A esta altura, você que é assalariado já está com as mãos no seu 13º salário. O dia 30, data limite para o pagamento sem desconto do INSS e IR, passou e as ruas ganharam um movimento típico. Trata-se de uma injeção de R$ 102 bilhões na economia nacional. Muitos consumidores já começaram a gastar o esperado dinheiro extra com compras de Natal, dívidas atrasadas, reforma da casa, viagem, satisfação de alguns desejos e consumo em geral. Você, o que fez ou planeja fazer com o dinheiro do 13º salário? Pretende gastá-lo? Prefere investi-lo?
Segundo uma pesquisa da Consultoria GfK com 400 pessoas de diferentes classes de renda, em 12 regiões metropolitanas do país e publicada na edição de 29/11 da Folha de S. Paulo, 60,6% dos entrevistados usarão o 13º salário para o pagamento de dívidas; 40,2% pretendem comprar presentes, 21,4% viajar, 38,3% guardar o dinheiro, 17,2% reformar a casa e 11,8% não definiram. As respostas não são excludentes, por isso os percentuais somados ultrapassam 100%.
Quanto questionados sobre o destino dos recursos do 13º salário, os entrevistados se comportaram da seguinte maneira:
- 42% do dinheiro recebido serão usados no pagamento de dívidas;
- 20% serão poupados;
- 14% serão destinados para a compra de presentes;
- 9% dos recursos serão destinados ao objetivo de viajar;
- 8% irão para a reforma da casa;
- 6% serão alocados em outros fins.
Observando os resultados do levantamento, fica fácil concluir que o endividamento continua sendo o principal foco de atuação da população em relação ao 13º salário. Endividamento além da conta requer todo e qualquer dinheiro extra (ainda que parte dele). Uma conclusão simples merece atenção: o brasileiro se endivida demais durante o ano porque conta com o 13º salário no mês de novembro.
“Que bom que as pessoas pretendem honrar seus compromissos e diminuir o percentual de endividamento”, escuto com frequência. Pois é, mas péssimo que isso não resolve nada, só cria uma sensação temporária de alívio e tranquilidade. A razão é simples: o 13º salário perdeu a graça, é dinheiro certo, tomado como parte da renda das muitas famílias brasileiras. É sinal de mais consumo, mas também de mais dívidas.
Proponho algumas reflexões sobre o uso do 13º salário:
Aproveite a ocasião para iniciar seu planejamento financeiro. Se seu principal objetivo é livrar-se do endividamento, aproveite a motivação para colocar em prática o controle de suas receitas e despesas. Ao fazer um levantamento de suas dívidas, algo básico para quem quer pagá-las, já comece seu orçamento. Vamos lá, saia da zona de conforto, enfrente a vida de cabeça erguida. Lembre-se de negociar muito bem suas dívidas: se você tem dívidas caras (juros altos), pague-as primeiro. Se tiver muitas dívidas, de muitos tamanhos, elimine as muitas de menor valor. Experimente ler meu livro, “Vamos Falar de Dinheiro?” (Ed. Novatec), onde dedico um capítulo especial ao endividamento.
Considere a criação de uma reserva de emergência. O dinheiro extra pode lhe proporcionar boas horas de consumo no shopping, mas também tranquilidade em casos de problemas familiares ou desemprego. Destine parte do 13º salário para uma poupança de emergência. Se ainda não tem nenhum capital para eventualidades, é hora de começar a se preocupar com isso. Problemas acontecem, é melhor estar preparado. A aleatoriedade da vida está mais presente do que você imagina, como nos alerta Nassim Taleb no ótimo livro “Iludido pelo Acaso” (Ed. Record).
Lembre-se do Ano Novo. Dezembro é sinônimo de muita festa, presentes, virada de ano, promessas e por ai vai. Janeiro todo mundo quer viajar, curtir as férias. E todo ano é a mesma coisa: vem IPVA, IPTU, matrícula da faculdade, gastos com material de estudo e outras despesas típicas. Sabemos que todo ano a história se repete, mas sempre reclamamos que falta dinheiro. Ora, você tem a chance de se preparar para estes gastos. A decisão é sua.
Priorize a qualidade de vida. Muita gente acaba usando o 13º salário para comprar presentes para a família inteira, amigos e conhecidos, mas se esquece de presentear quem mais importa: a si mesmo e sua família. Vale a pena satisfazer também um desejo pessoal, destinar parte do dinheiro para um sonho da família e tentar ser feliz ao lado de quem se ama. Lembre-se de você, sua esposa(o) e filhos. Abra espaço para a frugalidade, para ser feliz sem medir-se em números, bens e patrimônio. Sugiro a leitura de “Questões Fundamentais da Vida” (Ed. Sextante), de A. Roger Merrill.
Sustente a disciplina e invista. O hábito transforma, portanto aproveite que uma boa soma de dinheiro caiu na conta e invista. Nem que seja 10% ou pouco mais, guarde uma parte do 13º salário como parte de sua jornada rumo à independência financeira. A melhor forma de garantir um futuro melhor é se preparando para sua chegada. A leitura de “Investimentos Inteligentes” (Ed. Thomas Nelson Brasil), de Gustavo Cerbasi, pode ajudá-lo.
Como sempre faço questão de ressaltar, não há certo e errado na nossa relação com o dinheiro. Nossas decisões têm grande motivação emocional e são frequentemente dirigidas por nosso atual momento, pelas circunstâncias à nossa volta. No final, nossas ações são determinadas por nossas prioridades, sua real significância e nossa capacidade de respeitá-las.
O que você vai fazer com o seu 13º salário é problema seu. O dinheiro é seu! Que bom, não é mesmo? Ser responsável consigo mesmo e com quem você ama é assumir essa responsabilidade com afinco e aceitar as consequências. Você decidiu por esse ou aquele caminho. Se não tomou partido nenhum, também fez sua escolha. Você é o agente de mudança. Sempre.
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