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Carros: o consumidor está endividado demais?

por Leandro Mattera
3 min leitura
Carros: o consumidor está endividado demais?

Não é novidade que o mercado de carros no Brasil está passando por uma delicada situação. A cada dia, surgem novas notícias envolvendo queda nas vendas e na produção, aumento dos estoques, promoções, feirões, férias coletivas e outras indicações de que o mercado parece caminhar em direção a uma crise, como já analisei em artigos anteriores.

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Mas creio que ainda não foi dado o devido destaque a um fator-chave que pode mostrar o eventual esgotamento do modelo que impulsionou o crescimento das vendas nos últimos anos: o alto endividamento dos consumidores e das famílias.

1. O crédito automotivo nos últimos anos

O financiamento para compra de carros é algo recente na história econômica do Brasil. No período anterior ao Plano Real, era bastante rara a tomada de empréstimos para essa finalidade, considerando a antiga realidade de hiperinflação.

Esse cenário sofreu alterações relativamente graduais até a crise de 2008, inclusive porque os juros altos impediam um avanço mais agressivo.  Porém, após aquele período de turbulência econômica, houve uma série de intervenções governamentais para fomentar o mercado, com incentivos como a redução do IPI e facilidades para a contratação de crédito com a redução dos juros.

Como essas medidas não se restringiram ao setor automotivo, também houve incremento em outras modalidades de financiamento, com destaque para o crédito imobiliário e consignado. Dessa forma, houve antecipação de demanda e elevação do endividamento da população.

Considerando que os brasileiros ainda não têm um amplo histórico envolvendo o uso do crédito, o que é acentuado pela falta de atenção para pontos importantes de educação financeira, estamos num momento que merece bastante atenção.

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2. O momento atual

De acordo com pesquisa da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo), em junho deste ano, 62,5% das famílias estavam endividadas. Além disso, a parcela média da renda comprometida com o pagamento de dívidas atingiu 30,3%.

Na minha visão, esses patamares já são elevados, embora estejam em níveis semelhantes em relação ao ano passado.

Ocorre que, com o encarecimento do crédito por conta da elevação dos juros recentemente, torna-se mais complicada a contratação ou renovação de empréstimos. Adicionalmente, para evitar o aumento da inadimplência, os bancos ampliaram as restrições aos financiamentos, exigindo entradas maiores e redução no número de parcelas.

A situação é mais complexa ainda quando observamos que o evidente aumento da inflação nos últimos tempos também está contribuindo para o comprometimento dos orçamentos familiares.

Dessa forma, o nível de confiança dos consumidores apresenta tendência da baixa, tendo em vista igualmente a expectativa de maior desemprego e queda na renda. Como aponta a CNI (Confederação Nacional da Indústria), o índice atingiu em junho deste ano o menor patamar desde setembro de 2005.

Mas, do lado positivo, observa-se que a inadimplência, por enquanto, tem permanecido em patamares relativamente baixos e sem aumentos significativos.

3. Para onde caminham os consumidores agora?

Levando-se em conta os aspectos comentados, fica evidente que o momento exige maior cautela por parte dos consumidores. Por conta disso, começam a surgir algumas tendências no mercado de carros.

Como já comentei anteriormente, no meu trabalho como consultor automotivo pessoal na Carro e Dinheiro, tenho notado o adiamento das trocas e de compras. Muitas pessoas, percebendo que seus carros ainda estão em boas condições (até porque compraram veículos com nível superior ao que estavam acostumadas nos últimos anos), estão optando por manter os atuais por mais tempo.

Também observo alguns consumidores priorizando o pagamento das dívidas já contratadas, como as parcelas do financiamento imobiliário, e evitando novos empréstimos com valores elevados.

Além disso, muitas pessoas estão dando preferência à compra de usados, inclusive algumas que, em condições normais, adquiririam carros zero quilômetro. Esse comportamento tem sido responsável pelo maior aquecimento do mercado de usados quando comparado ao de novos.

Para complementar, sempre é importante lembrar que, para a análise efetiva do custo-benefício na compra de um carro, é importante levar em conta toda a Estrutura de Preços dos Carros no Brasil, considerando todos os impactos financeiros gerados pelos automóveis, desde a compra até a venda.

No caso de financiamento, também merecem atenção redobrada todos os custos envolvidos, que se somarão às elevadas despesas proporcionadas pelos carros.

Conclusão

É inegável que houve excessos na concessão e tomada de crédito para compra de carros nos últimos anos. Esse fator foi bastante relevante para o aumento geral no nível de endividamento, o que reduz a atual capacidade de pagamento para novas aquisições.

Nesse contexto, há vários indícios de que somente alterações significativas no mercado, incluindo novas posturas do governo e fabricantes, poderão mudar essa realidade.

Para tanto, porém, os consumidores também precisam fazer sua parte, escolhendo carros que apresentem melhor custo-benefício e que estejam compatíveis com sua capacidade de pagamento (inclusive quando é necessário o financiamento).

Muitas pessoas me perguntam se é possível comprar carros bons e seguros sem gastar demais. Sem dúvida, dentro das possibilidades do mercado, podemos realizar boas escolhas, com foco no carro e no bolso, mesmo nessa complicada realidade brasileira. Aliás, imagine como é agradável a sensação de ter um carro de qualidade, econômico, bonito e seguro sem precisar realizar uma “ginástica financeira” todos os meses.

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Obrigado pela atenção, um grande abraço e até a próxima!

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Foto “Car and money”, Shutterstock.

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