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Crise financeira mundial, a economia real e o dinheiro

por Conrado Navarro
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Crise financeira mundial, a economia real e o dinheiroCélia comenta: “Navarro, quais problemas a crise financeira internacional pode trazer para a economia real brasileira? O assunto é bastante batido, é verdade, mas gostaria que comentasse sobre a ótica brasileira, ainda que não estejamos diretamente relacionados com a origem do problema. Entendi em seus artigos que vamos viver uma desaceleração, mas em que esferas isso ocorrerá primeiro? Como notamos os efeitos enquanto cidadãos? Há algo que possamos fazer para colaborar com as autoridades e empresas no sentido de mitigar os problemas mais duros? Muito obrigada”.

Depois de ensaiar uma recuperação, o mercado de ações[bb] voltou a desabar. A semana passada foi marcada por uma segunda-feira de otimismo, mas também de dias tensos e de resultados complicados anunciados pelas empresas, tanto aqui, quanto lá fora. Grandes grupos anunciaram sua situação no terceiro trimestre do ano, dando asas a resultados ruins e projeções de crescimento ainda piores. Natural em tempos de turbulência, como queremos acreditar, mas desanimador sob a ótica do acionista e do investidor.

Por aqui, mais companhias relataram prejuízos gerados pela forte variação da moeda americana. Desta vez, menos da especulação e mais das decisões e seus modelos de operação. O que se viu foram demonstrações de dívidas em moeda estrangeira – que tiveram seus valores corrigidos aumentados – prejudicando a resposta da companhia aos seus investidores[bb] e stakeholders. Sobrevida à tensão, ao pânico e ao medo de uma recessão em escala global. Tudo bem, mas e o cidadão comum?

Do ponto de vista de lá
Todos sabem que adoro comentar fatos, estatísticas e dados, especialmente quando o momento é propício para tais divulgações. Alguns números sobre a economia real dos EUA e o comportamento de seus cidadãos chamaram minha atenção:

  • Grandes bancos e o próprio Fed (o banco central dos EUA) já registram aumentos superiores a 50% no não-pagamento de dívidas de cartões de crédito. Isso significa dever em uma das modalidades mais caras existentes em qualquer sistema financeiro nacional, dando margem a problemas financeiros graves no curto e médio prazos.
  • Recente reportagem da Folha de S. Paulo alerta que, depois dos salários, os cartões de crédito são a principal fonte de dinheiro das famílias norte-americanas. Em média, cada família possui 13 cartões. Cartão de crédito como fonte de dinheiro? Não seria o cartão uma ferramenta, também passível de grande controle e uso consciente? Média de 13 cartões por família? Um exagero.
  • As dívidas em cartões de crédito da população norte-americana aumentaram 75% nos últimos dez anos. O crescimento poderia ser indicador de melhores condições de vida, o que não se verifica. As variações de renda e do nível de emprego se mantiveram praticamente estavéis no mesmo período. Consumir, consumir e consumir. E a conta? Alguém tem que pagá-la. Quando?
  • Mais de 40% dos cidadãos norte-americanos “alimentam” suas dívidas, usando para isso artifícios de rolagem de dívidas, como o rotativo e o refinanciamento. Segundo pesquisa da Universidade de Harvard, só em 2007 cerca de 25% dos usuários de cartão afirmaram ter elevado suas dívidas na modalidade. Dados também retirados do jornal Folha de S. Paulo.

A situação do consumo exagerado e da pouca formação de poupança elevou, artificial e perigosamente, muitos setores da economia dos EUA. Claro, é fácil dizer isso agora, depois da forte correção demonstrada através da crise financeira atual. A reflexão, no entanto, deve ser outra: como cidadãos informados e preocupados que somos, que tal aproveitar algumas destas lições e mudar nosso comportamento[bb] em relação ao dinheiro e, mais precisamente, o futuro? Ainda não é tarde demais.

Do ponto de vista de cá
Como já apresentado pelo Ricardo, o Brasil e seu governo já enxergam as eventuais fontes de problemas com a crise. Buscando sempre o entendimento do leitor, tentarei resumir, em 5 curtas observações, meu ponto de vista sobre a economia nacional em tempos tão turbulentos:

  1. Exportamos muita matéria-prima e alguns produtos acabados, como fazem também outros países. Se a economia mundial esfriar, a demanda por tais exportações também murchará. Com isso, caem os preços destes insumos e produtos. Sofre a balança comercial, sofre o país;
  2. Em artigo anterior falamos do medo de calote por parte de instituições financeiras e grandes investidores. Se eles emprestam menos, notaremos menos capital aportando no país, o que influencia diretamente o investimento produtivo no desenvolvimento econômico nacional. Nem só de BNDES vivemos (faz tempo);
  3. A escassez de crédito, também já abordada por aqui, leva os bancos a subirem seus juros, tornando financimentos e empréstimos mais caros. Logo, presume-se que tomar dinheiro ficará mais “difícil” e menos desejável;
  4. Com as constantes incertezas e o dinheiro mais caro, as empresas reavaliam seus projetos de investimento. Isso significa deixar de investir até que o cenário esteja mais previsível. Pense: você, como tomador de decisões, manteria um forte plano de investimentos e aportes sem ter uma mínima visão a respeito da absorção e crescimento de seu mercado? Pois é;
  5. A relação entre cliente e fornecedor deve ser reavaliada. Com a abundância de crédito, vendia-se muito e vendia-se fácil. Agora, a relação terá que ser mais inteligente e digna. Maria Inês Dolci, coordenadora da Pro Teste, escreveu um ótimo artigo (para assinantes UOL ou Folha) sobre isso em sua coluna semanal da Folha, no caderno “Vitrine” de ontem.

Muita coisa pode acontecer. Muita coisa pode mudar. Ou não. A realidade impõe novos desafios às autoridades econômicas, mas reforça também a importância de nos mantermos muito bem informados e atentos para as decisões financeiras cotidianas. Ou não. Prever o dia de amanhã é tarefa tão difícil quanto ajustar-se para o que já acontece agora. Sabendo disso, lembre-se: tudo que escrevi pode ajudá-lo a mudar sua postura diante do atual cenário financeiro de sua família. Ou pode não fazer nenhuma diferença. A intenção, claro, é sempre das melhores.

Nós, cidadãos responsáveis pelo giro da economia[bb] e por pequenas decisões capazes de mudar o futuro, podemos compreender o que está acontecendo e consumir de forma mais consciente e inteligente. Ou podemos ignorar tudo isso e seguir sem dar a menor importância para o noticiário econômico e suas implicações na economia real. Uma decisão aparentemente trivial, um futuro a ser desenhado. Que bela responsabilidade a sua, hein?

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Crédito da foto para stock.xchng.

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