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Crianças e educação financeira: bons hábitos que podem mudar o futuro

por Isabella Abreu
3 min leitura
Crianças e educação financeira: bons hábitos que podem mudar o futuro

Todas as pessoas têm hábitos. Alguns bons, outros nem tanto. Seguindo o pensamento de Aristóteles de que as virtudes são adquiridas pelo exercício, a educadora e palestrante Ana Paula Pregardier desenvolveu o método lúdico-vivencial de formação de hábitos de Educação Financeira.

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Ana Paula PregardierReconhecido cientificamente por entidades acadêmicas do Brasil e da Rússia, o método ajuda a despertar nas crianças a consciência de gastos conscientes.

Ana Paula também é sócia da Intus Forma, empresa de formação e desenvolvimento do potencial individual das pessoas. Sua atuação se dá através da conscientização e formação de hábitos para proporcionar um estilo de vida consciente e sustentável ao indivíduo e à sociedade. Confira como foi nosso papo:

Ana Paula, conte um pouco da sua trajetória e do seu trabalho na Intus Forma.

Ana Paula Pregardier: Sempre fui uma apaixonada pela formação e desenvolvimento de pessoas. Quando adolescente investia meus dias em trabalhos voluntários, geralmente com crianças na situação de vulnerabilidade econômica e social.

O tempo passou, fiz a faculdade de Administração de Empresas e comecei a trabalhar na área bancária. Segui estudando, pós, MBA, outra pós, outro MBA (sim, eu adoro estudar!). Segui trabalhando, até que me encontrava em um bom cargo, bônus, viagens e etc.

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Nesse momento, comecei a dar palestras sobre o uso consciente do dinheiro, educação financeira e economia doméstica pelo banco (foram 14 anos). Continuei estudando, abri a Intus Forma e comecei a dar palestras.

Mas eu sabia que tinha que encontrar um jeito de ligar as duas coisas que amava: desenvolvimento de pessoas (crianças, principalmente) e planejamento financeiro.

Comecei a estudar na cátedra de Psicologia na Universidade Estatal de São Petersburgo, na Rússia, e foi aí que veio a ideia de entender como funcionam nossos hábitos, pois em geral são eles que complicam nossa vida financeira.

Normalmente, as pessoas até sabem onde erram, mas a grande questão é porque não mudam; ou, porque criamos esses hábitos não funcionais. A partir desses estudos que descrevi e formalizei o método lúdico-vivencial de formação de hábitos.

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Qual a importância da inserção da educação financeira ainda na infância?

A. P. P.: A Educação financeira é importantíssima, mas pergunto: Qual educação financeira que queremos? Consciente ou mecanicista? A palavra Finanças (lat. finântia) significa “a definição amigável de uma situação ou contenda”.

Assim, falar Educação Financeira não deveria representar apenas falar de dinheiro, mas sim falar das formas amigáveis, úteis e funcionais de se resolver as coisas.

Aqui cabe uma contextualização importante: com o tempo, o dinheiro começou a ser usado para mediar as trocas e, assim, ele era “a forma amigável” de se resolver muitas situações. Por isso que o significado ficou tão ligado que, hoje, quando pensamos em finanças, pensamos em dinheiro.

Assim, quando pensamos em educação financeira para crianças precisamos pensar também no desenvolvimento de valores, de ética e de incentivar escolhas responsáveis.

Quando falamos de escolhas responsáveis para crianças, falamos por exemplo da criança começar a cuidar para não perder mais o material escolar, pois se ela perder, o papai e a mamãe terão que comprar de novo. E se tiverem que comprar de novo, não sobrará dinheiro para outras coisas.

Ou seja, estou falando de trazer essa educação financeira para o dia a dia da criança, que através do exercício de pensar e escolher começará a ser mais consciente.

Com qual idade devemos iniciar a educação financeira?

A. P. P.: A Educação Financeira faz parte da vida, em todas as idades. A formação dos hábitos financeiros se dá desde muito cedo, pois não falamos apenas de dinheiro. Por exemplo, uma criança que cresce em um ambiente onde todos cuidam das contas e participam juntos das decisões financeiras verá como natural aquele comportamento.

Farei um paralelo para exemplificar: você já tentou entrar em um carro e não colocar o cinto de segurança com uma criança junto? Hoje em dia, se não colocamos o cinto, a criança nos corrige e diz para colocá-lo. Por que isso acontece? Porque desde que nasceu ela aprendeu que era assim, e colocar o cinto para ela é tão natural e óbvio que ela não faz esforço para isso.

Com a tecnologia (celulares, tablets e etc.) acontece a mesma coisa. Elas têm muito mais facilidade que os adultos, já que, desde pequenas, desenvolveram traçados mnésicos (caminhos neuronais e informacionais) que respondem àquilo que aprenderam. Por isso que nós adultos temos muito mais dificuldade de mudar. E é por esse motivo que é importante proporcionar um ambiente de educação financeira para a criança desde cedo.

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Quais as principais lições sobre educação financeira você pode citar?

 A. P. P.: Acredito que as fundamentais são:

  1. O dinheiro é só um meio; um meio para facilitar as trocas, assim como a televisão é um meio de comunicação e o carro um meio de transporte;
  2. O dinheiro não é bom ou ruim, tudo depende do que fazemos com ele (assim como um carro pode ser bom ou uma arma);
  3. Cultive uma cultura de ética e responsabilidade. Se tivermos escolhas éticas e responsáveis viveremos melhor e de forma sustentável;
  4. Valorize as pessoas, até porque se não existissem as pessoas, o dinheiro não existiria;
  5. Dinheiro não dá em árvore, mas deve ser cultivado da mesma forma que cultivamos as plantas. Primeiro pegamos a sementinha (o que sabemos fazer), depois plantamos (começamos a fazer), depois não adianta plantar (trabalhar) e deixar a plantinha sem cuidados (qualificação, esforço e empenho). Então, continuamos cuidando e regando, assim as flores e frutos virão. Essa é uma lógica que as crianças entendem quase melhor do que os adultos.

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 Como levar esse tema ao universo infantil, visto que muita gente grande também não entende direito como cuidar do seu dinheiro?

A. P. P.: Diferente dos adultos, não adianta falarmos para uma criança: “guarde X% da sua mesada para o futuro porque é importante”. A percepção de tempo para a criança é diferente, por isso devemos buscar nas coisas simples e do dia a dia da criança.

Aqui um exemplo: se os brinquedos ficarem espalhados, o que pode acontecer? Alguém pode pisar e quebrar muitos deles. Se quebrar, o que acontece? O papai e a mamãe terão que comprar de novo e não vai sobrar dinheiro para comprar brinquedos novos.

Essa lógica vale também para as roupas, tênis, material escolar, a comida que fica no prato sem comer e por aí vai. Tudo isso é economia que é palpável para uma criança.

Outra forma legal é deixar que a criança fique junto quando os adultos estiverem falando sobre dinheiro, fazendo planos ou lista de compras. Evidente que ela não vai saber calcular, mas o falar, pensar e conversar sobre o assunto já será algo natural para ela (lembrem-se da tal formação dos traçados mnésicos que respondem pelos nossos hábitos).

Muitos pais utilizam a compensação durante a criação de seus filhos, dando-lhes dinheiro em vez de atenção. Como isso interfere na educação financeira destas crianças e adolescentes?

A. P. P.: Esse é um ponto delicado. Quando temos uma primeira experiência com impacto decisional-emocional (que é o caso da primeira vez que a criança recebe dos pais dinheiro para compensar a falta de atenção e ela aceita), isso cria um registro, um caminho da informação no cérebro. E nosso cérebro, por uma função de economia de atenção, tende sempre a repetir o mesmo caminho quando se dá o mesmo gatilho.

Ou seja, quando os pais fazem isso, eles estão ensinando a criança que ela não precisa se preocupar com as outras pessoas, desde que pague por isso (pague com dinheiro, presentes e etc.).

Em um curto espaço de tempo isso pode não parecer tão devastador, mas vamos lembrar que o ponto-chave aqui é o gatilho, o start que dispara aquela resposta.

Assim, quando adulto, é bem possível (a menos que exista outro impacto decisional-emocional que quebre esse caminho) que essa pessoa ache normal maltratar um funcionário ou um prestador de serviço. Afinal, ela está pagando por isso.

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Qual a maior dificuldade que os pais enfrentam na hora de ensinar os filhos a lidar com dinheiro? E qual o maior erro que cometem?

A. P. P.: Lidar com o dinheiro é lidar com escolhas. E escolhas implicam na responsabilidade (Lat. respondere = responder) de responder pelos resultados. O aprendizado e a formação de hábitos só acontecem quando a pessoa/criança vive a escolha decisional-emocional.

Vejo que a maior dificuldade que os pais têm é deixar que as crianças vivam essa experiência. Geralmente, na ânsia de ensinar o melhor caminho (com o maior amor e boa vontade), os pais não dão a oportunidade de a criança percorrer o caminho lógico até a escolha e com isso registrar (traçado mnésico) que essa é a melhor forma.

Ana, obrigado pela disponibilidade. Gostaria que você deixasse uma mensagem final sobre educação financeira e filhos para nossos leitores. 

A. P. P.: Gostaria de deixar uma dica aos pais que querem educar seus filhos financeiramente: Perguntem, perguntem muito! Se vocês fizerem perguntas, as crianças vão conseguir chegar a escolha financeiramente mais coerente e responsável!

Isso ajudará seus filhos a não apenas guardarem mecanicamente moedas no cofrinho, mas saber o porquê e para que estão guardando. Aí sim o hábito de economizar fará sentido e perdurará.

Sei que minhas dicas exigirão um pouco mais do que dar um cofrinho ou dizer para eles guardarem as moedas, mas acredito na conscientização das pessoas e não na mecanização.

Foto “Holding hands”, Shutterstock.

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