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Carros cada vez maiores! Precisamos? Podemos manter?

por Leandro Mattera
3 min leitura

Carros cada vez maiores! Precisamos? Podemos manter?Você já reparou na tendência das pessoas comprarem carros cada vez maiores? Será que isso é necessário e sustentável?

Finclass Vitalício Quadrado

Neste artigo, será discutida a necessidade de “carros cada vez maiores”, não “carros cada vez melhores”. Essa diferença, que aparenta ser óbvia, nem sempre tem sido lembrada pelos consumidores que, em muitos casos, acreditam que veículos mais amplos apresentam mais qualidade.

Explorando mais essa diferença, na minha visão a busca por carros melhores é louvável. Trata-se de algo normal e está relacionado com o objetivo geral de evolução e aperfeiçoamento que a maioria de nós possui. Nesse contexto, os parâmetros do que é “melhor” dependem dos valores de cada um e o conceito de “suficiência” varia de acordo com nossas prioridades individuais.

Voltando ao foco do artigo, ao pensar na resposta para a primeira pergunta do título, muitos têm justificativas bem fundamentadas para a escolha. Na maioria dos casos, carros maiores são buscados quando há o aumento do número de pessoas ou da bagagem/carga a serem transportadas. Além disso, há a necessidade de carros mais robustos para trafegar em vias e terrenos adversos.

Nessas hipóteses, a escolha é baseada na “necessidade”, que deve ser o primeiro parâmetro no processo de escolha de um carro, assunto tratado no artigo “Você compra seu carro por necessidade, status ou pelo preço? Ou tudo isso?”.

Como não temos as restrições de espaço existentes na Europa e considerando a relativa “prosperidade econômica” dos últimos anos, muitos consumidores estão confusos na hora de escolher o segmento do carro a ser comprado. Por conta disso, vamos analisar a questão em detalhes.

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1. Necessidade de transportar mais passageiros

A maioria dos veículos oferece condições adequadas para quatro passageiros. Quando é necessário transportar um quinto ocupante, deve-se checar se o carro possui o respectivo cinto de três pontos e o apoio de cabeça, ambos importantes itens de segurança. Em termos de conforto, vale conferir o espaço oferecido e se o veículo possui túnel central ou piso plano para o posicionamento dos pés.

Para quem necessita de sete lugares, além dos itens anteriores, é importante avaliar a modularidade dos bancos e a existência de saídas de ar condicionado para a terceira fileira. Obviamente, as condições de acesso e ergonomia também merecem atenção.

Lamentavelmente, o segmento de sete lugares é um dos mais carentes no nosso mercado, com poucas opções que aliam qualidade e custo-benefício. Sem dúvida, modelos disponíveis no exterior, como Honda Odyssey, Toyota Sienna e Opel Zafira fazem muita falta no Brasil.

Quanto ao transporte de crianças em cadeirinhas, além de checar o espaço disponível, vale observar se o carro possui o importante sistema Isofix de fixação, que garante muito mais segurança.

Uma dica importante é avaliar o tempo efetivo em que o carro será usado com a capacidade máxima de ocupantes, a fim de checar se realmente compensam os impactos financeiros maiores (analisados abaixo). Por exemplo, se os sete lugares serão usados apenas raramente, vale pensar em outras possibilidades, como o aluguel de um outro carro nessas ocasiões.

Lembre-se, ainda, de checar as dimensões externas do carro caso você tenha restrição de espaço para estacionar na garagem ou em outros locais.

2. Necessidade de transportar mais bagagem ou carga

Pensando nesse aspecto, é importante avaliar o tamanho do porta-malas e sua capacidade efetiva. Deve ser observado como é o acesso e se a tampa abre em condições favoráveis (principalmente no caso dos SUVs, que têm abertura lateral).

Outro item importante é o sistema das dobradiças da referida tampa, que em muitos carros são “pescoço de ganso” (diminuem a funcionalidade do compartimento, além de amassarem as bagagens). Dessa forma, as dobradiças pantográficas são preferíveis.

Vale observar ainda como é o sistema de rebatimento de bancos (bipartidos ou não) e se apresentam modularidade (como ocorre, por exemplo, no sistema ULT do Honda Fit, que apresenta mais de dez combinações possíveis).

Para quem tem uma necessidade ainda maior, vale checar a viabilidade de instalação de bagageiro no teto. Algumas necessidades específicas, como transporte de bicicletas e de animais, também devem ser avaliadas cuidadosamente no momento da compra.

Para aqueles que efetivamente transportam cargas e precisam de caminhonetes, é importante checar o tamanho e a profundidade da caçamba, a necessidade de cobertura deste compartimento e a existência de ganchos para amarração. No caso de reboque, é necessário atentar para a capacidade suportável pelo veículo.

3. Necessidade de veículos maiores e mais robustos

Existem casos de pessoas que necessitam de carros robustos para enfrentar vias complicadas. Muitas vezes, precisam de carros altos, com tração 4×4, marcha reduzida etc.

Vale lembrar que, vergonhosamente, apenas cerca de 12% das vias são pavimentadas no Brasil. E, como sabemos, a maior parte das pavimentadas também não oferece boas condições, principalmente em razão de lombadas, obstáculos e buracos.

Em casos de uso severo, vale atentar para as características de robustez do veículo, como, por exemplo, se é monobloco ou utiliza chassi, que em tese é mais adequado ao uso off-road. Alguns consumidores necessitam, também, de boa capacidade de imersão. Aliás, observando-se os constantes alagamentos em várias cidades do país, essa não é uma necessidade tão rara.

Considerando as opções disponíveis no mercado e alguns aspectos regionais (como a falta de concessionárias próximas), há casos de pessoas que são praticamente obrigadas a comprar veículos com dimensões exageradas em relação à necessidade de uso. Em virtude de um leque de escolha bastante reduzido, restam poucas possibilidades viáveis.

Outra situação, cada vez mais comum, é a preferência por carros mais altos em função da visibilidade que proporcionam.

Além disso, existe a busca por mais segurança, o que é um aspecto polêmico. Por serem mais pesados e terem o centro de gravidade mais alto (no caso dos SUVs), esses carros necessitam de tecnologia embarcada para compensar essas características, como controle de tração e estabilidade, além de freios eficientes, com sistemas como ABS, EBD e BAS. Contudo, quando colidem contra outros veículos menores, acabam levando certa “vantagem” pelas suas próprias características.

4. Ok, as diferentes necessidades foram entendidas. Mas por que tanta gente compra carros maiores sem precisar?

A resposta para essa pergunta é complexa. Analisando-se historicamente, o objetivo de “parecer maior e mais intimidante” foi um fenômeno importante no processo de seleção natural.

No entanto, o aspecto de vincular o ego a um bem material é algo relativamente recente. Esse processo, estudado pela Psicologia do Consumo, iniciou-se após a Primeira Guerra Mundial, quando o consumo deixou de ser orientado apenas pelas necessidades (finitas) e passou a ser norteado pelos desejos (infinitos).

Dessa forma, observamos que há muitos casos de pessoas que compram carros maiores movidas por desejos, conscientes ou inconscientes. Considerando que derivam de aspectos emocionais, há uma infinidade de motivos.

Em grande escala, decorrem do processo de “construção estratégica de imagem”. Para tanto, busca-se criar uma impressão de status e chamar a atenção para mostrar uma imagem de imponência.

Mas nem todos têm esse tipo de aspiração. Ocorrem muitos casos de pessoas que têm uma história de trocar de carros buscando veículos maiores em função de necessidades passadas e que acabam seguindo esse mecanismo de forma automática, sem refletir com mais calma a respeito dos reais fundamentos dessa decisão.

Considerando os aspectos comentados, reflita por um instante:

  • Quantas vezes você já viu um gigantesco SUV levando apenas uma pessoa numa avenida da cidade?
  • Quantas vezes já observou uma caminhonete sendo usada para levar as crianças para a escola e para visitas ao shopping?
  • Quantos 4×4 você conhece que nunca chegaram nem perto de estradas de terra?

Será que isso faz sentido? Como já discutimos nos artigos anteriores, “você não é o carro que possui”. A atitude de procurar no veículo algum tipo de compensação decorrente de fatores psicológicos é algo bastante equivocado e que deve ser evitado, resistindo-se aos apelos do marketing.

Além disso, aspectos como o impacto ambiental e o comprometimento dos espaços públicos e privados também merecem nossas reflexões.

5. E as finanças, como ficam?

Tudo o que foi discutido tem uma relevância ainda maior quando pensamos nos impactos financeiros dos veículos, considerando toda a Estrutura de Preços dos carros no Brasil.

Carros maiores, na maioria das vezes (não em todas), costumam ser mais onerosos. Isso é acentuado no caso dos SUVs e caminhonetes que, pelas próprias características de design e construção, geram mais gastos do que os automóveis.

Normalmente, os veículos mais avantajados apresentam maior consumo em função do seu peso, principalmente se forem 4×4. Dependendo do modelo, a aerodinâmica também pode impactar negativamente no gasto com combustível.

Ainda em razão do peso e tamanho, necessitam de pneus maiores e mais caros. Se forem de uso misto (asfalto e terra), tendem a se desgastar mais rapidamente.

Em relação ao seguro, custos maiores também são altamente prováveis, principalmente no caso de veículos importados e movidos a diesel. Os gastos com estacionamento e lavagem também podem ser mais elevados para os carros maiores.

Além disso, a desvalorização é provavelmente o componente financeiro que mais merece atenção. De modo geral, quanto mais elevado é o segmento a que pertence o veículo, maior tende a ser a depreciação. Isso decorre em grande parte dos crescentes custos de manutenção ao longo do tempo, algo com maior impacto nos carros mais sofisticados em termos de tecnologia. Por exemplo, o segmento dos SUV costuma apresentar grandes desvalorizações.

Conclusão

“Todas as pessoas que tenho atendido estão sempre querendo comprar um carro maior do que o do seu vizinho, colega ou rival. As pessoas, por alguma razão, estão usando ‘tamanho’ para medir ou expressar sucesso – real ou imaginário. Quando tudo começa a ser definido como uma questão de tamanho, nós perdemos contato com duas coisas essenciais: qualidade e sustentabilidade”Gilbert Obondi, proprietário de uma revenda de carros nos EUA.

Apesar de estarmos muito distantes da realidade americana, a ideia de escrever a respeito do tema decorreu de algumas observações realizadas no meu trabalho na consultoria automotiva pessoal Carro e Dinheiro.

Realmente há diversos casos de pessoas que procuram carros maiores movidas por necessidades reais. Quando nitidamente poderão arcar com as consequentes despesas, o caminho torna-se sustentável.

Por outro lado, algumas têm um desejo de sempre comprarem carros maiores independentemente das atuais e futuras necessidades, não levando em conta os impactos financeiros. Às vezes, os questionamentos que realizo nas entrevistas acabam despertando reflexões nos clientes, que atentam para o fato de que não precisam mudar de segmento.

Essas reflexões sempre são bem-vindas e costumam levar a decisões mais inteligentes e conscientes. O bolso também agradece. Obrigado pela atenção e até a próxima.

PS: Pensando nas pessoas que dão valor ao seu dinheiro e querem escolher bem os seus carros, foi publicado o livro digital Como Escolher o seu Carro Ideal (clique para detalhes), de minha autoria, que apresenta um roteiro completo para a definição de qual carro comprar, de acordo com o perfil de cada consumidor. Convido você a conhecer mais detalhes do livro clicando aqui.

PPS: Para ajudar você a controlar melhor os gastos crescentes com seu carro no dia a dia, eu também elaborei uma planilha completa e de fácil preenchimento, que pode ser baixada (gratuitamente) no seguinte link: http://bit.ly/PlanilhaCarro

Foto de 123RF.

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