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Como implantar um programa de coleta seletiva

por Elaine Costa
3 min leitura

Como implantar um programa de coleta seletivaNo artigo “Reciclagem: o que pode e o que não pode”, onde relacionei os resíduos que podem e que não podem ser reciclados, tive o objetivo de tanto incentivar mais pessoas a fazerem coleta seletiva quanto propor a avaliação criteriosa na hora de comprar produtos que se transformam em resíduos. Mas, diante das situação presentes no nosso dia-a-dia, ter essa informação pode não ser suficiente para conseguirmos fazer reciclagem, principalmente no caso de locais onde convivem muitas pessoas, como empresas, condomínios e escolas.

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Quando falamos de organizações com muitas pessoas envolvidas, estamos automaticamente falando de uma diversidade de valores individuais. Alguns aprenderam desde cedo a importância de jogar o lixo do no local certo ou de evitar desperdícios. Outros ainda precisam despertar para essas questões. Por essa razão, a implantação de um programa de coleta seletiva precisa ser tratada como um projeto[bb]: com um bom planejamento, execução e monitoramento.

Assim, para aqueles que desejam começar um projeto de reciclagem mas não sabem como, elaborei um roteiro detalhado com os principais aspectos que precisam ser levados em conta. Como você vai perceber, acabei focando mais em implantações para organizações.

Tenho percebido que programas de coleta seletiva ainda são tabu para muitas empresas. Uma razão pode ser o pensamento que reciclagem serve apenas para salvar árvores. Quando falamos de coleta seletiva, precisamos pensar nos três “Rs” dos resíduos – reduzir, reutilizar e reciclar.

Isso significa que primeiro reduzimos a geração, reflexo da diminuição do desperdício, reutilizamos os materiais em bom estado, o que evita a compra de itens novos e, por fim, reciclamos os resíduos que não podem ser usados. Assim, de forma simplista, fazer um programa de coleta seletiva é bom para preservar o meio ambiente e para reduzir custos.

1. PLANEJAMENTO
Essa é a etapa que antecede a implantação do programa de coleta seletiva e não deve ser desconsiderada. Um bom planejamento[bb] evita muitos problemas.

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1.1. Pesquise as opções que você tem em relação a pontos de destinação
Caso não haja coleta seletiva no seu município, pesquise cooperativas de reciclagem e outras entidades que recebem o lixo. Quanto mais perto do ponto de geração, mais fácil se torna separar e destinar os resíduos.

1.2. Avalie os pontos que geram resíduos
Em casa, o ponto mais usual é a cozinha, uma vez que acabamos acumulando boa parte dos resíduos da casa próximo a ela (não estou considerando o lixo orgânico gerado no banheiro nesse momento). Assim, é comum estabelecer os recipientes para separação dos resíduos nesse ponto.

Já no caso de empresas, temos vários pontos de geração. Aqui vou comentar mais sobre a questão do papel, que é o principal resíduo em escritórios. A melhor prática que já vi para reciclagem no ambiente de trabalho foi acabar com a lixeira individual e ter um ponto de coleta por setor. Isso é o ideal, pois evita, por exemplo, que um copinho de café acabe sobre uma folha de papel, tornando-a inadequada para reciclagem.

Mas a técnica a ser usada depende muito da maturidade da equipe. Se o pessoal estiver comprometido em separar os papéis usados para reaproveitamento (blocos de rascunho, por exemplo) ou reciclagem, então ter uma lixeira individual não fará diferença. Mas cabe ressaltar que o papel para reciclagem deve estar limpo, sem gorduras.

No caso de condomínios, a briga costuma ser feia. Conheço muita gente que reclama da dificuldade em implantar a coleta seletiva no seu condomínio. Isso ora porque exige algum investimento[bb], ora porque as pessoas ainda acreditam que o seu lixo é problema dos outros. Não quero aqui gerar polemica, mas o lixo que geramos é problema exclusivamente nosso.

Mesmo com a nova lei de resíduos sólidos, que obriga o gerador a dar destino ao produto embalagens ao final do consumo, ainda precisamos fazer a nossa parte. Ou seja, ainda precisamos separar o lixo reciclável. Assim, em condomínios o ideal é que existam pontos dimensionados para a população de cada edifício. Não adianta ter quatro coletores tipo papeleira na portaria. A desorganização desestimula a adesão e, em pouco tempo, os coletores estarão sem uso.

1.3. Determine o que separar e como
Dependendo do seu projeto e quantidade de lixo esperada, talvez seja preciso algum investimento para preparar o espaço de separação e armazenagem. Em geral, o mais indicado é ter um recipiente para cada tipo de material. Assim, verifique o espaço disponível e avalie quanto será necessário investir para torná-lo adequado.

Cabe ressaltar que enquanto papel, plástico, vidro e metal são comumentes separados para a coleta seletiva, o óleo de cozinha e resíduos orgânicos podem ser tratados de forma diferenciada. Isso é, o óleo de cozinha pode ser transformado num excelente sabão para limpeza geral.

Já o lixo orgânico pode ser compostado e transformado em adubo. Reaproveitar esse resíduo é uma excelente contribuição ao meio ambiente, principalmente porque os nutrientes que antes eram destinados à coleta comum passam a se reintegrar à terra, melhorando a qualidade da mesma para as plantas.

1.4. Determine a sistemática para destinação dos resíduos
Isso significa ter claro quando, como e onde separar ou processar os resíduos. Por exemplo, no caso de não haver coleta seletiva no município, uma opção pode ser acumular o material e levá-lo para uma cooperativa de reciclagem. Nesse caso, é preciso ter definido o local para guardar os resíduos, como será feita a separação, qual será a frequência de descarte e quem ficará responsável por ele.

1.5. Analise a melhor forma de mobilizar as pessoas
Por melhor que seja a iniciativa, sem a participação das pessoas ela estará fadada ao fracasso. Assim, é preciso convencer as pessoas da importância de fazer reciclagem[bb], incluindo o que cada uma ganha com isso. Apesar de todos nós termos um espírito altruísta, é quase impossível mantê-lo ativo o tempo todo. Por essa razão, precisamos de várias razões que nos levem a fazer o que é certo.

Em alguns países da Europa, por exemplo, um pai ensina ao filho sobre como fazer reciclagem não só porque é o correto, mas principalmente em razão das pesadas multas para a destinação inadequada de resíduos. Mas, enquanto não tempos leis e fiscalização nesse sentido, o ideal é descobrir razões que motivem as pessoas a fazer reciclagem.

No meu trabalho, tínhamos uma grande dificuldade em mobilizar o pessoal para separar o papel usado. Depois de muita briga, percebi que se transformasse esse papel em algo útil, talvez o pessoal se interessasse em ajudar. Um colega separou uma boa quantidade de papel e mandamos fazer bloquinhos de rascunho no tamanho de 1/4 do papel sulfite. Dito e feito! Agora o pessoal separa todo papel em condição de ser reutilizado.

Gincanas e jogos são boas opções para mobilizar as pessoas no trabalho e até em condomínios. As regras precisam ser claras e é melhor fazer a pontuação por equipe. Além disso, o prêmio precisa estar alinhado ao projeto, mas não precisa ser algo de grande valor. O importante é reconhecer o esforço do grupo.

O mais interessante nesse tipo de atividade é que ela pode ser usada para fomentar outro tipo de objetivo, como melhorar o trabalho em equipe, o ambiente organizacional ou a imagem da empresa junto à comunidade. Assim, fica mais fácil até de conseguir a aprovação do programa de coleta seletiva junto à chefia.

1.6. Estabeleça métricas
Quem não mede, não gerencia. Por isso, é importante estabelecer métricas desde o começo do projeto, mesmo que a reciclagem seja feita em casa. Por exemplo, podemos não saber ao certo a quantidade de resíduos gerados ao mês. Dessa forma, é muito mais difícil estabelecer uma meta para reduzir a sua geração. Assim, conhecer o quanto e o que se gera deve ser a primeira meta.

Junte toda a pesquisa feita nos itens anteriores e monte um projeto para apresentar à direção.
Sem um alinhamento de gestão, não existe espaço para inserir a conscientização necessária ao programa. Também não haverá recursos financeiros disponíveis para se promover as ações de mobilização. Assim, projetos que envolvem muitas pessoas precisam de apoio e autorização. Mas lembre-se que a sua ação voluntária não precisa.

Na verdade, adotar o hábito de avaliar o lixo gerado e agir em relação a isso é um ato de cidadania que serve de exemplo para as outras pessoas. Como bem disse Alexandre Garcia (a matéria você pode ver aqui), nós temos que fazer a nossa parte porque somos cidadãos e não por medo de multas ou repreensões.

2. IMPLANTAÇÃO
Por mais divulgada que esteja a importância da reciclagem, a resistência das pessoas ainda é muito grande. Assim, é preciso ter em mente que, ao se comprometer com o projeto, assumir atividades extras será inevitável.

2.1. Monte a estrutura e sinalize
Conforme planejado e orçado, monte o espaço a ser usado para a separação e guarda dos resíduos. Invista também em sinalização e opte sempre por uma linguagem positiva. Ou seja, prefira escrever “Jogue o lixo no recipiente ABC” a “Não jogue lixo neste local”. A Neurolinguística nos ensina que ignoramos a palavra “não” e só percebemos a mensagem que a segue. É a história do “NÃO pense num elefante rosa com bolinhas vermelhas”. Pensou? Pois é.

2.2. Estabeleça responsáveis pelas rotinas de separação, organização e destinação
Nessa fase é importante definir os responsáveis por essas atividades, evitando que o processo acabe se descontinuando por falta de ação. Lembre-se de deixar alguém responsável também por medir a quantidade de lixo que esta sendo destinada.

2.3. Inicie as ações de mobilização
Convide as pessoas para participar das atividades que envolvem a reciclagem[bb], tais como organizar o espaço onde serão armazenados os resíduos, ajudar a montar as composteiras etc. A participação nessas atividades ajuda a aumentar o interesse pela reciclagem. É o momento também de dar início às outras atividades, como gincanas e jogos.

2.4. Convide pessoas-chave para começar o processo
Se os gerentes, supervisores e coordenadores (ou professores, coordenadores e o pessoal da secretaria no caso de escolas) servirem de exemplo, será muito mais fácil motivar as pessoas a participar.

3. VERIFICAÇÃO
A avaliação dos resultados precisa ser intensa. No início, o ideal é verificar semanalmente. Muitas falhas são identificadas logo nas primeiras semanas, permitindo uma melhoria no processo em pouco tempo. Verifique todos os aspectos do projeto, o que inclui as condições da separação, a organização do espaço, a frequência da destinação e a medição dos resíduos. Ouça também os participantes para identificar oportunidades de melhoria.

4. CORREÇÃO E MELHORIA
Na fase de planejamento não comentei sobre fazer um trabalho intenso quanto à geração. Apenas sugeri a identificação dos pontos e planejamento da coleta. Agora, conhecendo o quanto e o que se gera, podemos iniciar um trabalho de conscientização das pessoas quanto à geração.

A falta de números costuma ser um válvula de escape para aqueles que não desejam mudar já que as estatísticas existentes, no máximo, mostram os números do lixo por cidade. Mas, quando conhecemos nossas próprias métricas o problema se torna real, culminando até na identificação de uma cultura de desperdício dentro da organização.

Em empresas isso é muito útil. Papéis e copos descartáveis, por serem fornecidos pela organização, às vezes sofrem com a falta de consciência no uso responsável. Dessa forma, estes são dois itens ótimos para serem objeto de redução através de campanhas de uso responsável.

Para os papéis, sugiro as seguintes ações:

  • Coloque no email de cada colaborador uma mensagem atentando sobre a necessidade de se imprimir. Adote também essa prática no seu email pessoal;
  • Configure todas as impressoras para imprimir frente-e-verso;
  • Coloque um recipiente em local visível para a separação dos papéis com uso em apenas um dos lados. Faça blocos de rascunho e distribua para a equipe;
  • Coloque adesivos nas impressoras chamando a atenção para a importância do uso consciente do papel[bb].

No caso dos copos descartáveis, sugiro:

  • Fornecer canecas nominais para cada colaborador, conscientizando gerentes e supervisores a servirem de exemplo. Essa é outra prática que pode ser adotada voluntariamente;
  • Diminua os pontos com copos descartáveis disponíveis. Uma vez que cada pessoa tem sua caneca, não precisa de copo para tomar água ou café. Deixe os copos descartáveis apenas onde circulam visitas.

Visando o processo de melhoria contínua, outra sugestão é adotar a realização de conversas informais com a equipe. Nem reuniões, nem treinamentos, esses diálogos são momentos em que as pessoas se reúnem, seja no escritório, no jardim ou sala de visitas, para conversar sobre assuntos que não tratem diretamente dos resultados da empresa.

Por isso, são uma ótima ferramenta para tratar de assuntos ligados ao trabalho em equipe, qualidade e segurança no trabalho, bem como nossas relações com o meio ambiente. Assim, entre outros assuntos, os pontos de melhoria no programa de coleta seletiva podem ser tratados nessas conversas informais, enfatizando que a colaboração de cada um é fundamental para se alcançar os objetivos.

Considerações
Como comentei no começo, foquei bastante a questão da coleta seletiva no ambiente de trabalho. Em casa, a decisão está em nossas mãos. Mas, em locais onde convivem várias pessoas, muitos são os aspectos que precisam ser trabalhados. Quem já participou de um processo desses sabe como pode ser trabalhoso implantar coleta seletiva.

Mas ver como as pessoas mudam de comportamento com um pouco de insistência e informação qualificada é muito gratificante. Você já participou por um processo desses? Se sim, como foi a sua experiência?

Crédito da foto para freedigitalphotos.net.

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