A discussão central da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de quarta-feira girou em torno de prós e contras de seguir sinalização dada previamente de um corte de juros de 0,50 ponto percentual, disse à Reuters uma fonte com conhecimento do assunto, com a decisão vencedora de uma redução de metade desse valor na taxa Selic explicitando um racha no colegiado.
O grupo dos quatro dissidentes dos nove membros do Copom apoiava visão de que haveria perda de credibilidade ao não seguir o “guidance” prévio, visto que o corte menor de 0,25 ponto que acabou acatado não provocava, dentro do modelo rodado pela autoridade monetária, efeito sobre a inflação considerando os 45 dias até a próxima reunião em junho, afirmou a fonte.
A informação, noticiada inicialmente pelo jornal Valor Econômico nesta sexta-feira e confirmada pela Reuters, mostra que as indicações dadas previamente pelo presidente Roberto Campos Neto desde abril sobre o abandono do guidance não representavam um consenso no Copom. O Banco Central disse que não comentaria o assunto.
Em evento a investidores em Washington em 17 de abril, após dados fortes da inflação dos EUA terem desencadeado uma onda de reprecificação de ativos no mundo inteiro e o governo brasileiro ter afrouxado sua meta fiscal de 2025, Campos Neto abriu o caminho para uma redução no ritmo de cortes.
Ele citou quatro cenários possíveis à frente, entre eles “um sistema em que a incerteza se torna e permanece muito elevada, mas não muda significativamente, o que pode significar uma redução no ritmo”.
Campos Neto consultou informações por escrito ao falar, numa mostra de que o discurso não foi improvisado. Cinco dias depois, de volta ao Brasil, ele foi ainda mais claro em outro evento com investidores: “O que a gente fez na semana passada foi dizer que não temos como dar um ‘guidance’ porque temos uma incerteza muito grande”.
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As falas consolidaram apostas majoritárias em um corte de 0,25 ponto na Selic, embora muitos economistas ainda acreditassem que o BC iria se ater ao guidance devido a sinais benignos da inflação corrente e a uma recuperação parcial das perdas recentes sofridas no câmbio.
Como o grupo que votou pelo corte maior é inteiramente formado por membros indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva à diretoria do BC, o mercado reagiu fortemente na quinta-feira à decisão, sob a leitura de que a falta de consenso prenuncia uma política monetária mais leniente no combate à inflação a partir do próximo ano.
Campos Neto e mais dois diretores indicados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro encerram seu mandato em dezembro, consolidando, a partir daí, uma maioria no colegiado de escolhidos pelo presidente Lula.
A redução da 0,25 ponto percentual da Selic na quarta-feira veio após seis cortes seguidos de 0,50 ponto e levou a taxa básica de juros a 10,50%.
Decisões divididas não são incomuns nos conselhos de bancos centrais ao redor do mundo, e a mudança nas perspectivas econômicas também levou outros BCs a mudar de rumo.
Mas as divisões no banco central do Brasil são especialmente sensíveis porque Lula e seus aliados têm sido críticos veementes da política monetária.