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O cenário econômico vai melhorar em 2016? Não! Entenda e prepare-se!

por Isabella Abreu
3 min leitura
O cenário econômico vai melhorar em 2016? Não! Entenda e prepare-se!

Márcio Antônio Salvato, coordenador do curso de Ciências Econômicas do IBMEC-MG, e Reginaldo Pinto Nogueira Junior, coordenador do curso de Relações Internacionais do IBMEC-MG, apontam suas avaliações para o cenário econômico no próximo ano. Confira:

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Para falar em perspectivas, é necessário primeiro olhar para trás. A economia brasileira apresentou um desempenho muito fraco nos últimos 4 anos (2011-2014), com um crescimento médio de 1,6%a.a., a despeito da inflação média ter ficado acima da meta de 4,5% a.a., com média 6,2% (embora ainda ligeiramente abaixo do teto de 6,5% a.a.).

Soma-se a isto a situação de incapacidade de manter superávits mínimos nas contas públicas, o que pressionou o crescimento da dívida bruta que atingiu 63% do PIB em 2014.

O ano de 2015 já está quase no fim e se analisarmos o biênio 2015-16, incluindo as projeções do Relatório Focus do BACEN, inauguramos um período de forte ajuste recessivo, objetivando a redução da inflação e controle dos déficits fiscal e externo, que por certo trarão consequências desastrosas sobre a taxa de desemprego, redução da renda per capita e da geração de massa salarial, impactando fortemente o consumo, investimento e nível de atividade econômica.

Contudo, este será apenas o início das dores, pois os indicadores apontam para uma lenta retomada do crescimento, com inflação ainda alta até meados de 2017 e pressão sobre o mercado de trabalho até o final de 2018.

Este cenário tenebroso para os próximos anos é fruto da tardia agenda para tratar problemas que já eram fortemente sinalizados na virada de 2013 para 2014, mas o esforço de reeleição mudou a agenda econômica.

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O déficit fiscal de 2014 e o aumento rápido do estoque da dívida bruta conduzem a um cenário de forte necessidade de geração de superávit primário, o que fez o governo rever as políticas de subsídios que foram comuns no período anterior, bem como rever a política de controle de preços administrados (energia e combustíveis).

Essa necessidade de fazer caixa produziu o que chamamos de “choque de oferta”, pois aumentou os custos de produção rapidamente, conduzindo a economia para um cenário de “estagflação”, isto é, aumento da taxa de inflação com estagnação econômica.

Para controlar a inflação e renegociar a rolagem de um estoque de dívida pública maior é necessário subir a taxa de juros, o que gera mais desaquecimento da atividade econômica e menor geração de caixa (menor arrecadação) do governo.

Neste sentido, o esforço de superávit torna-se uma tarefa mais difícil, pois implica em maiores cortes de gastos, que por sua vez geram mais desaquecimento econômico. É um círculo vicioso que produzirá uma forte recessão em 2015, com o PIB decrescendo, segundo o referido Focus, pelo menos 3,1%, ainda assim com inflação de cerca de 10%.

Se o ajustamento ficasse apenas em 2015, poderíamos dizer que o custo do erro de agenda econômica de 2014 seria até suportável, mas a previsão apresentada no Relatório Focus em nov/2015 já aponta para um decrescimento do PIB de 1,9% em 2016.

O cenário é tão ruim que se acumularmos a perspectiva de crescimento do PIB no triênio 2014-16 temos -4,9%, que já é maior que as recessões dos triênios 1929-31 (-4,3%) e 1990-92 (-3,8%), só sendo menor que o triênio 1981-83 (-6,3%).

Situação trágica é para a Produção Industrial que em set/2015 apresentou crescimento de -10,81% acumulado em 12 meses, sem perspectiva de curto prazo para retomada de crescimento.

Diferentemente da crise de 2008 que a produção industrial caia rapidamente, mas os serviços e comércio mantinham-se aquecidos, o acumulado em 12 meses para as vendas do varejo em ago/2015 foi de -6,9%.

A taxa de desemprego já subiu de 6.8% para 8,7% entre janeiro e agosto de 2015 (dados PNAD/IBGE). A inflação acumulada em 12 meses continua acelerando e em outubro/2015 atingiu 9,93%. A taxa de juros (SELIC) subiu de 11,5% em dez/2014 para 14,25% a partir de jul/2015.

O custo de serviços da dívida pública já supera 8% do PIB, o que exige um esforço ainda maior de superávit primário. A taxa de câmbio disparou em 2015 e as avaliações de risco-país subiram junto.

Soma-se a tudo isto uma completa incapacidade de gestão política da crise, com uma trajetória de colisão entre Executivo e Legislativo, em meio a operações da Lava Jato e outras que apontam alto nível de corrupção no país.

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Em meio a tudo isto o cenário mais plausível é uma perspectiva de redução da taxa de inflação a partir do segundo semestre de 2017 e recuperação lenta da atividade econômica no biênio 2017-18, mas com uma taxa de crescimento médio pequena, em torno de 1,5%a.a.

Neste cenário, o mercado de trabalho estará bastante precário até o final de 2018. O cenário pode ser pior se ainda vier desaceleração mais forte da China, combinada com aumento dos juros nos EUA.

O cenário pode ser menos ruim se a combinação de preços de ativos baixos e altas taxas de juros forem suficientes para grande atração de investimentos externos em 2016-17, antecipando a retomada do crescimento, mesmo que ainda com taxas modestas.

Mais opiniões, mesmas preocupações

A seguir, veja o que especialistas esperam sobre os principais componentes que definirão o destino da economia brasileira para o próximo ano.

PIB

O próximo ano será ainda de contração econômica. “Estamos projetando -3,2% para o PIB este ano e -2,0% para 2016. O consumo das famílias ainda deve ter queda na casa de 2,0% em 2016 (após -2,8% este ano) e investimentos queda de 9,0% (após -15,0% este ano)”, avalia Alessandra Ribeiro, economista da Tendências Consultoria Integrada.

O único destaque positivo é o setor externo com aumento das exportações (por causa do câmbio) e queda das importações por causa da contração econômica e também do câmbio.

Inflação

No cenário da Tendência Consultoria, o IPCA deve cair de 9,9% este ano para 6,5%. O principal motivo para a queda é a desaceleração expressiva de administrados, após a correção deste ano. Assim, estes preços devem registrar alta de 8,3% em 2016 ante 17% este ano.

O risco, entretanto, é de inflação um pouco mais alta seja por causa do risco de depreciação mais expressiva do câmbio seja pelo risco de administrados ficarem mais altos por causa de energia elétrica, para a qual é projetada alta de 12% em 2016 após 53% em 2015. O risco para energia é ainda de passivos (do passado) serem repassados ao consumidor.

Juros

Neste contexto, os juros devem seguir altos (em 14,25%) até setembro de 2016, quando o Banco Central deve inicializar um movimento gradual de queda. Assim, a Selic deve atingir 13% ao final de 2016. “O risco, entretanto, caso a inflação em 2016 seja pior que o previsto é o Banco Central não baixar juros”, diz Alessandra.

Já os economistas do Credit Suisse avaliam que o cenário pode ser pior. Além de estimar a manutenção da Selic em 14,25% por todo o ano de 2016, eles acreditam que o cenário para a inflação devido à forte queda do real sugere a possibilidade de o BC subir juros em 2016.

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Câmbio

A expectativa é que a taxa de câmbio deve seguir em depreciação no próximo ano. De acordo com Sidnei Nehme, economista e presidente da NGO Corretora de Câmbio, diante do tamanho do déficit fiscal de 2015 o Brasil é candidatíssimo a ter sua nota de rating rebaixada (downgrade).

“Se isso de fato ocorrer muitos recursos terão que obrigatoriamente deixar o país devido regulamentação dos investidores e outros tantos, até os especuladores, irão juntos. As linhas de financiamentos externas poderão sofrer forte retração, seletividade e encarecimento”, diz Sidnei.

Há ainda o receio a respeito da alta de juro nos Estados Unidos, que certamente provocará a retirada do Brasil de volumes substantivos de recursos que irão para o mercado americano.

Segundo o especialista, o Brasil é considerado um grande risco e não se vislumbra melhora em 2016, portanto continuará vulnerável e com tendência de saída de recursos. “A projeção captada pelo Boletim FOCUS de R$ 4,20/US$ no final de 2016 é absolutamente irrealista, sendo mais provável estar em torno de R$ 5/US$”, projeta Nehme.

Foto “recession”, Shutterstock

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