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Dinheirama Entrevista: Ione Amorim, Economista e Pesquisadora do Idec

por Conrado Navarro
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Dinheirama Entrevista: Ione Amorim, Economista e Pesquisadora do Idec

Como você lida e se relaciona com o crédito? O que pensa das taxas de juros praticadas no Brasil? Você está satisfeito com as iniciativas de educação financeira com as quais mantém contato?

Fiz perguntas bastante parecidas para Ione Amorim, Economista e Pesquisadora do Idec – Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor. O cenário é muito desafiador para quem vive pendurado em dívidas e merece atenção.

Conversamos sobre esta realidade e sobre o curso presencial “Como cuidar do seu dinheiro” (clique para detalhes), que ela ministrará em São Paulo. A conversa foi muito bacana e você acompanha abaixo:

Ione, quais devem ser os cuidados dos consumidores diante da atual situação econômica do Brasil? Como lidar com a inflação alta e falta de perspectivas?

Ione Amorim: A crise do baixo crescimento teve início em 2012 e se acentuou muito nos últimos anos, com forte impacto na vida do consumidor (moradia, transportes, alimentação, saúde, emprego e crédito); um conjunto de más notícias, inflação, juros e desemprego que pode colocar em risco o equilíbrio financeiro de muitas famílias.

Para atravessar o momento de crise e a incerteza de garantia de emprego, os consumidores devem estar atentos aos gastos, uso do crédito e estabelecer um planejamento para driblar a alta dos preços e o uso do crédito facilitado (cheque especial, cartão de crédito).

O cenário é preocupante e requer uma disciplina financeira mais rigorosa. Mas esse movimento não deve ser feito em clima de caos tipo “tudo de pior vai ocorrer agora”. O momento requer planejamento justamente para atravessar o período difícil com o mínimo de ordem.

Reunir a família e discutir o assunto coletivamente para encontrar opções e construir um orçamento doméstico coletivo resultam em maior comprometimento de todos os envolvidos.

Para iniciar o processo de planejamento financeiro é importante colocar numa planilha todos os gastos realizados por cada membro, considerar também os pontos que independem diretamente do controle da família, como os aumentos de preços de serviços públicos (água, energia elétrica), combustível e medicamentos.

Como você enxerga o atual uso do crédito pelos brasileiros? Dá para dizer que há um endividamento realmente sob controle ou a expansão agressiva dos empréstimos tem causado problemas nas nossas famílias?

I. A.: A ascensão de uma parcela representativa das classes D e E, quando muitos consumidores foram estimulados ao consumo e a oferta de crédito fácil, sem nenhum critério de avaliação e total desconhecimento de como lidar com a questão, resultou no crescimento da inadimplência e do superendividamento das famílias.

Em todos os perfis de consumidores encontramos o endividamento em elevação: jovens estimulados pelo consumo de produtos eletrônicos e financiamento estudantil, idosos endividados no crédito consignado e compra de medicamentos sem nenhum equilíbrio de renda e os demais grupos estimulados pelo consumo e uso do crédito facilitado e até com a garantia de imóveis.

Falando em empréstimos, quais as principais reclamações e observações feitas ao Idec em relação ao uso do crédito e compras parceladas?

I. A.: A utilização do crédito como fator de crescimento econômico elevou o nível de endividamento das famílias, despreparadas para lidar com a relação de taxa de juros, linhas de crédito e contratos.

Além disso, a publicidade enganosa e o desequilíbrio nas relações contratuais das instituições de crédito, somados a uma regulação insuficiente e sem fiscalização por parte do Banco Central, contribuíram para o cenário atual.

A oferta de crédito ostensiva para consumo imediato é uma prática equivocada e frequente, fruto do desconhecimento da maioria da população. O crédito deveria ser utilizado pelo consumidor como ocorre nas empresas, um recurso financeiro para ajudar a promover o crescimento patrimonial, sustentabilidade futura, segurança e agregar valor aos bens existentes.

Mas, infelizmente, em razão da elevação da taxa da inflação e dos juros, o salário vai encolhendo e não acompanha o aumento dos preços e os consumidores acabam recorrendo ao cheque especial e ao cartão de crédito para conseguir, ao final do mês, garantir a sobrevivência (moradia, transporte, educação, saúde).

As linhas de crédito com garantia, como o crédito consignado, imobiliário e veículos são amplamente oferecidas. O governo reduziu o IPI dos veículos para estimular a venda de carros, facilitando o acesso a este bem.

Além disso, simplificou as regras para que os bancos possam fazer a busca e a apreensão para os casos de inadimplência, proporcionando mais segurança e garantias para as instituições financeiras em detrimento dos consumidores, que compram veículos avaliando somente a prestação.

Isso sem falar da relação entre consumidor e vendedor, em que compradores ficam presos a contratos repletos de cobranças abusivas e cláusulas leoninas, tendo que recorrer à Justiça para obter revisão do contrato e continuar pagamento o financiamento.

As pesquisas realizadas pelo Idec apontam a falta de transparência na oferta de crédito; os bancos não fornecem os contratos, praticam venda casada de seguros e título de capitalização em operações de crédito, concedem até 60 dias para começar a pagar e não informam que cobram juros por esse período (há casos de não informação do custo efetivo total nas operações de crédito).

Nos simuladores de crédito avaliados nas pesquisas, a oferta de parcelamento com maior número de meses é apresentada em primeiro plano, sem orientação para a questão dos juros praticados no longo prazo. Além disso, a liberação de crédito em canais de autoatendimento acontece de forma ostensiva e facilitada, sem informar os riscos e com utilização de papeis termo sensíveis.

Todas as práticas observadas nas pesquisas são potencializadas pelo desconhecimento do consumidor sobre matemática financeira e a passividade ao aceitar as propostas de crédito apresentadas pelas instituições financeiras, sem pesquisar ou questionar os responsáveis (alguns tentam induzir os clientes a acreditarem que estão sendo beneficiados com as melhores condições do mercado).

O Idec promoverá o curso “Como cuidar do seu dinheiro” (clique para inscrição), no dia 28 de maio. Conte-nos um pouco mais sobre o curso, o que o leitor poderá aprender, onde acontecerá e como garantir participação.

I. A.: No curso promovido pelo Idec, o consumidor receberá orientações sobre a importância do controle do orçamento doméstico e principais os fatores de afetam o equilíbrio financeiro, como planejar as finanças domésticas, as armadilhas da publicidade, o uso do crédito, como evitar o superendividamento, direitos garantidos pelo Código de Defesa do Consumidor e a importância da poupança.

Abordarei também os perfis e comportamento dos consumidores e os seus hábitos de consumo, as armadilhas no comércio, nos supermercados, a função do crédito, como funcionam cada modalidade, a dinâmica das taxas de juros e como comparar e buscar as taxas oferecidas no mercado.

Dedicarei especial atenção a como preparar o planejamento financeiro, reconhecer o tipo das despesas e programar os gastos. O conteúdo será apresentado a partir de estudos de caso com exercícios práticos e como utilizar a planilha de orçamento doméstico elaborada pelo Idec e disponível gratuitamente para download no site.

Abaixo mais informações sobre o curso “Como cuidar do seu dinheiro”:

  • Data: 28 de maio de 2015, quinta-feira;
  • Horário: 18h00 às 21h00;
  • Local: Auditório do Idec (Rua Desembargador Guimarães, 21, Água Branca, São Paulo, SP);
  • Coordenação: Ione Amorim, Economista e Pesquisadora do Idec;
  • Investimento: R$ 49,00 (R$ 59,00 após 25 de maio);
  • Desconto: 20% para associados do Idec;
  • Certificados: serão conferidos certificados digital para os participantes presentes;
  • Vagas limitadas;
  • Inscrições até o dia 27 de maio – clique aqui para garantir sua vaga!

Qual a sua opinião sobre o nível das iniciativas de educação financeira existentes no Brasil? Como você acha possível ampliar o alcance de ensinamentos como os que vocês e nós oferecemos?

I. A.: As iniciativas estão crescendo significativamente, mais ainda há um longo caminho para alcançarmos um patamar que permita o consumidor administrar com tranquilidade o orçamento doméstico, ou no mínimo se fortalecer diante do assédio constante da oferta de crédito.

As instituições financeiras colocam em seus sites cartilhas e dicas sobre educação financeira, mas ao mesmo tempo, na outra ponta, continuam praticando a oferta ostensiva do crédito fácil sem critério, sem contrato ou com cláusulas abusivas, com taxas de juros elevadas, venda casada e através de publicidade enganosa; a falta de transparência continua induzindo o consumidor ao risco do endividamento.

Creio que dentro do tema educação financeira existe uma segmentação. Para algumas instituições o tema está relacionado com a utilização dos recursos, os tipos de investimentos, como fazer aplicações e quais os melhores tipos de ativos.

Outras empresas têm uma visão histórica, envolvendo a origem do dinheiro e o seu papel na sociedade; outros, por fim, surgem com uma proposta mais associada ao comportamento e a relação com a Psicologia Econômica.

Enfim, todas estas iniciativas se traduzem em oportunidades de administrar melhor a relação com o dinheiro. Entendo que se aplicarmos estes ensinamentos desde a educação básica até os idosos, poderemos minimizar os riscos do superendividamento de forma consistente.

Ione, obrigado pela participação. Aproveito para parabenizá-la pelo trabalho realizado no Idec. Aproveite este espaço final para explicar o objetivo do Idec e como nosso leitor (e consumidor) pode aproveitá-lo.

I. A.: O Idec orienta, informa, defende e mobiliza os consumidores por uma sociedade mais justa. Nós lutamos para que todos tenham acesso à bens e serviços essenciais, pelo equilíbrio nas relações de consumo e pelo consumo sustentável.

O Idec é mantido com as contribuições de seus associados, doações, vendas de livros e cursos. Para garantir a sua independência, o Idec não aceita doações de empresas e/ou partidos políticos. Convido o leitor a ajudar o Idec a manter o seu trabalho: associe-se ou faça uma doação pelo nosso site – www.idec.org.br – e ajude a criar um Brasil mais consciente.

Obrigado ao Dinheirama pelo espaço e parabéns pelo excelente trabalho. Até a próxima

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