Com a estonteante alta do dólar, por incrível que pareça, começam a surgir casos em que o “preço de compra” de carros zero quilômetro está, na teoria, mais barato no Brasil do que nos Estados Unidos.
Preciso deixar claro algo logo de início: esta é uma comparação extremamente limitada e que se baseia unicamente em valores nominais, sem levar em conta uma série de outros fatores que, obviamente, continuam dificultando cada vez mais a vida dos brasileiros.
Ao longo dos últimos anos tratando do tema envolvendo “carros e finanças” aqui no Dinheirama, já mencionei em diversas oportunidades que tínhamos os carros mais caros do mundo, frisando que isso se aplicava tanto para comprar como para manter.
Com a insana variação cambial que estamos observando, essa realidade está relativamente distorcida no momento, mas ainda assim, evidentemente, os nossos carros permanecem caríssimos em quase todos dos pontos de vista.
Antes de analisar mais detalhadamente essa situação, gostaria de lembrar que, há três meses, publiquei um artigo com o título: “Carros: os preços estão confundindo você” (clique para ler).
O foco era mostrar como, em decorrência do forte aumento da inflação e de outros aspectos relacionados à crise econômica (a qual prefiro chamar de “colapso”), os consumidores estavam perdendo seus referenciais acerca do que era um carro barato ou caro.
O ponto central atual é justamente a perda de referências para comparação quando existem tantas variações relativas nos preços.
Comparação de alguns preços de carros no Brasil e nos Estados Unidos
Com finalidade meramente ilustrativa, a tabela abaixo mostra uma comparação bastante simplificada de preços referentes a alguns modelos globais, isto é, que também são vendidos em países desenvolvidos como os EUA.
A tabela acima traça um comparativo interessante entre os preços de aquisição atualmente praticados. Agora é preciso entender por que isso está ocorrendo, uma vez esse quadro trata apenas de um retrato parcial da realidade.
Inicialmente, vamos analisar alguns pontos gerais referentes aos carros. Embora existam certas semelhanças envolvendo o projeto e aspectos mecânicos, é importante ressaltar que os carros à venda nos Estados Unidos contam com muito mais equipamentos, principalmente em termos tecnológicos e voltados à segurança, como controle de estabilidade e airbags laterais e de cortina.
Além disso, em linhas gerais, normalmente os modelos contam com padrão superior de qualidade construtiva, acabamento e durabilidade.
Agora é preciso frisar que os custos de um carro não devem ser analisados apenas com base no preço de compra. Como tenho defendido, é essencial levar em conta toda a Estrutura de Preços dos carros no Brasil, a qual se fundamenta na ideia de que os impactos financeiros começam no momento da compra, abrangem todo o período de propriedade e terminam apenas na hora da venda, com a depreciação efetiva.
Quando se leva em conta todos esses reflexos financeiros, fica evidente como é caríssimo manter um carro no Brasil. Além disso, os custos relacionados com a manutenção também estão em franca ascensão, por conta da alta da inflação, do dólar e dos juros. Aliás, todos nós temos sentido isso na pele, inclusive na hora de abastecer, pagando um preço estratosférico por combustíveis que, no exterior, estão em queda.
Adicionalmente, as despesas com financiamento (para quem opta por esse caminho), bem como o custo de oportunidade no país, são muito afetados em função do elevado patamar da taxa SELIC atual.
As diferenças entre as rendas dos brasileiros e americanos: o verdadeiro “x” da questão
Retomando a análise sobre a comparação entre os preços de compras dos carros, é importante destacar o aspecto oculto que, na prática, faz com que as diferenças permaneçam imensas e extremamente favoráveis aos consumidores americanos.
Aliás, faço uma pausa neste ponto porque imagino que na sua mente, caro leitor ou leitora, algo provavelmente incomoda neste sentido: “Ok, o preço em dólares pode ter caído, mas isso não muda em nada o fato de que os carros continuam cada vez mais caros por aqui, inclusive porque a minha renda continua em reais”.
Independentemente de ter pensado nisso ou não, é exatamente esse o ponto chave que mantém os carros bem mais inacessíveis por aqui. Apenas para pegar um simples parâmetro, a renda média mensal do trabalhador brasileiro, de acordo com o IBGE, foi de R$ 2.104 em 2014.
Por outro lado, nos Estados Unidos, os salários médios no setor privado foram de aproximadamente $4.270, conforme dados do U.S. Bureau of Labor Statistics. Novamente com finalidade meramente ilustrativa, sem pretensões de rigor técnico, considerando uma cotação do dólar de cerca de R$ 4,10 atualmente, chegaríamos a uma estimativa de renda média de R$ 17.517,00.
Conclusão
Diante do exposto, fica evidenciado o que realmente importa para o dia a dia de cada um de nós: quando comparado com um americano, o brasileiro permanece tendo que trabalhar muito mais horas para adquirir um carro relativamente semelhante.
Com o agravamento do colapso econômico no Brasil e as tendências de novos rebaixamentos do país, é bastante provável que tenhamos a continuidade das tendências de alta do dólar, da inflação, do preço da energia e dos juros. O cenário externo também pode intensificar esses movimentos.
Nesse contexto, há fortes pressões de custos para fabricantes e concessionárias, que tendem a reajustar os preços, mesmo diante das dificuldades nas vendas.
Como os diversos fatores citados apresentam impactos em momentos variados, as tendências não serão lineares e nem simultâneas, o que também vai contribuir para que existam disparidades e dificuldades de comparação para os consumidores. O cenário é extremamente desafiador e as perspectivas complicadas.
Portanto, para quem pensa em trocar ou comprar um carro, é necessário bastante planejamento financeiro e critérios rigorosos, como aqueles que sugiro no meu livro digital, o “Como Escolher o seu Carro Ideal” (clique agora para conhecer), que traz um roteiro completo com todos os passos essenciais para uma decisão de compra consciente, pensando no carro e no seu bolso.
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Obrigado pela atenção, um forte abraço e até a próxima!
Foto “Brazil vs USA”, Shutterstock.