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Dinheirama Entrevista: Augusto Miranda, Diretor de Gestão de Patrimônio do HSBC

por Conrado Navarro
3 min leitura
Dinheirama Entrevista: Augusto Miranda, Diretor de Gestão de Patrimônio do HSBC

Se você acompanha meu trabalho há algum tempo, deve perceber que sempre procurei discutir muito o aspecto cultural do brasileiro quando o assunto é dinheiro. Fico com a sensação de que ter uma economia estável tão jovem contribui para a ausência de uma cultura de investimento mais consolidada.

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O que podemos fazer neste sentido? Desmistificar a questão é um ótimo começo. Conversei sobre isso com Augusto Miranda, responsável pela Gestão de Patrimônio do HSBC. Miranda está no banco desde 2007, tendo atuado na Corretora e no Private Banking. Sua última posição foi como diretor em uma das áreas internacionais do Private Bank.

Augusto é graduado pela PUC/SP, pós-graduado em Portfolio Management pelo INSPER e tem especialização em gestão e liderança pela Universidade Harvard.

Confira como foi nosso papo:

Augusto, no Brasil parece que investir não é um hábito que faz parte da cultura dos brasileiros. Você concorda com essa visão? O que pode ser feito para mudar essa percepção (ou realidade)?

Augusto Miranda: A disciplina para investir é uma das principais características que deve ganhar mais importância na mente dos investidores brasileiros. Parte da “não-disciplina” é cultural, sem dúvida, mas temos que valorizar o crescimento dos investidores disciplinados que já temos no país.

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Investir depende muito de dois componentes: conhecimento e experiência. Sem eles – ou alguém que possa orientá-lo – o investidor de média/alta renda, que tem capacidade de poupança, continuará somente “poupando mais e mais”, em curto prazo, e dificilmente terá um plano de investimento.

Este cenário vem mudando ao longo dos anos com a queda na taxa de juros reais que, por sua vez, criou no passado uma cultura de investimento de curto prazo e uma visão mais simplista de risco e retorno – análise em percentual de CDI.

É comum as pessoas confundirem poupar com investir e, além disso, tratarem o investimento como uma coisa distante de sua realidade. Quais os principais mitos sobre investimentos e como lidar com eles?

A. M.: De acordo com alguns acadêmicos, poupar (saving em inglês) significa não destinar toda a renda para o consumo. Investir, por outro lado, significa a escolha dos ativos que serão comprados. É possível investir de forma segura ou investir em ativos de risco, ou ainda optar pela combinação dos dois.

As pessoas de baixa e média renda têm a falsa percepção de que investir é somente para quem tem muito dinheiro. Isso não é verdade. Existem muitos fundos de investimentos com valor mínimo de entrada inferior a R$ 100, além de outros instrumentos como o Tesouro Direto, por exemplo.

Finanças Comportamentais é o nome da “ciência” que estuda o comportamento do investidor e tem como um dos principais teóricos o ganhador do prêmio Nobel Daniel Kahneman. Este estudo cita alguns dos comportamentos que Investidores e potenciais investidores apresentam.

Sobre os mitos para os investimentos, abrir mão da liquidez é um dos mais comuns. Isso significa que vários investidores poderiam investir parte de seu capital em produtos com carência de resgate e em troca teriam melhores retornos.

Outro mito bem popular entre investidores de mais alta renda é que investir no mercado internacional é complexo e pouco rentável. Neste segundo caso, a oportunidade é enorme e de fácil alocação – por exemplo, por meio de fundos no Brasil que investem em ativos internacionais.

Você acredita em iniciativas de educação financeira? Pode comentar um pouco sobre como o conhecimento, a informação e o interesse do cidadão pode mudar sua realidade financeira?

A. M.: Acredito, e muito, em educação financeira e também creio que cada vez mais as instituições financeiras devem auxiliar os clientes no assunto. Meu ponto baseia-se no fato de que vivemos na era da informação e todos nós estamos expostos a centenas de dados todos os dias.

A capacidade de entendimento destas informações e de transformá-las em decisões de investimentos é algo que está além da capacidade de compreensão de grande parte das pessoas. Aqui entram as instituições financeiras, com o papel fundamental de fazer o tratamento da informação para que possa ser compreendida pelos clientes.

E a partir dessas informações pode-se apresentar uma estratégia de investimentos para cada perfil de Investidor. Esse processo de investimento, quando feito com frequência, é uma metodologia prática de educação financeira e pode, sim, mudar a realidade financeira de qualquer pessoa.

Há muita discussão em torno da caderneta de poupança e seu retorno, praticamente o mesmo da inflação. Que alternativas o Investidor possui e quando ele deve usá-las?

A. M.: Diversificação de investimentos é o nome do jogo. Nossos estudos comprovam que investimentos diversificados em cinco diferentes classes de ativos teriam rendido 15% mais que o CDI nos últimos 11 anos.

Com relação à poupança, podemos dizer que é uma boa alternativa para o “poupador” guardar recursos não consumidos e fazer a manutenção do poder de compra destes recursos. Mas não é para o investidor que busca, além da manutenção do poder de compra dos seus recursos, rendimento real ou acima da inflação.

Como o Investidor iniciante deve encarar esse restante de ano desafiador, com Eleições e perspectivas econômicas polêmicas? Onde investir para poder dormir tranquilo?

A. M.: Não existe uma resposta simples e única, o mais recomendado em todos os cenários é diversificar seus investimentos. Independente do cenário é possível por meio de um processo de diversificação de investimentos, capturar as melhores oportunidades, independente do momento do mercado. O processo de investir passa por:

  • Identificar o perfil do investidor e sua tolerância à tomada de risco;
  • Definir o percentual de alocação para cada classe de ativo;
  • Escolher os produtos para cada classe de ativo e estabelecer a frequência com que o portfólio de investimentos será revisto.

Este processo garante investimentos com a melhor relação entre risco e retorno para cada perfil de investidor independentemente da experiência desse investidor e do momento de mercado.

Augusto, obrigado pela disponibilidade. Por favor, deixe uma mensagem final para nossos leitores.

A. M.: Melhor que investir muito é investir sempre. É importante ter objetivos financeiros claros e temporais, pois isso ajuda muito na disciplina de investimento. Conhecimento e experiência sobre investimentos vêm com o tempo. Aqui, de fato, podemos falar que tempo é dinheiro. Obrigado e até a próxima.

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