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A carne mais fraca (e podre) é a sua. A minha. A nossa.

por Conrado Navarro
3 min leitura
A carne mais fraca (e podre) é a sua. A minha. A nossa.

Repercutiu bastante nas redes sociais e na imprensa em geral, inclusive internacional, a Operação Carne Fraca, deflagrada pela Polícia Federal (PF) no fim de março. Diversos mandados de busca e prisão direcionados a executivos e fiscais ligados à indústria alimentícia foram notícia em todo lugar.

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O alvo da PF eram frigoríficos e empresas de processamento e comércio de carnes e embutidos que teriam pago propina para que fiscais liberassem produtos com características diferentes das exigidas pela lei (carne vencida, misturas não autorizadas e coisas parecidas).

Os supostos casos de corrupção envolvendo fiscais e frigoríficos mexeram inclusive com a balança comercial, derrubando as exportações de carne e criando uma nova “neura” em diversos países compradores (você deve se lembrar que isso já aconteceu outras vezes, como no caso “vaca louca”).

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Somos todos corruptos? É normal?

Toda a enorme repercussão do caso reacendeu também um importante debate sobre o modo dominante de ser e viver no Brasil: a corrupção. Todo mundo age assim, faz desse jeito, portanto para ser capaz de viver e “se dar bem”, é preciso aprender a “jogar o jogo”. Você concorda com isso?

Para uma análise mais cuidadosa e profunda, o ideal é abstrairmos a situação dos frigoríficos, das empreiteiras e outros casos conhecidos e focarmos na nossa situação particular. Nos nossos parentes, filhos e irmãos. No nosso vizinho.

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O cidadão desce do apartamento com seu cachorro e o coloca para defecar no jardim externo do seu próprio condomínio, sem recolher o cocô depois? Já interpelei vários moradores fazendo isso. A explicação padrão: “Os cachorros da rua fazem suas necessidades aqui, o pessoal do prédio faz isso também, virou o banheiro dos cachorros”.

O proprietário da loja aproveita que a cidade não tem o sistema de estacionamento rotativo ainda em operação e vai bem cedo estacionar seu carro em frente à própria loja, deixando-o lá o dia todo.

Muito “esperto”, afinal assim ele termina o dia de trabalho e seu carro está ali, bem perto e prontinho para ele ir embora. Deixar a vaga para um possível cliente? Imagina! A resposta: “Que se dane, afinal algum outro comerciante vai acabar pegando essa vaga mesmo”.

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O resultado é cômico: 7:30 da manhã a rua está lotada de carros, mas o comércio só abre as 9h. Azar. O importante mesmo é diminuir ao máximo o esforço da pessoa física e dane-se a pessoa jurídica. E sua lojinha não prospera, é claro.

O cidadão vê o lugar vazio e ignora a sinalização de estacionamento proibido, afinal de contas serão apenas alguns minutos até ela sair e resolver o que precisa resolver.

“Amigo, você não pode estacionar ai, é faixa amarela e a sinalização com as placas é clara”. A resposta: “Todos os dias muita gente faz isso, a gente vai aqui do lado rapidinho, é sempre coisa simples e vou liberar o lugar em 10 min no máximo. Tranquilo”.

O trânsito está pesado na estrada e, de repente, um congestionamento se forma. A velocidade cai drasticamente e enormes filas tomam a rodovia. Não demora 5 minutos e o acostamento começa a ser frequentado.

Um carro. Dois. Três. Uma fila. Um caminhão. Um ônibus. O fluxo no acostamento se intensifica e a área se transforma no “corredor dos espertos”, com os motoristas de lá lançando aquele olhar maroto de “eu vou chegar na sua frente”, sabe?

Um pouco de carne de cabeça de porco na linguiça? Tem regulamentação para isso, inclusive. Colocar um pouquinho mais do que o permitido? Tranquilo, não vai ser isso que vai matar o consumidor não.

Boi velho, carne ruim, validades manipuladas, embutidos com papelão? Ninguém vai morrer e as adulterações são pequenas, coisa que realmente não prejudica o organismo. “Faz parte, todo mundo faz”, né?

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Conclusão

Nós não percebemos, mas nossos cachorros estão defecando no meio da nossa sala, enquanto nós, cidadãos, fazemos questão de dizer que apenas o cachorro do vizinho é fedido, desordeiro e nojento.

Precisamos admitir que falhamos brutalmente no quesito cidadania e nas coisas mais simples e ridículas do convívio social. Sem isso, nenhuma máscara cairá e o rumo das coisas por aqui seguirá o mesmo de sempre: um lado fingindo que engana e o outro fingindo que acredita.

Quando a hipocrisia se soma à leniência, impunidade e à ausência de atitude e humildade, criamos a sociedade perfeita ideal para quem só sabe defecar fora do lugar – e somos assim administrados há muito tempo.

Infelizmente, eu não faço ideia de como mudar esse quadro, mas acho que o mínimo começa com a mudança de postura no âmbito individual-familiar. Mais humildade, principalmente, para reconhecer a enorme falha de caráter que é transmitida como um estilo de vida.

Não sei se somos todos podres ou se apenas estamos podres. Se somos, então não há muito o que fazer! Se estamos, há esperança para as futuras gerações. Só o tempo dirá. O que você pensa sobre isso tudo? Registre sua opinião no espaço de comentários e até a próxima!

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