Crise é oportunidade! Como foi possível observar desde o início da crise, ações de todos os setores tiveram quedas fortíssimas e levaram os preços a patamares relativos extremamente atrativos. As ações das empresas de construção civil foram particularmente penalizadas. Uma enxurrada de más notícias minou a expectativa dos investidores. As linhas de financiamento para essas empresas se tornaram caras e escassas, dificultando suas operações e colocando incertezas nos próximos exercícios.
No lado da demanda, há incertezas sobre o quanto crescerá o país em 2009 e qual será a disponibilidade e preços do crédito para pessoas físicas. Para piorar o cenário, o fato de a crise ter tido início no setor imobiliário americano, aliado ao fato de que boa parte dos investidores do setor é composta de estrangeiros, afetou ainda mais o desempenho desses papéis na bolsa de valores brasileira.
Na tabela 1, é possível verificar o quanto as ações das principais empresas do setor caíram em 2008:
Esse setor foi tão penalizado que muitas empresas estão sendo negociadas muito abaixo de seu valor de mercado. Um bom indicador fundamentalista para analisar esta característica é o P/VP (Preço / Valor patrimonial). Esse indicador relaciona o preço em que uma ação está sendo negociado e seu valor patrimonial, buscando demonstrar o quanto o mercado está disposto a pagar de ágio ou deságio pelo papel em relação ao quanto a empresa realmente vale.
Se uma empresa tem valor patrimonial de R$ 2,00 por ação e está sendo negociada a R$ 4,00, podemos dizer que seu P/VP é de 2x, ou seja, ela está sendo negociada pelo dobro do que seu balanço demonstra que ela vale. Já se estiver sendo negociada a R$ 1,00, podemos dizer que seu P/VP é de 0,5x, ou seja, está sendo negociada pela metade de seu preço.
Voltando para o setor imobiliário, a crise levou os preços dessas empresas a atrativos valores de P/VP, conforme relacionado na tabela 2:
Assim, as empresas desse setor podem ser uma ótima aposta para compor a parcela de Small Caps de uma carteira de longo prazo que esteja sendo montada agora. No começo do ano, antes da crise tomar proporções maiores no mercado de ações, o P/VP dessas empresas girava entre 1,94 (empresa com menor P/VP) e 3,58 (empresa com maior P/VP). Em 2007, chegaram a ser negociadas ainda mais caras.
Quando a crise se dissipar e bons indicadores começarem a aparecer, é bem provável que essas ações comecem uma espiral de ganhos muito atrativos, voltando a serem negociadas com algum ágio e proporcionando bons retornos aos que aproveitaram o momento de compra.
Entretanto, para escolher a empresa que vai compor esse nicho de sua carteira, cabem alguns cuidados típicos do setor:
- Escolha empresas com boa diversificação no estoque de terrenos, a concentração em uma única região pode trazer maior risco ao negócio;
- Dê atenção à disponibilidade financeira que a empresa possui para terminar seus atuais empreendimentos e para lançar os novos;
- Empresas com empreendimentos focados nas classes baixa e média são as menos impactadas pela crise, que afetou primeiramente o segmento de alto padrão. Além disso, o governo vem demonstrando claros sinais de que flexibilizará o que for necessário para manter aquecido o segmento, já que ele é base para toda uma cadeia de atividades;
- Por ser um setor complexo e de projetos de longo prazo, o histórico de bons resultados da empresa é decisivo na escolha dos papéis.
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Felipe Augusto Russo é investidor e autor do livro de análise fundamentalista “Avaliando Empresas, Investindo em Ações” (Editora Novatec).