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Dinheirama Entrevista: André Bona, Assessor de Investimentos

por Conrado Navarro
3 min leitura

Dinheirama Entrevista: André Bona, Assessor de InvestimentosDesde que comecei esta jornada em prol da educação financeira (lá em 2007), tive a oportunidade de conhecer e aprender com muitos profissionais da área de investimentos e, assim, compartilhar com você, leitor, mais conhecimento, opções de leitura e informação de qualidade.

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Uma das pessoas especiais que conheci foi o André Bona, que é Assessor de Investimentos na Valor Investimentos, Agente autônomo de investimentos (CVM), CPA-20 (ANBIMA), Palestrante, instrutor de cursos sobre finanças pessoais e investimentos e responsável pelo “Blog de Valor”.

André é um entusiasta da educação financeira de qualidade e um profissional que entende muito de finanças e mercado financeiro. Conversamos sobre as principais dúvidas que os investidores iniciantes possuem e como investir de forma mais segura e rentável. Confira como foi nosso papo:

André, sempre recebemos a clássica pergunta “Qual é o melhor investimento?”. Suponho que isso também aconteça com você, certo? Afinal, que tipo de investimento é mais rentável?

André Bona: Volta e meia essa pergunta é feita pelos leitores do meu blog e por investidores iniciantes e, para um profissional especializado em investimentos, ela causa desconforto. Ocorre que estamos vivendo um boom dos investimentos. As pessoas, com o crescimento da renda, estão tendo a oportunidade de poupar parte de seus recursos e isso permite o acesso a novas possibilidades de investimentos.

Dessa forma, é bem natural que nossa população anseie por mais informações sobre o assunto. Uma pergunta aparentemente simples como essa é incrivelmente difícil de responder.

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Primeiro porque não há uma receita. Como vocês mesmos sempre orientam aqui no Dinheirama e também nos cursos que ministram, a decisão de investimentos deve sempre estar subordinada a um planejamento financeiro. Para cada planejamento, existem investimentos diferentes, com finalidades diferentes, prazos diferentes, rentabilidades diferentes e riscos diferentes.

Às vezes recebo um email assim: “André, invisto na bolsa ou na poupança?”. E a resposta é depende. Pode ser bolsa, pode ser poupança, os dois ou nenhum dos dois. Depende do seu planejamento financeiro e dos seus objetivos de curto, médio e longo prazo.

Você tocou em um ponto importante: objetivos alocados no tempo. Diante dessa observação, como um investidor deve, então, escolher os seus investimentos?

A. B.: A forma correta, que se mostra mais acertada a partir da nossa experiência, é aquela em que os produtos a serem investidos serão escolhidos apenas na última parte do processo. Primeiramente, é importante que exista um planejamento financeiro, um entendimento efetivo de objetivos, expectativas de retorno, tolerância do investidor ao risco e necessidades de liquidez. Essa primeira parte é que vai nortear totalmente o processo de investimentos.

Em um segundo momento ocorre a definição da política de investimentos. Essa etapa consiste num estudo quantitativo e qualitativo das proporções de determinadas classes de investimentos na carteira e a sua contribuição para uma relação risco x retorno global.

Nessa segunda etapa, avaliam-se os investimentos não como produtos, mas ainda como classes. Exemplos de classes: renda variável, renda fixa, multimercados, inflação, DI, imóveis e etc.

O produto final dessa segunda etapa é a definição da alocação por classes de ativos e os percentuais de cada classe na montagem de uma carteira.

A terceira etapa consiste na seleção dos produtos de investimentos disponíveis no mercado financeiro por classe de ativo. Nesta hora, se a política de investimentos contemplar 30% em fundos multimercados, então se deve procurar os melhores fundos multimercados do mercado para aquele nível de risco e objetivos de retorno do investidor.

É somente na terceira etapa que os produtos (fundo do banco A, LCI do banco B, CDB do banco C, carteira de dividendos, small caps, fundos imobiliários, NTN-Bs, LTNs ou LFTs e etc) são definidos.

Muito interessante essa abordagem mais pragmática e, ao mesmo, tempo bem definida dos passos para se tomar uma decisão de investimento. Mas isso não dá muito trabalho para o pequeno investidor? Como o investidor iniciante deve fazer para elaborar tudo isso?

A. B.: Sim, dá trabalho, claro. Mas já vimos casos de prejuízos absurdos pelo simples fato de o investidor não se dedicar a esse processo. É importante salientar que essas horas de dedicação inicial economizarão muitas horas e muita dor de cabeça para o resto da vida. Por isso acho imprescindível que o investidor se disponha a investir tempo nessa etapa. Ao não fazer isso, corre-se o risco equivalente ao de comprar um carro popular por 100 mil reais. Você compraria?

O ideal mesmo seria que cada pessoa tivesse como contratar os serviços de um consultor financeiro não vinculado a nenhuma instituição financeira. Esse é o papel de um consultor: orientar o seu cliente e auxiliá-lo na aquisição de serviços financeiros alinhados com seus objetivos, auxiliando no gerenciamento do endividamento, planejamento de investimentos e realização de objetivos diversos. Enfim, acredito muito no modelo de um consultor financeiro pessoal como já ocorre com o médico da família.

Na área de investimentos, onde atuo especificamente, atendemos investidores que possuem esses consultores pessoais. Normalmente são investidores que possuem patrimônio financeiro investido acima de R$ 1 milhão. Até porque o custo/hora de um consultor como esse é mais elevado, dependendo da finalidade da consultoria.

Nos segmentos de Wealth Management (WM) e Private banking (para investidores geralmente com investimentos de pelo menos R$ 2 milhões), as instituições financeiras disponibilizam um atendimento mais próximo da consultoria financeira. Claro que devemos observar que um banco sempre terá por finalidade a venda de seus produtos.

Já os investidores que se posicionam abaixo do segmento WM, o importante é investir muito em aprendizado, seja através de leitura especializada (e existe muito material de qualidade na internet – e também muito lixo), participação em cursos, palestras e não acreditar cegamente nas coisas sem ao menos comparar oportunidades entre as instituições financeiras.

O aprendizado é importante, pois sem o aprendizado o investidor nem tem como comparar nada, pois não tem conhecimento pra isso. E depois é fazer o acompanhamento e o ajuste periódico das posições, sempre antenado no cenário macro.

Se você tivesse que apontar o erro mais comum do investidor, qual seria?

A. B.: Eu digo que um que chega a dar coceira é quando um investidor toma uma decisão de investimento baseado em rentabilidade passada. Isso é muito triste. Sei de casos em que gerentes de banco venderam fundos de inflação para clientes em janeiro deste ano, baseando-se nas rentabilidades dos anos anteriores.

Ocorre que o cenário mudou e esses fundos perderam rentabilidade e hoje estão completamente fora das nossas sugestões. Nós estamos no alerta quanto a esses fundos desde novembro, monitorando crescimento econômico, possibilidade de alterações da Selic (aqui está o maior risco para esses produtos) e trajetória da inflação.

Em dezembro, por exemplo, não sugerimos novos posicionamentos em inflação. Em janeiro. o alerta vermelho acendeu forte e em fevereiro sugerimos reduções drásticas nessa posição. Enquanto estávamos tentando achar o timing de saída da posição, vários investidores estavam comprando, totalmente na contramão do cenário macroeconômico.

O resultado você vê aí, basta dar uma olhada no desempenho desses fundos desde janeiro.

Peguei em minhas mãos o caso de um investidor que recebeu uma herança de R$ 2,5 milhões. Ele aplicou tudo em um fundo de inflação em janeiro, olhando a rentabilidade passada. Infelizmente, ele está pagando um preço elevadíssimo por não ter se dedicado às etapas anteriores. E ainda foi convencido de que agora deveria segurar essa posição para “esperar voltar”.

O fato é que o cenário mudou. Na primeira elevação de Selic que houver, a situação ficará insuportável. E a alta de Selic é esperada por mais de 90% das áreas de análise de bancos de investimentos, assets e corretoras.

Enfim, comprar pela rentabilidade passada é um erro grave e com custo de aprendizado elevadíssimo.

Você mencionou o cenário econômico brasileiro, que tem passado por mudanças bastante interessantes nestes últimos anos. Qual sua recomendação para pessoas e famílias interessadas em investir diante de dias como os de hoje?

A. B.: Com todas essas mudanças no cenário econômico mundial, queda de taxas de juros, riscos espalhados por todo lado, a minha recomendação é que as pessoas se informem. Façam cursos, participem de palestras e dediquem atenção ao tema. Sem isso, vão “correr atrás do rabo” e não avançarão da forma como poderiam avançar em suas finanças.

O período de ganhar dinheiro sem risco está nas últimas. Por isso, é bom aprender para não ficar a mercê dos gerentes de bancos, por exemplo, cuja atividade não é de educação financeira, mas sim de venda de produtos bancários.

E devemos observar que não há mal nenhum no trabalho de um gerente bancário. O que está errada é a nossa percepção, enquanto população, sobre a atividade que ele desempenha, que é de venda de produtos do banco conforme metas estipuladas e não consultoria financeira isenta.

André, muito obrigado por sua participação e disponibilidade. Deixe uma mensagem com um resumo de seu trabalho e indique seu site para que nosso leitor possa conhecê-lo.

A. B.: Eu que agradeço Navarro e equipe, parabéns pelo trabalho realizado. De nossa parte, realizamos palestras gratuitas online sobre investimentos para todo o Brasil. Quem tiver interesse, basta visitar o “Blog de Valor” clicando em www.blogdevalor.com.br e conferir a agenda. Estão todos convidados!

Foto: divulgação.

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