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Diário de Omaha: A viúva que virou CEO

Leandro Siqueira é especialista em ações da Spiti e bacharel em Economia pela UFRJ e lidera um time de sete analistas

por Leandro Siqueira
3 min leitura
Diário de Omaha

🕵️‍♂️ Analisando

Desvendando o modelo de negócios das empresas

A saga de (Rocke)Feffer

Por Gabriel Boente

Finclass

Nossa história é sobre uma família que fugiu da Ucrânia por conta de uma invasão e perseguição russa. No meio do caminho, a família teve que se separar do pai, que foi para outro país em busca de uma vida melhor. Por mais que essa sinopse, infelizmente, pareça muito com os dias atuais, essa história rolou há mais de 110 anos.

A família Feffer, de origem judaica, morava no vilarejo de Kolky, na Ucrânia. Por conta das perseguições do regime czarista, eles se mudaram para a cidade grande: Rivne, que fica no noroeste, a 160 km da fronteira com a Polônia e a 320 km de Kiev. Foi nessa cidade, em 1910, que o patriarca Simpson Feffer decidiu deixar a família e rumar para o Brasil, atrás de uma vida melhor. O plano era trazer o resto da família em poucos anos, porém não existia “zap” nem e-mail na época. Apenas 10 anos depois, Leon Feffer, o primeiro filho homem, descobriu que havia uma carta do seu pai na embaixada de Paris, com tudo certo para a imigração da família.

Após uma viagem de mais de 2.000 km até Paris, mais alguns quilômetros até o porto de Le Havre e 31 dias embarcados no “Trás-os-Montes”, Leon e sua família chegaram ao Porto de Santos.

Em terras tupiniquins, Leon acompanhou seu pai em suas viagens como caixeiro viajante. Ali, ele percebeu que um produto muito demandado na época era o papel. Como ele vendia de tudo um pouco pra se virar no mundão, decidiu apostar neste produto. No dia 22 de janeiro de 1924, a junta comercial de São Paulo aprovou o registro da “Leon Feffer & Cia”, o que marca oficialmente o início da Suzano que conhecemos hoje.

Leon tinha conseguido a simpatia e a parceria de um distribuidor de papel. Com as vendas melhorando e o dinheiro entrando, ele deixou de fazer o seu quarto de armazém e alugou uma loja no bairro do Brás, no centro da cidade de São Paulo.

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Claro, começando do zero, a loja de papéis e envelopes era bem pequena e ele só tinha uma charrete para fazer as entregas. Mas com o tempo, as vendas foram melhorando e ele até conseguiu alugar uma segunda loja, que já fazia tipografia e sacolas de papel.

Nessa época aconteceu uma história clássica. Em 1929, auge de uma crise global, uma fábrica de papel sofreu um incêndio que fez os donos quebrarem e colocarem tudo à venda, incluindo um grande lote de “papel queimado”. Leon soube disso, mas ele também sabia que uma bobina de papel bem prensada não queima por dentro, pois não tem oxigênio. Então  ele arrematou o lote a preço de banana, cortou as bordas e lá estavam vários quilos de papel intactos, que abasteceram o negócio por anos.

Até o momento, a LF & Cia era mais uma distribuidora. O negócio ia bem, mas com a Segunda Guerra Mundial querendo eclodir, Leon imaginou — corretamente — que o estoque de papel seria bastante afetado. Assim, ele tomou a decisão bem radical de vender tudo que tinha para construir uma fábrica de papel. E foi tudo mesmo! Lojas, estoques, a própria casa e até as jóias da esposa entraram no bolo para o início da construção da Fábrica A, a Unidade Ipiranga, em 1939.

A fábrica recebeu o nome de  “Unidade Ipiranga” pois foi construída em um terreno de 11 mil m² na Avenida Presidente Wilson, no bairro do Ipiranga. No dia 1 de março de 1941, a fábrica produziu sua primeira folha. A máquina de papel estava pronta e produzia cerca de 20 toneladas por dia, com foco em papel jornal. Aqui começa a era da Indústria de Papel Leon Feffer & Cia.

Nos anos 40, a indústria de Leon ainda abriria mais duas máquinas de papel, uma em 1943 (foco em papel cartão) e uma em 1948 (foco em papel adesivo para envelopagem).

A expansão mostrou que Leon estava certo, já que a guerra afetou o suprimento de papel. O problema é que também afetou a matéria-prima, a celulose, que era majoritariamente importada. Por conta disso, a fabricação de papel ficou muito cara. E aqui, com essa necessidade, começa uma das grandes revoluções da indústria brasileira.

Para encontrar uma solução para produzir celulose no Brasil, em 1951 Leon convocou Max Feffer, seu filho mais velho, para liderar um time de pesquisa focado em encontrar a fibra ideal. Max era botânico? Não! Ele tinha 25 anos e estava em Nova York estudando música na lendária Julliard quando recebeu a missão do pai.

Depois de a equipe testar várias alternativas, uma árvore despontou como a mais interessante, apesar de improvável: o eucalipto. Com as prévias animadoras, em 1954 o time alugou um laboratório na Universidade da Flórida e confirmou que, sim, o eucalipto era uma fonte ideal de celulose.

Isso realmente foi um dos grandes pontos de ruptura da indústria brasileira, já que ninguém usava eucalipto para este fim. Na época, a celulose importada era feita com pinus europeu (o pinheiro), que levava mais de duas décadas para crescer, praticamente 3 vezes mais que o tempo do eucalipto.

Mas uma coisa é usar o eucalipto em laboratório. A produção em escala industrial são outros quinhentos, e a fábrica de Ipiranga não tinha capacidade pra isso. Pra manter a aposta, em 1955, Leon (juntamente com Max) comprou a Indústria de Papel Euclides Damiani, que era maior e ficava perto de plantações de eucalipto. Agora a empresa conseguiria produzir papel e também celulose com uma fibra inédita.

Com a nova matéria-prima sendo produzida, ter somente papel no nome já não fazia mais sentido. Então os Feffer decidiram renomear a empresa com o nome da cidade onde a nova indústria ficava, mais os materiais produzidos. Assim, em 1956, a empresa dos Feffer passou a se chamar Companhia Suzano de Papel e Celulose.

Por ser um material inédito no mercado, os fabricantes nacionais não tinham muito interesse no início. Isso motivou a Suzano a comprar mais indústrias por São Paulo para que ela fosse a maior cliente da própria celulose na fabricação de papel. Isso deu certo, já que em 1961, a empresa se tornou autossuficiente e foi a primeira no mundo a produzir papel para escrever feito 100% de celulose de eucalipto.

Com o tempo, as concorrentes viram que realmente era possível usar a celulose de eucalipto, o que permitiu que a Suzano se abastecesse e ainda vendesse a celulose para terceiros.

Hoje, o Brasil é um dos grandes produtores globais e a Suzano é a maior produtora de celulose de fibra curta do mundo. O eucalipto, por ter um ciclo de corte menor, se tornou praticamente uma árvore de ouro para o país. E, sim, quem inventou tudo isso foi a Suzano, em um raro caso em que a pioneira conseguiu se manter no topo.

Apesar de o título fazer um trocadilho com o nome de Leon Feffer e com o de John Rockefeller, existem alguns pontos que (à distância)  se parecem um pouco, principalmente a filantropia. Felizmente, a plantação de árvores é menos danosa ao meio ambiente que um monopólio de petróleo.

Seja como for, a Suzano é uma das empresas mais relevantes do Brasil. A celulose pode parecer uma commodity menos “sexy”, mas se você olhar ao redor, com certeza vai ver muitos itens feitos dela, principalmente o papel.

📜Histórias de Mercado

Não se repetem, mas rimam

A viúva que virou CEO

Por Gabriel Boente

Abrimos o Diário de hoje falando sobre a Suzano, que começou sua primeira indústria focada na produção de papel jornal.

Por falar em jornal, imagine a história de uma dona de casa que do dia para a noite virou CEO de uma das maiores empresas dos EUA e ficou 22 anos por lá. No meio disso, um investidor desconhecido apareceu e ofereceu ajuda. Era um tal de Warren Buffet. Parece maluquice, não?

Essa é a história de Katharine Graham.

Kathy nasceu em berço de ouro. Era filha de Eugene Meyer, o dono do Washington Post. Mas como estamos falando da primeira metade do século passado, ela era vista mais como “herdeira socialite” do que “sucessora”. Em 1940 ela se casou com Philip Graham, que  assumiu o jornal em 1946.

Mas tudo mudou em agosto de 1963, pois Philip morreu repentinamente por conta da depressão. Com 46 anos, muito tímida, com quatro filhos e sem trabalhar por uns 20 anos, a viúva Kathy teve que assumir uma das 500 maiores empresas dos EUA . Ela iniciou na presidência em setembro de 1963.

Tirando a morte do seu amigo John F. Kennedy em novembro daquele ano, o início de Kathy foi até tranquilo, com ela tomando tempo para entender o negócio, antes de fazer grandes mudanças. A primeira foi em 1967, quando fez a troca do editor-chefe, tirando um veterano e colocando um novato, que era editor de uma das revistas do grupo. Mas mar calmo não faz bom marinheiro…

Em 1971, uma  semana antes da data do IPO do jornal, uma história bombástica chegou à mesa: os Pentagon Papers. Essa história foi contada no filme “The Post”, mas basicamente eles publicaram a história de documentos vazados da Casa Branca que mostravam que a participação dos EUA na Guerra do Vietnã não era o que o governo dizia ser. Com a matéria, o jornal queimou o presidente Nixon, que acabou renunciando em 1974. Esse fato trouxe muita notoriedade ao Washington Post.

Voltando aos negócios, a ideia do IPO foi do braço direito de Kathy, Fritz Beebe, que segurou as pontas na transição da viúva ao comando. Segundo ele, a empresa precisava de dinheiro para crescer.

O que Kathy sabia do mercado acionário? Quase nada. Ela mesma admitiu que só sabia que viriam mais obrigações e formalidades para a empresa.

Para manter o controle familiar, o IPO foi feito com ações do tipo A (que ficaram com Kathy e os filhos) e tipo B (que foram a público). A ideia foi do amigo Fritz. Porém mais uma perda iria abalar o ciclo de Graham: em 1973, Fritz viria a falecer de câncer, um dia após Nixon assumir o que havia sido denunciado nos Pentagon Papers.

Kathy estava só agora,  sem o seu braço direito.

Mas a vida é uma caixinha de surpresas e nós encontramos apoio e amigos de formas inesperadas. Um mês depois da morte de Fritz, um investidor desconhecido comprou cerca de 10% das ações do jornal. Pela lei, se você comprar mais de 5% de uma empresa, precisa notificar os órgãos e a própria empresa da aquisição.

A notificação veio através de uma carta assinada por um tal de Warren E. Buffett, da Berkshire Hathaway, de Omaha — mesma cidade deste amado Diário, não é?

Kathy procurou saber quem era aquele cara, que não era conhecido naquela época como é hoje. De acordo com ela, todas as pessoas que deram referências sobre ele  disseram que “ele nunca tinha feito nada hostil, era direto e brilhante”.

Um “date” de negócios tinha que ser marcado. Assim, tempos depois eles se encontraram em Los Angeles e o match aconteceu. Tanto que ela escreveu que “se tivesse que apostar em alguém, seria em Buffett”.

Neste primeiro papo, Buffett viu que Kathy “não sabia nada de negócios”. Ele até mesmo disse que ela seria engolida pelo mercado. Então, meio que naturalmente, Buffett começou a ser o mentor de Kathy e ela confiava plenamente nele. Toda a parceria e confiança levou Buffett ao conselho do jornal em 1974.

Falando de negócios, Buffett ajudou Kathy a performar bem, apesar de terem uma abordagem diferente para uma empresa de mídia na época. Por exemplo, o jornal foi um dos primeiros a recomprar suas ações como forma de alocar capital. Outro ponto foi a austeridade em tempos fáceis e agressividade em tempos difíceis. Ou seja, enquanto todo mundo gastava, eles se seguravam e vice-versa.

Aliás, a maioria das aquisições feitas por Graham a levariam a novos negócios não relacionados com jornais ou rádio. Um exemplo interessante foi o negócio de celulares nos anos 80, que afetaria diretamente a consolidação da AT&T. Quando Kathy deixou o cargo em 1993, o jornal Post Company era de longe o mais diversificado de todo o setor.

Kathy, sob a tutela de Buffett, provou ser uma boa alocadora de capital. A sua abordagem era manter níveis baixos de dividendos e dívida, além de um nível elevado de recompra de ações. No final, ela passou o bastão para o seu filho, Donald Graham, que foi treinado por muito tempo no meio para conseguir dar conta do recado.

Pra encerrar, a lição que fica aqui é  a disposição de Kathy Graham para  fazer acontecer: reconhecer suas próprias limitações e fechar com gente boa. E, sim, é uma lição muito difícil de ser aplicada!

Os relatos do texto saíram dos livros The Outsiders (capítulo 5) e Personal Story (biografia de Kathy Graham que ganhou um Pulitzer). Aliás, este último nos rendeu algumas frases lendárias que Kathy atribuiu a Warren Buffett e seu grande sócio, Charlie Munger. Destacamos três delas:

“Lembre-se: não vamos ensiná-la a evitar que seus joelhos tremam. Tudo o que vamos fazer é ensiná-la a falar enquanto seus joelhos tremem.”

“O maior risco que enfrentamos conforme vamos avançando no mercado não é quebrar. É ficar maluco.”

“Se uma pessoa inteligente entra em uma sala com um orangotango e explica suas ideias, o macaco vai ficar ali sentado comendo sua banana. No fim da conversa, a pessoa que ficou explicando acaba saindo mais inteligente.”

😎Fala Dudu!

Sua carta sátira semanal do gestor do primeiro hedge fund de Niterói

Por @dudufromniteroi

Bom dia, meus sobrinhos! Mais um dia vindo trabalhar, pois estou com medo de sumir e meus sócios quererem mais % da asset pra eles. Assim, hoje eu só ofereço meu mínimo esforço e 30% do meu carisma. Equilíbrio é tudo.

Bora pras notícias de ontem?

OS BRANQUELOS – Imagina um emprego onde você ganha R$15.800 limpinhos de impostos, viaja o mundo e ainda faz algo que acha que vai mudar a vida de alguém? Se eu tivesse tudo isso, vocês nem me veriam (mentira porque ganho mais).

Pois a ex-assessora da ministra Anielle Franco tinha tudo isso. “Ex” e “tinha” pois ela foi de Chico, após ir,  “a trabalho”, de camarote para a final da Copa do Brasil e ainda postar que a torcida do São Paulo é “torcida branca que não canta, descendente de europeu safade. Pior tudo de pauliste (sic).”

Só pela linguagem neutre, já deveria ter rodado. Porém tirou toda a torcida do Soberano de branquelo e isso é inadmissível, pois a torcida sempre foi reconhecida como uma das minorias que mais sofre preconceito no país: os ricos.

Agora o que resta para nossa amiga ex-assessora é ir de #OpenToWork no Linkedin, não tem jeito.

MIDIRA – Na semana passada, um relatório da União Europeia  revelou que o X (antigo Twitter) tem a maior proporção de desinformação publicada. Aqui nós percebemos o quanto europeu é atrasado nas mídias sociais.

Nossa equipe de quants da NAM refez essa pesquisa, aplicada ao cenário brasileiro, e concluiu que a rede social mais caozeira é o Instagram, seguida pelo TikTok e aí sim pelo Twitter.

No Instagram, todo mundo é feliz. Barraco é apenas das  “subcelebrities” e nem é de qualidade. Além do que os filtros deixam geral bonito. Paralelamente, no tico e teco, o algoritmo vive jogando vídeo de mulheres em corpos esculturais dançando música de gosto duvidoso. Todo mundo sabe que nem existe isso tudo de mulher.

A NOVA ONDA DO REGULADOR – Na semana passada, o ministro Fernando Haddad disse que começou uma “nova era” na relação entre o Banco Central e o Palácio do Planalto.

Isso tem a ver com os cortes da Selic? Tem.

Tem a ver que os cortes começaram depois que colocaram dois representantes do governo no colegiado do BC? Tem.

Então só é bom se for o governo quem toma as decisões? Não, veja bem…

E foi isso, meus amores. A semana foi bem tranquila. Vamos ficar na expectativa de mais tragédias para termos mais pautas. Um beijo do tio, ok?

🍷 Sommelier

Consumimos de tudo. Trazemos o que importa

 📺 Vídeos

Eu só queria ser um dos Strokes

Por Gabriel Boente

“Eu só queria ser um dos Strokes / Agora olha a bagunça que você me fez fazer / Pegando carona com uma mala com monograma / A milhas de distância de qualquer estrada imaginária semi-útil”

A princípio, a imagem da capa e a citação acima não fazem muito sentido para a maioria das pessoas. Mas tudo isso marca o início de um dos melhores álbuns da década passada (que chega a ser uma obra-prima incompreendida) e traz uma reflexão legal para nós. Estou falando de Tranquility Base Hotel and Casino (2018), da banda britânica Arctic Monkeys. Pra ficar fácil, vamos abreviar o nome para TBH&C.

O que me motivou a escrever a reflexão de hoje foram duas coisas. Primeiro, estou ouvindo esse álbum em loop há algumas semanas. Segundo, esse tweet do glorioso Ouriço de Cartola:

“Mas o que o tuíte de um equinodermo de chapéu tem a ver com um álbum de música?”

Tudo, meu caro assinante!

Primeiro, apesar de o Arctic Monkeys ser uma banda de rock alternativo progressivo, o TBH&C é um álbum de jazz lounge. Esse estilo lembra muito aquelas músicas antigas da rádio Antena 1.

O álbum foi idealizado por Alex Turner, frontman do grupo, num piano, enquanto ele estava com um  bloqueio criativo (quem nunca?). Foi aí que ele assistiu a um filme italiano de 1963 chamado Oito e Meio. A película a história de um diretor de cinema que está prestes a rodar sua próxima obra, mas está sem ideias para o filme. Ele fica tão pressionado e sem ideias que começa a delirar e não consegue mais diferenciar a realidade da fantasia.

Ao mesmo tempo, o cantor estava lendo um livro chamado Amusing Ourselves to Death, de Neil Postman. A obra é basicamente um meio termo entre 1984, de George Orwell, e Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley. Ou seja, o livro é uma doideira que nos faz refletir sobre o papel da informação e a espetacularização de tudo, principalmente da política.

A partir daí, com o seu piano, Alex Turner começou a idealizar a história de um astronauta perdido e cansado que vai relaxar em um resort na Lua, o Tranquility Base.

O álbum é composto por 11 músicas, todas com a temática de ficção científica numa pegada vintage. Claro, nem tudo precisa ter significado e o Alex Turner pode muito bem ter escrito as letras num piano só para parecer mais poético. Mas arte é a maneira como somos impactados, e eu tenho algumas reflexões sobre isso. O pessoal do canal “Middle 8” no YouTube também fez um vídeo bem legal, explicando as referências (em inglês).

A primeira música, “Star Treatment”, é a favorita deste autor. Basicamente, ela fala sobre alguém que no passado tentou de tudo para seguir os seus sonhos, mas hoje é só uma pessoa alienada da realidade. Aliás, é exatamente o primeiro parágrafo deste texto. E a “mala com monograma” é uma metáfora para o celular, que, no final, é onde cabe tudo o que levamos para todo lugar.

Seguindo mais na música, vem um trecho muito interessante: “Eu sou um grande nome no espaço […] Eu descobri da pior forma que / Aqui não é lugar para bonecos como você e eu. Todo mundo está em uma barcaça / Flutuando pela interminável correnteza da grande TV”.

Aqui, o autor se diz enorme, mas que o universo é maior ainda. No final, ninguém realmente se importa, já que todo mundo está no mesmo barco recebendo várias e várias informações.

Hoje nós temos uma corrente tão interminável de informações e notícias que o nosso senso de importância e prioridade acaba sendo totalmente distorcido. O que realmente é importante? Ter um grande nome realmente importa?

A música segue e diz: “Talvez eu tenha sido um pouco maluco demais nos anos 70 / De volta à Terra com o brilho de um cantor de lounge / Elevador direto para minha residência de faz de conta / Dois shows por dia, quatro noites por semana / Dinheiro fácil”.

Antigamente ele trabalhou demais e deu tudo de si. Hoje o trabalho é repetitivo, num mundo que não importa tanto e traz um dinheiro fácil. E é um trabalho puxado, somente para bancar uma casa de “faz de conta”.

Ele continua e diz: “Querida, não é assim que eles aparentam hoje à noite / A luz demorou / Uma absoluta eternidade para chegar aos seus olhos”.

O astronauta tenta se justificar para a amada. Sempre há uma desculpa para se afundar em uma realidade de informações sem importância. E no final, as pessoas ao redor que não entendem, pois a “luz demorou demais para chegar”. É o tratamento de quem merece.

Agora começa a fazer sentido com o tuíte do Ouriço, não? Qual a vantagem de ser um grande nome em um espaço vazio? A vantagem de ser um pouco maluco demais para manter uma casa de “faz de conta”? E pior, toda hora ter que explicar para os seus entes queridos que “eles é que não estão entendendo”. Daqui a 15 anos só sua família vai se lembrar das horas extras que você fez.

Ou seja, daqui a 15 anos você vai acabar tendo este “Tratamento das Estrelas” que a música diz. Vai valer a pena?

O álbum continua nessa pegada. Sempre refletindo muito sobre a quantidade de informação excessiva com a qual  somos bombardeados. A busca pela eficiência acaba nos fazendo esquecer sobre a própria essência. “Você se lembra onde tudo deu errado? / Avanços tecnológicos me deixam num baita bom humor”.

Qual a solução para o astronauta? Sair um pouco da Terra e ir repousar em outro mundo. No caso, o mundo da Lua, onde fica o hotel. “Relaxe um pouco / Venha e fique conosco, é um voo tão tranquilo”.

Por fim, a última música do álbum é uma conclusão do astronauta. Ele percebe que sente falta do passado. Depois de ter atravessado todo o caos de informação, o que realmente importa fica pregado na nossa parede e o sentimento volta a aparecer, mesmo que debaixo de toda camada de futilidade.

“Ah, o amanhecer ainda pesa uma tonelada / Eu fiz algumas coisas que não deveria ter feito / Mas eu nunca deixei de te amar”. Qual o nome da última música? “Ultrabrega”.

TBH&C é uma obra-prima pouco compreendida e apreciada. Os fãs da banda ficaram divididos pois, na época, esperavam mais um álbum de pop rock e receberam essa carga emocional pesada em forma de jazz antigo.

Recomendo a todos essa viagem, pois vez ou outra é bom parar um pouquinho e relaxar. A vida acaba exigindo isso. No final, só você vai se importar com um grande nome, mesmo que seja num espaço vazio e infinito.

⏳ Atemporalidades

Leia agora, leve pra vida

“Como assim você nunca assistiu Blade Runner?” – Arctic Monkeys, em “Star Treatment”

“Todos esses momentos se perderão no tempo como lágrimas na chuva” – Blade Runner (1982)

“Eu estou apenas tentando achar uma montanha que eu possa escalar” – The Strokes.

“De que serve ao homem conquistar o mundo inteiro se perder a alma?” – Jesus Cristo (Marcos 8:36)

Por hoje é só pessoal 🤙

Bebam café, se hidratem e confiem no velhinho de Omaha.

Boa semana e bons negócios!

Abraços,

Por Leandro Siqueira

É especialista em ações da Spiti e bacharel em Economia pela UFRJ. Atuou na gestão de clube de investimentos e no banco de investimento Modal antes de fundar a plataforma de educação financeira Varos (ex-Edufinance). Hoje, lidera um time de sete analistas CNPI.

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