil reitera seu compromisso com o cumprimento integral da legislação brasileira, em especial no que se refere à proteção dos direitos dos trabalhadores. Por isso, está colaborando com os órgãos competentes desde o primeiro momento e decidiu romper o contrato com a construtora Jinjiang”, afirmou Alexandre Baldy, Vice-presidente sênior da BYD Brasil.
A companhia opera há 10 anos no País. A empresa determinou, no dia 23, que trabalhadores dessa fossem transferidos para hotéis da região.
Situação da cozinha
Dormitórios sem colchões
O que o MPT disse sobre a BYD?
As autoridades brasileiras ainda disseram que a construtora confiscou os passaportes dos trabalhadores e reteve 60% dos salários. Aqueles que pedissem demissão seriam forçados a pagar à empresa a passagem aérea que os trouxe da China para o Brasil, bem como a passagem de volta para o país de origem.
• Alojamentos apresentavam condições degradantes. Os trabalhadores dormiam em camas sem colchões, enfrentavam banheiros insuficientes e não tinham armários para guardar pertences. Em um alojamento, apenas um banheiro atendia 31 pessoas, gerando filas e dificultando a higiene.
• Alimentação e água em condições insalubres. Os alimentos eram armazenados de forma precária, muitas vezes próximos a materiais de construção ou banheiros. Em um dos quartos, panelas com alimentos preparados ficavam expostas no chão. A água consumida era diretamente da torneira, sem tratamento.
• Canteiro de obras com múltiplas irregularidades. No local de trabalho, banheiros químicos estavam em estado deplorável e havia apenas oito unidades para cerca de 600 trabalhadores. Refeitórios improvisados e a ausência de proteção contra radiação solar foram outras falhas detectadas.
• Indícios de trabalho forçado. Os trabalhadores enfrentavam retenção de passaportes, salários descontados em até 60% e cauções abusivas. Rescindir o contrato resultava em perdas financeiras severas, incluindo custos de passagens de volta para seus países de origem.
• Jornadas exaustivas e acidentes de trabalho. Os contratos previam jornadas de 10 horas diárias sem folgas regulares. Um trabalhador relatou 25 dias consecutivos de trabalho e sofreu acidente devido à exaustão. Outros casos de lesões sem atendimento médico adequado foram registrados.
• Audiência marcada para buscar soluções. Uma audiência virtual ocorrerá no dia 26 para que BYD e Jinjiang apresentem ações para corrigir as condições mínimas de trabalho e alojamento. A força-tarefa continuará monitorando as obras e investigando possíveis novas infrações.
• Embargo de atividades até regularização. Trechos da obra, incluindo escavações profundas e uma cozinha, foram interditados. A força-tarefa exige que todas as condições degradantes sejam eliminadas antes da retomada das atividades.
• Repercussão da ação. O MPT destacou que a situação reflete uma grave violação dos direitos humanos. A BYD e a Jinjiang estão sob pressão para garantir condições dignas aos trabalhadores e evitar futuras sanções legais.
Fotos
(Com Estadão Conteúdo e Associated Press)