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Copom foi mesmo unânime? Conheça o placar verdadeiro

BC se utilizou da alteração do balanço de riscos para não discutir uma alta, que seria natural pela desancoragem da inflação para 2025

por Gustavo Kahil
3 min leitura
Roberto Campos Neto e Lula

Apesar de a decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central de manter o juro em 10,5% nesta quarta-feira (31) ter sido unânime, ao contrário daquela vista duas reuniões atrás, pode-se dizer que o placar está agora em 3 para o time do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, contra 2 do time Lula (representado pelo diretor de política monetária, Gabriel Galípolo).

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A leitura do comunicado revela que o balanço de riscos traçado pelo Banco Central mudou da última reunião para esta, apresentando mais fatores altistas (3) do que baixistas (2), enquanto no encontro passado apontava um empate em 2 a 2.

“Uma mudança relevante no texto foi a alteração no cenário de riscos, que de forma implícita ficou assimétrico, com o Copom adicionando novo risco altista: a combinação das políticas econômicas externa e interna pode ter impacto inflacionário, ou seja, caso o câmbio mais depreciado afete a dinâmica inflacionária”, comenta Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos.

Ele explica que isso decorre de uma situação incômoda vivida pelo Copom, “com o comitê necessitando endurecer o discurso sem sinalizar altas na Selic, precificadas pelo mercado, o que nos parece improvável”.

Ou seja, o BC se utilizou dessa alteração para não discutir uma alta na Selic, “que seria natural dadas as alterações nas projeções do IPCA de 2025 nos cenários base e alternativo”.

Étore Sanchez, economista da Ativa Investimentos, destaca que o termo “interromper o ciclo de queda” foi removido do comunicado, o que pode ser interpretado como uma postura dura.

“Contudo, é difícil acreditar que a decisão foi dura, visto que, mesmo com o avanço das expectativas de inflação, a autoridade manteve a taxa de juros inalterada, bem como sua sinalização”, explica.

Gabriel Galípolo, diretor de política monetária do BC, ao lado do ministro da Fazenda, Fernando Haddad
Gabriel Galípolo, diretor de política monetária do BC, ao lado do ministro da Fazenda, Fernando Haddad (Imagem: Washington Costa/MF)

Jogo de cena no Copom

Esta postura unânime também pode esconder, segundo o analista político Roberto Reis, da Convex Research, um “jogo de cena” com o mercado, principalmente da parte de Galípolo, especulado como o preferido para assumir a presidência do BC a partir de 2025.

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Eles evitam grandes demonstrações de apoio incondicional a Galípolo, preferindo orientá-lo a se alinhar com a maioria do atual Banco Central, elogiando a equipe atual e evitando declarações controversas.

“Essa abordagem mantém Galípolo voando abaixo dos radares, garantindo que sua aprovação seja tranquila e natural”, diz Reis.

A tática de Lula inclui a frase “Vai lá e vota pela manutenção dos juros e eu te anuncio como o novo presidente do BC, eles vão todos acreditar que foi uma escolha técnica”. Para Reis, isso encapsula perfeitamente a estratégia de Lula. “Lula está colocando Galípolo à prova, forçando-o a demonstrar lealdade ao atual Banco Central e a agir de acordo com suas diretrizes para ganhar a confiança do mercado e dos adversários políticos”, afirma ele em um relatório produzido antes da decisão de hoje.

Lula, inclusive, manteve a sua habitual pressão sobre Campos Neto ao fazer uma declaração minutos antes da decisão do Copom.

“… a inflação está controlada, só falta a gente reduzir a taxa de juros, que não depende só do governo, mas que a gente vai conseguir também”, disse durante evento sobre obras de ampliação e aeroportos em Mato Grosso.

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