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Diário de Omaha, por Leandro Siqueira

Leandro Siqueira é especialista em ações da Spiti e bacharel em Economia pela UFRJ e lidera um time de sete analistas

por Leandro Siqueira
3 min leitura
Diário de Omaha

Panorama – A visão abrangente dos últimos acontecimentos de um setor

Finclass Vitalício Quadrado

Bitcoins e lágrimas

Por Saulo Pereira

El Salvador é um pequeno país localizado na América Central, e desde 2019, é presidido por Nayib Bukele, um político “tik toker”, amante da tecnologia e que já deu um pronunciamento oficial de boné e óculos escuros (não que isso seja algo relevante, mas é um tanto quanto curioso por se tratar de um Chefe de Estado).

Mas não estamos aqui para falar sobre o estilo de um Chefe de Estado. Afinal, se isso fosse o principal problema, muitos países pobres já estariam ricos.

Há quase dois anos, El Salvador adotou o Bitcoin como moeda oficial, após decreto de Bukele. Hojem vamos falar sobre o que aconteceu com a economia do país depois dessa mudança inédita na história da humanidade.

Finclass Vitalício Quadrado

O governo passou a fazer diversas propagandas em defesa da criptomoeda e incentivando as pessoas a utilizá-la no dia a dia. Você pode pensar que eles fizeram um bom negócio, já que o Bitcoin é uma criptomoeda que, teoricamente, é muito difícil de ser fraudada, né?

Bom, não foi bem assim. Pouco tempo depois da adoção, o BTC começou a perder valor e o país perdeu metade do investimento feito. Além disso, fraudes começaram a acontecer. Uma verdadeira bagunça. O sistema foi tão mal planejado, que teve gente utilizando foto de cachorro para confirmar a identidade.

Você deve estar pensando por que o governo decidiu fazer isso. Teoricamente, a ideia tinha quase tudo para dar certo. O país possui mais de dois milhões de cidadãos morando fora de El Salvador e as remessas de dinheiro saindo do exterior e indo para lá representavam quase 25% do PIB.

Como o país possui dólar norte-americano como moeda oficial, as pessoas estavam acostumadas a enviar envelopes com dinheiro para os seus familiares morando na terra natal. Teoricamente, digitalizar esse processo iria facilitar a vida de todo mundo. Mas um ano depois, apenas cerca de 2% das remessas internacionais eram feitas em Bitcoin. A população simplesmente não acatou a ideia.

Outro problema com a aceitação popular foi o fato de que o Bitcoin foi praticamente imposto. Com o decreto, todo comerciante era obrigado a aceitar dólar norte-americano e BTC. Imagina um país pobre como El Salvador, com uma taxa de analfabetismo maior que 10%, sendo obrigado a adotar uma criptomoeda no seu dia a dia? Dificilmente uma proposta dessa funcionaria com a maior eficiência possível. Na prática, as pessoas vão preferir utilizar o papel-moeda, pois sabem como funciona.

O presidente Nayib Bukele também não se esforçou para ajudar a população a entender o que é o Bitcoin e criar uma infraestrutura no país para que a proposta funcionasse. Em um dos momentos de queda, ele foi às redes sociais e pediu para as pessoas “pararem de olhar para o gráfico e aproveitar a vida”. Parece uma piada tropical.

Mas os testes com a população não param por aí. Em 2021, o governo de El Salvador anunciou um plano para criar a Cidade do Bitcoin. No caso, seria um lugar livre de impostos, sustentada apenas pela mineração de BTC (isso lembra muito aquele livro de ficção: A revolta de Atlas).

O financiamento para a construção dessa cidade viria através de títulos emitidos pelo governo. O problema é que inicialmente a ideia não agradou muito aos investidores quando foi apresentada.

Hoje, a situação parece estar um pouco diferente. Isso porque os títulos emitidos pelo governo salvadorenho vêm surpreendendo muita gente com sua valorização. Empresas como JP Morgan (JPMC34) acreditam que os títulos de dívida do país devem continuar subindo. Só em 2023, eles tiveram um retorno positivo de 70% e o país ainda foi capaz de pagar os US$ 800 milhões em dívidas no início do ano.

Neste ano ainda, o governo aprovou uma lei abrindo caminho para a criação de títulos lastreados em Bitcoin, que foram chamados de Volcano Bonds. Essa medida pode ter influenciado positivamente os investidores a acreditarem que o país continuaria honrando seus compromissos.

O que vai acontecer com a economia de El Salvador no futuro? Ninguém sabe. Assim como muitas outras criptomoedas, o Bitcoin é extremamente volátil, e tentar prever o seu valor amanhã é dar um tiro no escuro. Vamos seguir acompanhando como o país do presidente “tik toker” vai se sair nos próximos meses.

Aliás, não é só com Bitcoins que Bukele sustenta polêmicas. Em três anos, o país deixou de ser o 5º país latino mais perigoso para se tornar o 4º mais seguro. Mas isso é pauta para outro texto da saga “Bitcoins e lágrimas”.

Fala, Dudu!

Sua carta sátira semanal do gestor do primeiro hedge fund de Niterói

Por@dudufromniteroi

Bom dia, meus amores.

Semana bem agitada aqui, principalmente no nosso RI. Aparentemente, um pessoal aportou R$ 18 milhões e tá tentando resgatar logo. Nossa cotização é D+360. Uma pena pra eles, melhor pra mim.

Vamos pras notícias de ontem?

123 ANOS DE CURSO – E ainda tem gente que cai nessa. Na última sexta, a 123Milhas anunciou que vai suspender os pacotes e a emissão de passagens de sua linha promocional.

Nos primórdios da internet, éramos ensinados a nunca confiar em itens vendidos por preço totalmente abaixo do valor. Hoje, todo mundo confia em qualquer coisa que o ator Bruno de Luca anuncia. Claro, o Luquita da galera jamais iria querer sua viagem cancelada. Mas vamo lá, né, tropa! Vinte anos de curso e ainda caindo nessa, mesmo depois da Hurb. Aliás, tomara que quem ligar pra 123Milhas pra reclamar não seja atendido pelo CEO da Hurb, que foi de opentowork depois de xingar um cliente.

HACKEARAM-ME – Na última quinta, o hacker de Araraquara, Walter Delgatti, prestou depoimento à CPI dos Atos Golpistas. O Brasil só é Brasil se tiver uma boa CPI em andamento. Nos últimos anos, nem tenho assistido mais televisão. É só TV Senado pra ouvir algum político com cara de vilão de filme de criança falando asneira.

Pois bem, Marília Mendonça e Tierry já haviam avisado: “Se essa noite eu te ligar/não me atenda”. Se o hacker não tivesse atendido a chamada da Carla Zambelli, nada disso teria acontecido. Porém, o hacker de Araraquara prestou atenção na parte “Tô evitando os lugares pra não te ver/ tô rejeitando os convites pra beber”, pois ele foi até o Palácio da Alvorada falar com Jair Bolsonaro, mas rejeitou o convite pra trabalhar na campanha do ex-presidente.

No final das contas, “Se acaso de madrugada/chegar algum: volta para mim”, pode ter certeza que é a PF chamando ele novamente pra depor. Claro, se acharem alguma prova, não tenho dúvida de que ele vai falar “Hackearam-me! Hackearam-me!”.

SINAIS DO VELHO LOBO – Eu sou fã do velho lobo Mário Jorge Zagallo. Primeiro, ele ganhou Copa do Mundo como jogador e treinador, o que já é brabíssimo. Segundo, nós dois compartilhamos o senso de superstição.

No caso do Zagallo, ele tinha apego com o número 13. Qualquer coisa, ele ia lá e tentava relacionar com o número. “’Brasil Campeão’ tem 13 letras” é um clássico atemporal. Ele ganhou a Copa de 58 e 5+8=13. “Tetracampeões” tem 13 letras. Aliás, o tetra veio em 94, onde 9+4=13, com Zagallo de auxiliar. Claramente, a Copa de 2038 é nossa!

Eu tô falando isso, pois na semana passada, o Ibovespa marcou a pior sequência de quedas na história. O índice da Bolsa brasileira caiu 13 dias seguidos. Quer mais sinais que isso? “Renda Variável” tem 13 letras. “IBOV 175 mil pontos” tem 13 letras e três números, sendo que 1+7+5=13. E a prova máxima: “Dudu de Niterói” também tem 13 letras.

Fiquem ligados, meus sobrinhos. Os sinais estão em todo canto!

Sommelier – Cartas dos Gestores

Esquadrilha da fumaça

Por Gabriel Boente

No último sábado, a gestora carioca Squadra Investimentos, do glorioso Guilherme Aché, divulgou sua carta semestral aos cotistas. A asset está no mercado há muitos anos, mas ganhou uma mega notoriedade após expor a fraude das demonstrações financeiras da IRB Brasil (IRBR3).

Na última carta, um dos pontos que mais chamaram a atenção foi um parágrafo comentando sobre Fundos Imobiliários. Abre aspas:

Em bom português, eles chamam a atenção para gestoras que, pra deixar o dividend yield mais bonito, acabam pagando dividendos acima da geração de caixa. Como isso não é sustentável, os fundos precisam ficar realizando emissões de novas cotas ou se endividar para conseguir rodar essa bola de neve.

No fim das contas, é quase como passar o dinheiro do bolso esquerdo para o direito. Paralelamente, o patrimônio do fundo acaba derretendo, como um sorvete num dia quente aqui em Niterói.

Claro, por ser a Squadra, o mercado para e ouve (além de render algumas matérias no Brazil Journal). Inclusive, nós recomendamos fortemente a todos que leiam a carta, pois também há discussões interessantes sobre as teses de investimento deles.

Mas sem querer nos gabar, em junho deste ano, o nosso analista Pedro Ávila soltou uma thread no Twitter comentando exatamente sobre um caso desses.

Vídeos

Por Thiago Duarte

Uma das principais dúvidas que eu tive quando comecei a investir em ações foi: quantas ações eu deveria ter na minha carteira?

Se você é dos nossos e também faz stock pickingé bem provável que já tenha passado por isso também.

O problema é que eu demorei a encontrar um número que tivesse alguma explicação satisfatória por trás e funcionasse para o mercado brasileiro. A maioria do conteúdo que eu encontrava era quase que esotérico ou aplicado ao mercado norte-americano!

Por isso fiz este vídeo, no qual eu conto, com base matemática, qual o número mágico e qual intervalo preferencial você deve seguir!

Esse é mais um daqueles que vai fazer valer os 18 minutinhos de vida gastos para ver até o fim. Até porque eu acho que você não vai encontrar nada parecido por aí!

Agora, se você está começando no mundo dos investimentos, vai direto na playlistSão 11 vídeos que vão pegar na sua mão do zero e contar desde onde colocar a sua reserva de emergência, passando pelo conceito de ação, até chegar nas bases do investimento de longo prazo e nos ciclos de mercado.

É só clicar aqui e começar a assistir na ordem que está aí embaixo!

Bora tentar transformar o YouTube em um lugar com menos clickbait, menos anúncios de fim do mundo e menos vídeos que falam como se tornar um milionário investindo R$ 50 mensais por 50 anos para um lugar com mais informação de qualidade!

🎃 Off-topic

Nem só de mercado vivem os investidores.

Quem desligou o disjuntor do Brasil?

Por Saulo Pereira

No último dia 15 de agosto, muitos brasileiros foram pegos de surpresa com um apagão. Praticamente todos os estados foram afetados, com exceção de Roraima. Naturalmente, muitas especulações sobre o apagão surgiram na internet, até com pessoas colocando indiretas sobre a privatização da Eletrobras.

Uma analogia perfeita sobre o apagão seria: imagine que você tem um dedo infectado por algum vírus que está se espalhando rapidamente. Não há cura para a doença e ela pode afetar toda a sua mão. Para evitar perder a mão, o médico recomenda o corte do dedo.

De forma simplificada, a lógica é essa. Agora que você entendeu, vamos ao que aconteceu no sistema elétrico na última semana.

O sistema de energia do Brasil funciona através do Sistema Interligado Nacional, o SIN.

Cada linha representa uma linha de transmissão diferente, com diferentes tensões elétricas, popularmente conhecidas como “voltagem”. A ideia do sistema é muito boa, pois permite que os estados não sejam dependentes apenas de uma usina ou linha de transmissão.
O único estado que não faz parte desse sistema ainda é o de Roraima, por conta da dificuldade da criação de uma linha de transmissão a partir de Manaus. Até por isso que o estado não apagou nessa semana.

Você deve se lembrar do apagão que tivemos em 2001. Desde então, o sistema vem se modernizando e o ONS (Operador Nacional do Sistema, que é responsável por monitorar o SIN) implementou ao longo dos anos diversos sistemas de proteção para evitar blecautes como aquele.

Para entendermos por que o apagão recente foi um procedimento de segurança, vamos lembrar de um fator fundamental para a geração de energia elétrica no Brasil: ela acontece em uma frequência de 60 Hz. Podemos chamar isso de balanço de carga e geração, ou seja, a energia gerada é próxima da energia demandada.

Naturalmente, essa frequência não fica parada em 60 Hz a todo momento, ela sempre varia um pouco para mais ou para menos ao longo do tempo. O ONS estabelece que uma frequência saudável deve estar entre 59,9 Hz e 60,1 Hz. Mas como a frequência sai desses parâmetros e o que acontece?

Bom, são muitos fatores que podem ocasionar uma grande variação de frequência em pouco tempo, entre eles estão: sobrecarga, incêndios e até mesmo desarme de disjuntor. Vale lembrar que não é um disjuntor como aqueles que temos em casa.

Caso um problema desses aconteça e comprometa a integridade de alguns geradores ou até mesmo de uma usina completa, alguns procedimentos são acionados. Se a frequência cair até 0,5 Hz rapidamente, ou seja, até 59,5 Hz, os próprios geradores conseguem regular sua velocidade, de modo a levar a frequência para o mais perto dos 60 Hz. Em seguida o Controle Automático de Geração (CAG), dispositivo de segurança do ONS, completa o serviço levando a frequência do sistema de volta para os 60 Hz.

Agora, vamos ao caso que aconteceu semana passada. Todo o problema se iniciou em uma linha de transmissão da Chesf, uma subsidiária da Eletrobras (ELET6). Por conta de um erro, a linha parou de funcionar indevidamente e houve um desequilíbrio entre carga e geração. Isso provocou uma queda de frequência muito rápida para 59 Hz e depois para 58 Hz.

Como ela caiu mais de 0,5 Hz, os geradores não foram capazes de regular sua velocidade para a atuação do CAG. Aí quem apareceu em cena foi o ERAC (Esquema Regional de Alívio de Carga).

De forma técnica, o ERAC é um sistema especial de proteção específico para corte de carga por meio de subfrequência do sistema a valores preestabelecidos. Em outras palavras, ele é o médico que corta o seu dedo infectado para você não perder a mão.

O ERAC não vai cortar a carga do Brasil inteiro aleatoriamente. Existe uma quantidade de carga que é cortada de acordo com a frequência perdida. A tabela a seguir representa como ele atua no Sudeste.

Ou seja, se a frequência cair para menos de 58,5 Hz em um rápido período de tempo, 7% de toda a carga vai ser cortada de acordo com a prioridade, para que o sistema volte ao equilíbrio. Caso isso não aconteça, a frequência pode continuar caindo e teremos um blecaute parecido com o de 2001 ou até pior.

Na imagem abaixo, podemos ver a quantidade de carga que foi desligada em cada estado, para que o sistema voltasse ao equilíbrio.

Então, sim! O apagão da semana passada aconteceu por conta do ERAC, que atuou protegendo todo o SIN e evitando um blecaute no Brasil.

O restabelecimento da energia vai acontecendo gradativamente e de acordo com a prioridade de cada cliente. A maioria das residências não possuem a mesma prioridade de um hospital ou uma indústria de grande porte, por exemplo. Daí a importância de se contratar um bom engenheiro eletricista para avaliar a necessidade dessas prioridades

Essa não foi a primeira vez que o ERAC esteve em atuação. Em 2018, ele entrou em ação depois de uma falha na Usina de Belo Monte. Provavelmente não será a última também. Assim como acontece desde 2001, essas falhas ajudam o ONS a orientar as empresas para aumentar a segurança do SIN.

⏳ Atemporalidades

Leia agora, leve pra vida.

Aprendi o segredo da vida vendo as pedras que sonham sozinhas no mesmo lugar.” – Raul Seixas

A melhor maneira de se ter uma boa ideia é ter várias boas ideias.” – Linus Pauling

Há campeões de tudo, inclusive de perda de campeonatos.” – Carlos Drummond de Andrade

A moda sai de moda, o estilo jamais.” – Coco Chanel

Por hoje é só, pessoal 🤙

Bebam café, hidratem-se e lembrem-se: “Diário de Omaha” tem 13 letras.

Boa semana e bons negócios!

Por Leandro Siqueira

É especialista em ações da Spiti e bacharel em Economia pela UFRJ. Atuou na gestão de clube de investimentos e no banco de investimento Modal antes de fundar a plataforma de educação financeira Varos (ex-Edufinance). Hoje, lidera um time de sete analistas CNPI.

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