Marlene comenta: “Navarro, sou uma daquelas pessoas que usam muito o cartão de crédito. Tanto que já tive problemas com o excesso de consumo e a falta de dinheiro para pagamento integral da fatura. Passei muito tempo tendo que usar o crédito rotativo, pagando a fatura de forma parcelada. Senti que o valor devido aumentava de forma abusiva. Gosto do cartão porque centralizo os pagamentos e uso os benefícios (milhas, descontos etc.). O que dizer sobre meu caso?”
As discussões relacionadas ao uso do cartão de crédito são sempre bastante acaloradas e frequentemente terminam de forma pouco amistosa. Tudo porque, em muitos casos, o cartão de crédito e seu uso são interpretados de forma incorreta. Para que o texto faça sentido, é importante ressaltar a importância do cartão enquanto ferramenta e meio de pagamento e então abordar suas limitações e implicações na vida dos menos organizados. Leia até o final e entenda porque usar o cartão não é tão simples como parece.
Cartão de crédito vale a pena?
A principal vantagem do cartão de crédito está na possibilidade de se aproveitar sua característica de cobrança futura para adquirir, agora, um produto ou serviço. Ao comprar algo com o cartão, levamos imediatamente o bem para casa e o pagamento só acontecerá na chegada da(s) fatura(s), podendo ainda o valor total ser parcelado, no ato da compra, junto à loja ou prestador de serviço.
Em suma, isso significa consumir antes, pagar depois. Tal constatação deveria ser vista como bastante interessante, já que representa a chance de consumo contínuo, desde que planejado e organizado, aliado a um controle fixo de pagamentos (data de vencimento da fatura). Pense no quanto isso facilita o controle de fluxo de caixa e sua manutenção. Certo, mas não é bem assim que as coisas acontecem, não é mesmo?
Cartão de crédito, uma ferramenta
O que aconteceria se deixássemos uma criança pequena se aventurar com um martelo e alguns pregos? Ela certamente se machucaria, simplesmente porque não está preparada para usar a ferramenta martelo para lidar com o produto prego. Algum problema com a ferramenta em si? Não. E com o produto? Também não. Fica óbvio, até para os que não têm filhos (meu caso), que o problema não é a ferramenta, nem o produto, mas a falta de prática e conhecimento para usá-los.
Ao optar pelo cartão de crédito para realizar um negócio, precisamos estar cientes de que o valor negociado será cobrado e, portanto, precisa estar programado em nosso controle financeiro. O crédito associado ao cartão é parte da ferramenta e não significa dinheiro extra, mas simplesmente poder comprar, consumir e deixar o pagamento para uma data futura – que deverá ser respeitada.
Indivíduos organizados frequentemente centralizam seus gastos no cartão de crédito. Fazem isso por razões simples:
- Porque simplificam seus pagamentos e mantém datas estabelecidas para pagamento de suas despesas, pagando a(s) fatura(s) sempre em dia;
- Porque lançam estas transações em seu caderno (ou planilha) de controle financeiro e mantém à vista o saldo disponível para o restante do mês;
- Porque aproveitam os programas de recompensa (pontos, milhagem ou descontos) e acumulam benefícios depois usados nas férias, em viagens ou mesmo em novas oportunidades de consumo.
“Ah, Navarro, então o cartão de crédito é uma maravilha?”
Não, não é. Longe disso. Como toda ferramenta, o cartão também tem seus problemas. Não por acaso, seu maior atrativo é também sua maior armadilha. As facilidades impostas pelo uso diário do cartão implicam em uma das mais altas taxas de juros cobradas no sistema financeiro mundial. Usar o crédito disponível e não honrá-lo integralmente no vencimento da fatura significa dar início a uma espiral perigosa de endividamento.
Confira uma lista simples dos juros cobrados por alguns dos muitos cartões disponíveis hoje em dia:
Exemplos rápidos
Suponha que você tem uma fatura de cerca de R$ 1.500,00, valor que extrapolou seu orçamento – e você nem percebeu por aproveitar a comodidade do cartão nas compras – e então você decide que pagará, neste mês do estouro, R$ 500,00. O problema é que você está descontrolado e vai continuar gastando, sem conseguir quitar os R$ 1.000,00 devidos nos próximos meses. “Vou tentar parar de gastar e quando tiver dinheiro pago os R$ 1.000,00 que ficaram para trás”, é o que você pensa.
A próxima reflexão passa a ser: “Se pagar um valor mínimo é possível, então é assim que farei até conseguir levantar todo o montante devido”. Então você passa a dever R$ 1.000,00 no chamado crédito rotativo, valor este que será corrigido mensalmente por uma das taxas demonstradas na tabela presente neste artigo. Usemos o exemplo intermediário de 13,42% ao mês. Se você ficar “arrastando” a dívida de R$ 1.000,00 por um ano (12 meses), o valor devido ao final deste período será de R$ 4.581,35. Se deixar rolar e esperar 2 anos (24 meses), o valor subirá para R$ 20.537,68.
Conclusão: usar o crédito rotativo oferecido pelos bancos emissores dos cartões é um dos erros mais perigosos que um cidadão pouco informado pode cometer. Se é esse o seu caso, pare imediatamente de usar o cartão, ligue para o banco e negocie o pagamento do saldo devedor em parcelas – de forma a pararem a cobrança de juros. Se não der certo, faça um empréstimo consignado ou pessoal (CDC) do valor devido, pague a dívida e inutilize seu cartão até que o empréstimo seja quitado – ou para sempre, se for essa a solução.
Como não parar para rever nossas decisões diante de números e casos como esses?
Se quiser simular estes simples cálculos, use a planilha de simulação de juros compostos para endividamento com taxa fixa para ‘n’ períodos que disponibilizo no Dinheirama. A verdade é que o cartão de crédito não é para todo mundo. Porque é simples, é caro. Porque é caro, deve ser motivo de muita análise. O cartão de crédito pode ser seu aliado? Pode. Pode arruiná-lo? Pode. A diferença? Educação financeira!
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