O Dia das Crianças chegou e com ele os apelos por compras! Com a tentação aumenta a tarefa dos pais de administrar a vontade dos filhos. Nós não nos preocupamos tanto em oferecer dicas específicas para esta data porque acreditamos que educação financeira deve ser uma prática diária.
Como controlar o desejo dos pequenos por tudo que veem n26a frente? Como explicar que aquele brinquedo tão desejado não cabe no orçamento? Que atitudes tomar para equilibrar as necessidades dos filhos com os seus desejos de consumo?
“Antes de convidar o filho para escolher algum, que tal convidá-lo para conversar sobre dinheiro?”, aconselha a educadora financeira Celina Macedo, autora do livro “Filhos: seu melhor investimento”.
“Conte de onde vem o dinheiro, mostre quais são as prioridades de gasto da família com as contas mensais de água, luz, internet, telefone, supermercado, aluguel e escola e fale sobre a necessidade de poupar”, orienta Celina.
A especialista também recomenda explicar ao filho que há uma quantidade de dinheiro reservada mensalmente para gastos eventuais, como ir ao restaurante, ao cinema e comprar presentes, que chamamos de supérfluos.
E, é dentro do valor estipulado pelos pais que o presente poderá ser escolhido pelo filho para que no final do mês a família não tenha gastado mais do que recebe. “Quanto mais cedo as crianças conhecerem o esforço e a dinâmica para administrar as contas da casa, mais rápido darão valor ao dinheiro e compreenderão que para atingir objetivos é preciso trabalhar, se esforçar e planejar”, diz.
Como, geralmente, Dia das Crianças é um momento de veiculação de muitas propagandas com incentivo ao consumo, é possível aproveitar essa oportunidade para conversar com as crianças sobre os conceitos de caro e barato, desejo e necessidade, querer, poder e merecer.
Para a psicóloga Angélica Rodrigues, da consultoria Libratta, pode-se também discutir sobre fidelidade a marcas e explicar a relação custo X beneficio que existe quando consumimos algo.
“Além disso, dependendo do grau de maturidade dos pequenos, vale comentar sobre as estratégias de marketing que são usadas para convencê-los sobre produtos e passeios. A conversa precisa ser leve e, de preferência, divertida!”, ressalta Angélica.
Angélica ainda destaca a importância de que, antes de qualquer abordagem sobre o assunto, os pais alinhem entre si o que pretendem ensinar e quais os valores que pretendem transmitir, para não haver conflitos na hora da transmissão da mensagem.
“O comportamento financeiro dos pais é um modelo que os filhos tendem a copiar. Por isso, antes de começar a falar sobre o assunto com seu filho, reflita sobre como é a sua relação com o dinheiro, quais cuidados você pratica e quais dificuldades você enfrenta na esfera econômica. Pois, como diz o ditado: as palavras comovem, mas os exemplos arrastam”, afirma e psicóloga.
A grana está curta? Use a criatividade!
A compra dos presentes precisa fazer parte do planejamento financeiro da família. “Comprometer o orçamento para presentar não é uma atitude saudável. Pais que prejudicam o orçamento para presentear os filhos podem passar um modelo de endividamento a eles”, afirma Angélica.
Se a família não tem dinheiro disponível para presentear as crianças com objetos, há muitas outras coisas que podem ser feitas para elas se sentirem prestigiadas.
“A regra é usar a criatividade: planejar um dia inteiro de brincadeiras com os filhos no parque, no clube ou numa cachoeira; confeccionar jogos e outras brincadeiras com sucata e material reciclável – robôs com rolos de papel higiênico, bicicletinhas com CDs e palitos de picolé, bonecos com garrafinhas de iogurtes – e muito mais! O brinquedo, na verdade, precisa ser apenas uma maneira simbólica de representar uma data ou um bem-querer”, ensina a psicóloga.
Para Angélica, se a família está atravessando um momento de instabilidade, mostrar a realidade econômica em que se encontra pode ser um ótimo ensinamento sobre união e apoio familiar.
“Pode, ainda, ser uma maneira de descobrir alguns talentos existentes na família que possam gerar dinheiro, ensinando, assim, práticas de posturas flexíveis, para lidar com as crises que existem na vida. Pesquisas mostram que, na realidade, os filhos querem o melhor que os pais podem dar, não em dinheiro, mas em disponibilidade emocional, seja por meio de gestos de atenção e carinho, brincadeiras e até limites, ora flexíveis, ora mais firmes”, diz ela.
Dar dinheiro em vez de um presente: certo ou errado?
Com a correria típica dos dias atuais, presentear os filhos com dinheiro pode ser uma cômoda tentação para os pais. Além da falta de tempo, muitos pais ficam receosos em não acertar na escolha do mimo.
Segundo Angélica Rodrigues, da Libratta, essa opção é válida se tiver o propósito de educar financeiramente o filho. “Pode-se perguntar: O que você quer fazer com esse dinheiro? Quer guardá-lo para juntar com outra quantia e comprar algo mais caro depois? Quer usá-lo imediatamente?”, ensina.
A partir disso, a recomendação é que a criança seja orientada sobre como utilizar a quantia da melhor forma. “O dinheiro deve vir acompanhado de ações educativas contínuas, que darão as bases para que ela se torne um adulto equilibrado financeiramente”, ressalta.
Foto “Father and son”, Shutterstock.