Home EconomiaBrasil Condição financeira no Brasil pode piorar repentinamente, diz FMI

Condição financeira no Brasil pode piorar repentinamente, diz FMI

Situação no País lembra a do Reino Unido em 2022, quando medidas fiscais levaram ao pedido de renúncia da primeira-ministra

por Gustavo Kahil
3 min leitura
Brasil FMI

O FMI (Fundo Monetário Internacional) alertou, nesta sexta-feira (17), que a situação fiscal do Brasil neste momento lembra a vivida pelo Reino Unido em 2022, e que resultou no pedido de renúncia da primeira-ministra Liz Truss. Ela ficou apenas 44 dias no cargo, tornando-se a primeira-ministra com o mandato mais curto da história do país. E por quê? Medidas de estímulo fiscal muito parecidas com as implementadas pelo governo Lula.

O Conselheiro Econômico e Diretor de Pesquisa do FMI, Pierre-Olivier Gourinchas, avalia que, para vários países, os esforços de política fiscal de 2024 foram adiados ou insuficientes para estabilizar a dinâmica da dívida.

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“Agora é urgente restaurar a sustentabilidade fiscal antes que seja tarde demais e construir amortecedores suficientes para lidar com choques futuros que podem ser consideráveis ​​e recorrentes”, ressalta o economista em seu texto “À medida que um ciclo termina, outro começa em meio à crescente divergência”.

Para Gourinchas, atrasos adicionais podem desencadear uma espiral preocupante em que os custos dos empréstimos continuam aumentando à medida que os mercados perdem a confiança, aumentando ainda mais as necessidades de ajuste.

“Tensões recentes nos mercados financeiros do Brasil, como a reação ao mini-orçamento do Reino Unido de setembro de 2022, ressaltam como as condições de financiamento podem se deteriorar repentinamente”, alerta.

Redução nas transferências

Segundo ele, embora qualquer consolidação fiscal considerável deva pesar sobre a atividade econômica, os países devem tomar cuidado especial para preservar o crescimento tanto quanto possível ao longo do caminho da consolidação, por exemplo, concentrando o ajuste na redução de transferências ou subsídios não direcionados em vez de gastos com investimentos do governo.

“Para conseguir isso — e ajudar a superar diferenças estruturais persistentes que impulsionam divergências de crescimento — deve haver foco renovado em reformas estruturais ambiciosas para impulsionar diretamente o crescimento. Isso inclui reformas direcionadas para melhor alocar recursos, aumentar as receitas do governo, atrair mais capital e promover a inovação e a competição”, aponta Gourinchas.

Londres Reino Unido
(Imagem: Robert Bye/ Unsplash)

O que aconteceu no Reino Unido em 2022?

A crise do mini-orçamento do Reino Unido em setembro de 2022 refere-se a uma turbulência econômica e política significativa desencadeada por um controverso anúncio de política fiscal feito pela então primeira-ministra Liz Truss e pelo chanceler Kwasi Kwarteng. A iniciativa fazia parte de um plano para estimular o crescimento econômico por meio de cortes de impostos agressivos e outras medidas, mas acabou tendo um efeito contrário. Aqui está uma visão geral dos principais elementos e desdobramentos:

Anúncio do mini-orçamento. Em 23 de setembro de 2022, o governo Truss apresentou um “mini-orçamento” que incluía: £45 bilhões em cortes de impostos sem financiamento definido, incluindo a eliminação da alíquota máxima de 45% do imposto de renda para os mais ricos. A reversão de aumentos planejados no imposto corporativo e nas contribuições para o seguro nacional. Medidas para estimular o crescimento econômico sem um plano claro de financiamento ou avaliações detalhadas de impacto econômico. Um congelamento nas contas de energia para ajudar as famílias com os altos custos de energia, aumentando os gastos do governo.

Reação do mercado. O anúncio, sem uma estratégia clara de financiamento, assustou os mercados financeiros. Os investidores temeram um aumento insustentável no endividamento do governo. A libra esterlina despencou para um nível historicamente baixo em relação ao dólar americano, chegando brevemente a US$ 1,03. Os rendimentos dos títulos do governo do Reino Unido (gilts) dispararam, aumentando os custos de financiamento do governo e desestabilizando os mercados financeiros.

Impacto nos fundos de pensão. A alta nos rendimentos dos gilts desencadeou chamadas de margem para fundos de pensão que utilizavam estratégias de investimento baseadas em passivos (LDI). Isso forçou os fundos a vender gilts, criando um ciclo de queda nos preços dos títulos. O Banco da Inglaterra teve que intervir, comprando gilts para estabilizar o mercado e anunciando um programa temporário de compra de títulos.

Consequências políticas. O mini-orçamento foi amplamente criticado por ser desconectado das realidades econômicas e por favorecer os mais ricos. Após a repercussão negativa, Kwarteng reverteu algumas medidas, incluindo a eliminação da alíquota de 45% do imposto, mas isso não foi suficiente para restaurar a confiança. Em 14 de outubro de 2022, Kwarteng foi demitido do cargo de chanceler, sendo substituído por Jeremy Hunt. Hunt reverteu quase todas as medidas do mini-orçamento, desmantelando efetivamente a agenda econômica de Truss.

Renúncia de Liz Truss. A crise prejudicou severamente a credibilidade e a autoridade de Truss, tanto dentro de seu partido quanto perante o público. Ela renunciou em 20 de outubro de 2022, após apenas 44 dias no cargo, tornando-se a primeira-ministra com o mandato mais curto da história do Reino Unido.

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