A taxa Selic foi elevada em 100 pontos-base, a 13,25% ao ano, mostra um comunicado divulgado pelo Banco Central nesta quarta-feira (29). A primeira reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) sob a liderança do novo presidente Gabriel Galípolo foi amplamente esperada pelo mercado, principalmente em relação ao tom do comunicado e as perspectivas para as próximas alterações no juro.
Na última reunião em dezembro, quando o juro também subiu 100 p.b., o BC disse que antecipava novos ajustes da mesma magnitude nas próximas duas reuniões. Agora, o comunicado só aponta para mais uma elevação, enquanto reforça que “a magnitude total do ciclo de aperto monetário será ditada pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta.”
“Assim, em tese, o BC tenta se desamarrar de novas altas robustas, mas ainda reitera o firme compromisso com o regime de metas de inflação. O que acabou ficando desalinhado com a ação dovish e o discurso hawkish foram as expectativas condicionais da autoridade”, opina Étore Sanchez, economista da Ativa Investimentos.
“O ambiente externo permanece desafiador,” aponta o Copom, citando a política econômica dos EUA como fator central. Dúvidas sobre o ritmo de desaceleração e desinflação global aumentam a incerteza sobre a postura do Fed. Bancos centrais globais mantêm foco na convergência da inflação às metas, mas pressões nos mercados de trabalho persistem. “O cenário externo segue exigindo cautela por parte de países emergentes,” reforça o Comitê.
O cenário doméstico apresenta dinamismo, com indicadores de atividade econômica e mercado de trabalho resilientes. Contudo, a inflação cheia e as medidas subjacentes seguem acima da meta, com alta nas divulgações recentes. “As expectativas de inflação para 2025 e 2026 elevaram-se de forma relevante,” destacando 5,5% e 4,2%, respectivamente. Essa desancoragem exige uma política monetária mais contracionista.
Persiste uma assimetria altista no balanço de riscos, com destaque para desancoragem prolongada das expectativas de inflação e maior resiliência nos serviços. Outro risco é a conjunção de políticas econômicas com impacto inflacionário maior, como câmbio depreciado. Entre os riscos de baixa, estão desaceleração doméstica mais acentuada ou menor inflação global. “Esses fatores exigem monitoramento contínuo,” afirma o Copom.
O Comitê acompanha com atenção os impactos da política fiscal, que seguem influenciando preços de ativos e expectativas dos agentes. “A percepção sobre o regime fiscal e a sustentabilidade da dívida impacta os preços de ativos,” reitera o Copom. Essa percepção contribui para uma dinâmica inflacionária adversa, exigindo ajustes monetários para mitigar os riscos fiscais e preservar a estabilidade econômica.
A decisão foi unânime, com votos favoráveis de Gabriel Muricca Galípolo (presidente) e outros membros do Comitê. O Copom reforça seu compromisso com a meta inflacionária, destacando que a magnitude do ciclo de aperto será ditada pela dinâmica da inflação. “A evolução dos componentes sensíveis à atividade econômica e à política monetária será crucial,” conclui o relatório, reiterando vigilância sobre os riscos identificados.
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Veja o que mudou no comunicado do Copom
Alterações no Cenário Externo
Trechos Modificados:
- Em 11/12/2024: “O ambiente externo permanece desafiador, em função, principalmente, da conjuntura econômica nos Estados Unidos.”
- Em 29/01/2025: “O ambiente externo permanece desafiador em função, principalmente, da conjuntura e da política econômica nos Estados Unidos.”
Comentário:
A inclusão de “política econômica” amplia o escopo dos fatores externos considerados pelo Copom, destacando maior atenção às decisões do Fed e seus impactos globais.
Cenário Doméstico e Inflação
Trechos Excluídos:
- Em 11/12/2024: “com destaque para a divulgação do PIB do terceiro trimestre, que indicou abertura adicional do hiato.”
Trechos Modificados:
- Em 11/12/2024: “A inflação cheia e as medidas subjacentes têm se situado acima da meta para a inflação.”
- Em 29/01/2025: “A inflação cheia e as medidas subjacentes mantiveram-se acima da meta para a inflação e novamente apresentaram elevação nas divulgações mais recentes.”
Trechos Inseridos:
- Em 29/01/2025: “As expectativas de inflação para 2025 e 2026 apuradas pela pesquisa Focus elevaram-se de forma relevante e situam-se em 5,5% e 4,2%, respectivamente.”
Comentário:
A exclusão da menção ao PIB reflete uma mudança de foco para indicadores mais imediatos, como inflação e mercado de trabalho. A ênfase nas expectativas de inflação para 2025 e 2026 reforça preocupações com a desancoragem prolongada.
Riscos para a Inflação
Trechos Modificados:
- Em 11/12/2024: “Entre os riscos de baixa, ressaltam-se (i) uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada.”
- Em 29/01/2025: “Entre os riscos de baixa, ressaltam-se (i) impactos sobre o cenário de inflação de uma eventual desaceleração da atividade econômica doméstica mais acentuada do que a projetada.”
Comentário:
A substituição de “global” por “doméstica” reflete uma preocupação crescente com o impacto interno da política monetária e fiscal sobre a inflação.
Política Fiscal e Impactos
Trechos Excluídos:
- Em 11/12/2024: “A percepção dos agentes econômicos sobre o recente anúncio fiscal afetou, de forma relevante, os preços de ativos e as expectativas dos agentes, especialmente o prêmio de risco, as expectativas de inflação e a taxa de câmbio.”
Trechos Modificados:
- Em 11/12/2024: “Avaliou-se que tais impactos contribuem para uma dinâmica inflacionária mais adversa.”
- Em 29/01/2025: “A percepção dos agentes econômicos sobre o regime fiscal e a sustentabilidade da dívida segue impactando, de forma relevante, os preços de ativos e as expectativas dos agentes.”
Comentário:
A exclusão da menção específica ao “anúncio fiscal” sugere que o impacto já foi incorporado ao diagnóstico. O novo texto enfatiza a sustentabilidade fiscal de longo prazo.
Perspectivas Futuras e Ajustes
Trechos Modificados:
- Em 11/12/2024: “Diante de um cenário mais adverso para a convergência da inflação, o Comitê antevê, em se confirmando o cenário esperado, ajustes de mesma magnitude nas próximas duas reuniões.”
- Em 29/01/2025: “Diante da continuidade do cenário adverso para a convergência da inflação, o Comitê antevê, em se confirmando o cenário esperado, um ajuste de mesma magnitude na próxima reunião.”
Trechos Inseridos:
- Em 29/01/2025: “Para além da próxima reunião, o Comitê reforça que a magnitude total do ciclo de aperto monetário será ditada pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta.”
Comentário:
A redução de “próximas duas reuniões” para “próxima reunião” indica maior cautela no planejamento futuro, enquanto a nova frase reitera o compromisso com a meta inflacionária.