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Dinheirama Entrevista: Felipe Miranda, Sócio da Empiricus e Autor do Relatório “O fim do Brasil”

por Ricardo Pereira
3 min leitura
Dinheirama Entrevista: Felipe Miranda, Sócio da Empiricus e Autor do Relatório “O fim do Brasil”

Temos acompanhado com bastante curiosidade os acontecimentos e possíveis desdobramentos da economia brasileira. Atravessamos uma crise que se arrasta por um bom tempo no mercado internacional e também dificuldades no cenário doméstico. A cada semana observamos revisões no crescimento do país e o governo vê suas “armas de fogo” ficarem sem efeito prático.

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Em 2014, o Plano Real comemora seu vigésimo aniversário e nessa atmosfera de dificuldades e desafios ainda temos no horizonte próximo eleições presidenciais. Ao que tudo indica, estaremos diante de uma das mais acirradas disputas do atual modelo democrático, pós-regime militar.

Nesse contexto conversei, com o Felipe Miranda, sócio-fundador da Empiricus Research. Felipe é formado em Economia pela FEA-USP e têm especialização em Finanças pela Fundação Getúlio Vargas, além de ser analista certificado CNPI.

Na segunda-feira, Felipe escreveu um texto bastante polêmico sobre a crise brasileira (clique aqui para acessá-lo). Ele faz um alerta importante: “Podemos estar presenciando o fim do Brasil”. Acompanhe nossa entrevista para entender o contexto do aviso e suas opiniões.

Estamos completando 20 anos de Plano Real. Durante esse tempo, experimentamos momentos de crescimento e crise. Quais são suas impressões sobre o atual cenário econômico e para o futuro próximo do Brasil?

Felipe Miranda: Acho o momento particularmente difícil. O crescimento econômico em 2014 não deve passar de 1% – a rigor, as estimativas de consenso ainda apontam 1,05% apenas porque algumas casas ainda estão revisando suas projeções. O Itaú, por exemplo, acaba de atualizar sua expectativa para apenas 0,7%.

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Enquanto isso, a inflação em 12 meses já supera o teto da meta. O IPCA em 12 meses marca variação de 6,52%, isso mesmo com controle de preços em alguns setores, como energia e petróleo.

Ou seja, temos hoje a famosa estagflação – baixo crescimento econômico e alta inflação, o pior dos mundos. E sem perspectiva de mudança, porque os formuladores de política econômica insistem em dizer que está tudo bem. Se erramos no diagnóstico, não podemos ter um bom prognóstico.

Com a crise de 2008, o Brasil adotou medidas consideradas anticíclicas que, em determinado momento, pareciam ser positivas. Continuamos com o consumo mantendo o crescimento do país e também o emprego se manteve em níveis interessantes. O que te leva a considerar um retrocesso no país e um agravamento da crise?

F. M.: A chamada nova matriz econômica, que resume esse conjunto de medidas a que você se refere, tem sido a raiz dos problemas. Perseguimos juros baixos, câmbio competitivo e política fiscal expansionista.

Vamos começar do final, da política fiscal. O governo gasta demais – a relação Consumo do governo sobre PIB bateu 22%, o patamar mais alto de toda a série histórica, iniciada em 1995.

Sob um discurso supostamente keynesiano, de que o governo tem de aumentar os gastos para salvar a economia da crise, a política fiscal tem sido desastrosa. Quando Keynes fez essa formulação, ele pensava na variável Investimento e em seus efeitos multiplicadores, e não no Consumo do Governo.

Quando investe, o empresário contrata mais ao expandir sua capacidade produtiva, aumenta a massa salarial e os trabalhadores passam a consumir mais. Assim, o empresário vê mais demanda dos consumidores e decide por uma nova rodada de investimentos, entrando num ciclo virtuoso.

O governo deturpou isso. Não aumenta seus investimentos, e explode seu consumo. Qual resultado? A política fiscal gastadeira implica empurrão à demanda agregada em ritmo superior à expansão da oferta agregada. Qual o corolário óbvio de demanda superior à oferta? Aumento de preços. É o que temos visto: inflação.

Para lembrar Thomas Sargent, Nobel de Economia em 2011, “a inflação é iminentemente um fenômeno fiscal”.

Independente da vitória da Presidente Dilma ou de m candidato da oposição, o ano de 2015 será de dificuldades e aperto fiscal?

F. M.: Certamente será um ano de dificuldades. Se será de aperto fiscal, eu sinceramente ainda não sei. O atual governo insiste no sucesso da nova matriz econômica, cuja essência se apoia em maiores gastos fiscais.

Então, não saberia dizer se o ajuste fiscal já chegará em 2015. Talvez empurrem um pouco mais pra frente o problema, escondam um pouco mais da poeira embaixo do tapete e deem uma nova pedalada. Criatividade nas Contas Nacionais não seria novidade.

O ponto aqui é que temos de torcer para que o ano de 2015 seja de ajuste. O remédio é amargo, mas devolveria o País à rota do crescimento de longo prazo.

Se não ajustarmos, a conta será maior à frente. Daí será “padrão Felipão” mesmo. Depois do placar Inflação 7 x 1 Crescimento visto em 2014, jogaremos em 2015 para tomar mais três gols. Sem ajuste fiscal, pode apostar num placar de Inflação 10 x 1 Crescimento.

Pensando sob o ponto de vista do investidor, o que vocês estão preparando em termos de relatórios e recomendações para que os efeitos de um possível agravamento da crise possam ser diminuídos?

F. M.: O primeiro objetivo deve ser a preservação do capital, considerando aqui a inflação, claro. Isso implica, no geral, investimento em títulos atrelados à inflação (em detrimento aos prés), posicionamento em ativos mais seguros e apostas anticíclicas. Há que se ter também um pouco de reservas clássicas de valor, como ouro e dólar.

Além de cuidar da preservação do patrimônio, as crises costumam oferecer boas oportunidades para quem esta atento e tem à disposição boas informações. Qual sua recomendação em relação aos setores que podem oferecer boas possibilidades para o futuro?

F. M.: Se você se refere à Bolsa especificamente, eu evitaria qualquer setor dependente de capital e/ou de crescimento futuro. Preferiria empresas com sólidas posições de caixa, baixo endividamento, margens altas e forte fluxo de caixa.

Se tivesse que apontar dois setores, falaria de infraestrutura, porque o atual modelo de crescimento apoiado no consumo está esgotado e um novo ciclo exige infra; e agrícola, porque terras costumam se valorizar em tempos bem difíceis.

Em relação aos problemas atuais como forma de prevenção e alerta também preparamos um relatório abrangente sobre o futuro, com acesso gratuito ao leitor do Dinheirama (clique aqui para ler).

Felipe, muito obrigado pela disponibilidade. Por favor, deixe um recado final para os leitores do Dinheirama que acompanham seu trabalho e que desejam saber um pouco mais sobre o tema da entrevista.

F. M.: Gostaria de dizer que o ajuste será grande no curto prazo e que é importantíssimo estarmos preparados. Entretanto, mantenho o otimismo, pois, depois de termos apertado o cinto, os frutos virão à frente.

É fundamental uma proposição construtiva, conforme estamos propondo. O Brasil é um País maravilhoso e cheio de oportunidades. Antes, porém, teremos de fazer uma mudança fundamental de rota e precaver-nos ao máximo.

Convido o leitor a acompanhar nosso trabalho mais de perto, acessando sempre www.empiricus.com.br e assinando nossas newsletters. Obrigado, parabéns pelo excelente trabalho e até a próxima.

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