Home Mercados Dinheirama Entrevista: Ismael Santos, Fundador do Bookshare

Dinheirama Entrevista: Ismael Santos, Fundador do Bookshare

por Conrado Navarro
0 comentário
dinheirama-entrevista-ismael-santos

Ah, como é bom e importante ler. A leitura nos transporta para histórias, momentos e pontos de vista diferentes e nos permite aprender com o aprendizado do outro (o autor). A leitura é um dos hábitos mais fascinantes e relevantes para quem deseja se destacar na vida e na carreira.

Você lê muito? Já pensou poder emprestar e pegar emprestado livros capazes de mudar sua vida? O empreendedor Ismael Santos criou o Bookshare.com.br, uma plataforma gratuita que ajuda neste sentido.

Amante da leitura, entusiasta das redes sociais e consumo colaborativo, Ismael é empresário, empreendedor e idealizador do Bookshare, graduando em Administração de Empresas e sócio da Intelecto Contact Center.

Ismael tem vasta experiência em gestão de equipes comerciais, recursos humanos e tecnologia da informação, com passagens por empresas como Condor Supercenter, Hugo Cini S/A, Employer Organização de Recursos Humanos e TLD Teledata Tecnologia em Conectividade.

Confira como foi nossa conversa:

Ismael, sempre insistimos no Dinheirama que ler é um hábito que pode criar muitas oportunidades, independente da área de atuação e nível de conhecimento. Você concorda? O que pensa sobre isso?

Ismael Santos: Concordo. As pessoas podem se transformar através da leitura de livros. A constatação é do pós-doutor Ezequiel Theodoro da Silva, professor da Unicamp (SP), que dedicou seus anos de estudo à temática da leitura. Ele diz que uma biblioteca amplia a visão do mundo e as fronteiras de participação dentro da própria comunidade.

“Acho que um acervo leva com ele a esperança de fazer as pessoas se movimentarem para outros lugares”, afirma Ezequiel. “O livro é o mestre dos mestres. Ele contém possibilidades. Mas sozinho é morto. Quem dá vida para ele é o leitor”, completa ainda em seus trabalhos.

Além disso, 2015 será o ano da leitura. Mark Zuckerberg, fundador do Facebook, decidiu ler 1 livro a cada 15 dias em 2015. E, recentemente, a Endeavor publicou um artigo chamado “10 Tendências de Consumo e Inovação para 2015”, onde uma das tendências, Bright is Beautiful, é a do incentivo à leitura:

“Ajude a alimentar o amor pelo conhecimento como status. O que isso significa para as marcas em 2015? Além de integrar o aprendizado e experiências literárias ao dia a dia dos consumidores, pense como você pode ajudar os consumidores a expressar (ou exibir) seus conhecimentos. Você pode ajudá-los a fazer isso via redes sociais? Na América Latina, as pessoas gastam mais tempo nelas do que em qualquer outro lugar do mundo, em torno de 8.67 horas por mês (comScore, julho de 2014). E se a oportunidade estiver no universo offline? Até mesmo um par de jeans pode ser usado para exibir o amor pela literatura.”

Com o surgimento dos dispositivos digitais e da Internet, um volume muito maior de conteúdo passou a ser produzido. Você acha isso positivo? Como aproveitar esta mudança e que armadilhas devemos evitar?

I.S.: Como já disse o CEO da Penguin, Markus Dohle, um dos editores mais poderosos do mundo: “A relação entre o impresso e o digital é uma soma, são os dois, não é uma questão de um ou de outro”.

No Brasil, a tecnologia digital não parece tão promissora quando o assunto são os livros, revistas e jornais. Um dos principais obstáculos para a adoção em massa do e-book (livro digital) pode estar ligado à profunda afeição que as pessoas possuem pelo livro tradicional de papel.

Na Inglaterra testemunha-se um movimento similar: enquanto as vendas de livros impressos aumentam, as vendas de Kindle caem. O cenário vai ao encontro de uma pesquisa da Nielsen, de 2014, que afirma que 67% dos livros comercializados nos EUA são impressos.

Outro dado curioso divulgado pela Nielsen, em dezembro passado, é de que os adolescentes heavy users de novas tecnologias preferem os livros impressos aos e-books. A razão: os jovens costumam emprestar livros aos seus amigos, algo que normalmente é mais fácil de fazer com exemplares impressos.

Aproveitando sua paixão pela leitura, quais foram os 5 livros que mais impactaram sua vida? Por quê?

I.S.: Essa é uma ótima pergunta, vou resumir abaixo os cinco livros que mais mudaram minha vida:

Livro “Made in America”

Este livro conta a biografia de Sam Walton, fundador do Walmart. O livro foi escrito em primeira pessoa e contém diversas fotos e narrativas que relatam o começo árduo e, talvez para muitos, improvável sucesso de Sam Walton quando da fundação da maior companhia de varejo do mundo.

É impossível não se emocionar, tampouco não se inspirar com os depoimentos das dificuldades e lutas para transformar o Walmart no que é hoje. Quando Sam Walton faleceu, em 1995, o Walmart faturava 50 bilhões de dólares e a sua atuação estava restrita aos EUA.

Atualmente, a companhia está presente no mundo todo e faturou em 2014 não menos que 400 bilhões de dólares. A reverência que os empregados têm para com o fundador é ímpar. Boa parte da governança que impera na companhia hoje em dia é resquício dos valores incutidos pelo fundador.

Em resumo, após ler este livro é impossível o leitor não sentir uma dose de ânimo extra para tirar do papel toda e qualquer ideia de negócio, por mais arriscada que seja. Ah, quando fundou ou Walmart, Sam Walton já estava na “terceira idade”. Outra característica louvável foi de que ele soube que era o homem mais rico do mundo pelos jornais, tamanha despreocupação com a questão financeira. Seu foco era o cliente.

Livro “Subliminar”

Se você acha que a decisão de se casar teve como fundamento o amor, é provável que pense melhor depois de ler este livro. Por trás do pensamento consciente age uma parte desconhecida de sua mente. Esta parte desconhecida influencia na escolha do parceiro, na compra de um vinho e até de um par de meias.

As experiências relatadas no livro são fenomenais. A que mais me chamou a atenção foi a experiência que fizeram com a Coca-Cola e a Pepsi: dois grupos foram formados, sendo um totalmente normal e outro com uma lesão numa região do cérebro que afeta a nossa opinião com base nas marcas.

Ambos os grupos provaram as bebidas sem rótulo e classificaram a Pepsi como mais saborosa. Quando revelado que elegeram a Pepsi, o grupo normal mudou de ideia. Já o grupo que tinha a lesão, manteve a escolha.

Livro “Freakonomics”

Na mesma linha de Subliminar, os autores contestam o senso comum. O exemplo mais marcante foi o de um partido político que gritava aos quatro ventos que as ações propostas por seus candidatos eleitos reduziram a criminalidade numa cidade americana nos últimos 20 anos. Os autores provaram que a redução da criminalidade se deu pelo fato de o aborto ter sido permitido 20 anos antes.

Livro “A Quinta Disciplina”

Este livro me marcou profundamente por dois motivos: primeiro porque eu sempre quis lê-lo, mas não tinha coragem de comprá-lo porque era muito caro. Então, conheci uma pessoa em um evento e na troca de cartões ela comentou que precisava criar um website para apresentar os seus serviços. Eu me dispus a ajudá-la e como foi algo simples, não cobrei nada.

Então, em retribuição, esta pessoa me presenteou com este livro; quando perguntei o que a motivou a comprar este título, ela disse que “era a minha cara”. O outro motivo é que o livro ajuda no desenvolvimento do pensamento sistêmico (quinta disciplina).

Livro “O Executivo e Sua Tribo”

Melhor livro que li na vida sobre gestão de pessoas. Os autores relacionam cinco estágios, que vão desde “A vida é uma droga” até “A vida é ótima”, sendo que no primeiro se concentram pelo menos 2% dos profissionais americanos e, no último, menos de 2% das culturas tribais do local de trabalho.

A gigante de biotecnologia Amgen adiou a publicação do livro por quase cinco anos. É que, no início da década de 1990, os autores só conheciam os estágios tribais 1 a 4 e tinham uma quantidade enorme de exemplos de cada um. Acreditavam que a linguagem “nós somos ótimos” do Estágio 4 era o topo da montanha.

Mas, graças à Amgen, tudo virou de cabeça para baixo, adiando a publicação do livro. Segundo os autores, a descoberta valeu a espera. Ao entrarem na Amgen na década de 1990 e perguntar quem eram seus competidores, eles esperavam que citassem a Genentech (outra empresa de biotecnologia) ou talvez – se as pessoas fossem ambiciosas – a Pfizer.

“Estamos competindo com o câncer”, foi o que ouviram dos funcionários da Amgen. As mesmas pessoas prosseguiram dizendo: “Talvez [nosso competidor] seja a doença inflamatória, como a artrite. A obesidade. O Parkinson”. Os autores ficaram estarrecidos, porque o modelo dos quatro estágios não podia explicar o que estavam ouvindo.

O mais profundo ainda foi ouvir: “Podemos estar competindo com a morte prematura – a doença humana. Suponho que não estamos realmente visando à fome ou à guerra”. Para piorar a situação deles, não viram qualquer evidência de orgulho tribal. Nenhum gosto de vitória, nenhuma bandeira “Somos o Número 1”. Neste estágio, não é que os competidores não existam; é que eles não importam.

Recentemente, escrevi um artigo sobre o livro, depois de ler uma matéria intitulada “Nosso maior concorrente é o dinheiro”. Esta frase foi dita por ninguém menos que o presidente da Mastercard. Nas palavras do executivo, ele (o dinheiro) pode ser facilmente roubado, ocupar muito espaço no bolso e até transmitir doenças. Mas, ainda assim, o dinheiro continua sendo, de longe, o meio de pagamento mais usado pelos brasileiros.

Pensando em facilitar o intercâmbio de livros (e aprendizado), você criou a plataforma Bookshare. Conte-nos um pouco sobre a ideia e seu funcionamento.

I.S.: O www.bookshare.com.br faz uso da tecnologia sem alterar a essência que é sentir o prazer de folhear cada página de um livro. Trata-se de um portal interativo e amigável, em forma de rede social, que permite cadastrar e emprestar seus livros e pedir outros emprestados, fazendo os livros circularem mais e serem lidos gratuitamente por mais pessoas. O sistema controla os empréstimos enviando alertas para todos os envolvidos sobre os prazos de devolução.

Qualquer um pode emprestar seus livros e também pegar emprestado livros de outros usuários? Existe alguma regra para estas operações? Como fica a questão do envio, cuidado com o livro e devolução?

I.S.: No seu perfil, o leitor cria seu próprio espaço literário, monta uma estante de livros (basta informar o ISBN ou parte do título que o sistema completa automaticamente o título, ISBN, autor, editora e foto) e forma sua rede, convidando pessoas para participar.

Os leitores podem emprestar seus próprios livros, sob sua responsabilidade e risco, assim como emprestar e devolver livros de outros usuários, sob pena de ser excluído do portal e indicado como “não confiável” quando descumprir as regras de devolução.

Cada leitor terá até 30 dias para devolver o livro, que obrigatoriamente deve ser entregue para que a pessoa que emprestou confirme a entrega e o livro fique novamente disponível para empréstimo. Neste momento, quem emprestou e quem tomou emprestado devem avaliar como foi a experiência, de modo que quanto mais avaliações positivas um leitor tem, maiores serão as chances de emprestar livros, inclusive de desconhecidos. Neste caso, recomendamos fortemente que o encontro seja feito em local público e seguro.

Ismael, obrigado pela participação. Por favor deixe uma mensagem final para os leitores que queiram fazer contato com você e também tirar proveito dos benefícios da leitura. Até a próxima.

I.S.: Eu que agradeço a oportunidade. Além de despertar o interesse pela leitura, acredito estar dando um passo importante na consciência do consumo colaborativo, bem como possibilitando o acesso de pessoas que não tem condições para comprar os livros – acabar com o “No Brasil se lê pouco porque o livro é caro e o livro é caro porque se lê pouco”.

Na verdade, diante do quadro de carência da população brasileira seria razoável triplicarmos as compras governamentais só para darmos a nossos estudantes o suprimento médio de livro fornecido aos estudantes chineses, por exemplo.

Além disso, no futuro, palavras como “consumo” e “compra” serão substituídas por “compartilhamento” e “troca”. O mercado mundial de compartilhamento ultrapassa os US$ 100 bilhões por ano. É uma tendência irreversível. No livro “Mesh – Por que o Futuro dos Negócios é Compartilhar”, a autora Lisa Gansky defende a tese de que a colaboração entre empreendedores, fornecedores e consumidores irá definir o futuro da economia.

Acredito também que a experiência da leitura é única. Desta forma, existe um grande apego ao livro. Conhecemos pessoas que escrevem na contracapa dos livros o momento em que elas estavam vivendo quando os adquiriu. Por isso, talvez a “onda do desapego” (deixar o livro para quem quer ler e não se preocupar com o retorno) não seja tão aderente quando o assunto é livro. Penso que o que mais se aproxima é a ideia de consumo colaborativo.

Assim, não esqueça o seu livro, ele pode ser importante para outras pessoas. Cadastre-o no www.bookshare.com.br e venha junto comigo transformar o mundo em uma grande biblioteca. Obrigado e até mais.

Imagem: Divulgação.

Sobre Nós

O Dinheirama é o melhor portal de conteúdo para você que precisa aprender finanças, mas nunca teve facilidade com os números.  Saiba Mais

Mail Dinheirama

Faça parte da nossa rede “O Melhor do Dinheirama”

Redes Sociais

© 2023 Dinheirama. Todos os direitos reservados.

O Dinheirama preza a qualidade da informação e atesta a apuração de todo o conteúdo produzido por sua equipe, ressaltando, no entanto, que não faz qualquer tipo de recomendação de investimento, não se responsabilizando por perdas, danos (diretos, indiretos e incidentais), custos e lucros cessantes.

O portal www.dinheirama.com é de propriedade do Grupo Primo.