Finclass Vitalício Topo Desktop
Home Mercados Dinheirama Entrevista: Luiz Eduardo B. Ribeiro, Co-fundador da Liga Empreendedora

Dinheirama Entrevista: Luiz Eduardo B. Ribeiro, Co-fundador da Liga Empreendedora

por Conrado Navarro
3 min leitura
Dinheirama Entrevista: Luiz Eduardo B. Ribeiro, Co-fundador da Liga Empreendedora

Empreendedorismo é sempre um tema muito comentado e pedido entre nossos leitores, além de ser, confesso, uma de minhas paixões. Empreender como um estilo de vida é uma escolha que fiz há muito tempo, e os resultados têm sido fantásticos. Liberdade, independência e desafios são os aspectos que mais aprecio.

Finclass Vitalício Quadrado

Acontece que empreender no Brasil não é assim tão simples e está longe de ser uma saída garantida para o sucesso. Conversei sobre os desafios e as maravilhas de empreender com o Luiz Eduardo Bento Ribeiro, goiano de 27 anos, co-fundador da Liga empreendedora da Unicamp e apaixonado pelo potencial transformador do empreendedorismo.

Formado em Engenharia Elétrica pela UFG, Luiz Eduardo hoje é mestre doutorando pela Unicamp, trabalhando com sensores microeletrônicos e com suas aplicações na microfluídica. Foi finalista do Desafio Unicamp de modelo de negócios, acelerado pelo projeto Inova Descobre com a startup Kyklos e organizador do Startup Weekend Campinas 2013/2014.

Acompanhe nosso papo:

Luiz Eduardo, como você enxerga o ecossistema de empreendedorismo no Brasil? Há incentivos suficientes para tornar essa opção de vida viável para um grande grupo de pessoas ou escolher esse caminho ainda é muito arriscado?

Luiz Eduardo B. Ribeiro: Ainda não temos um ecossistema de empreendedorismo dinâmico e bem desenvolvido no Brasil, sobretudo quando falamos do empreendedorismo associado à inovação tecnológica, que tem boa comunicação com as universidades e centros de pesquisas.

Finclass Vitalício Quadrado

Atualmente, a insegurança e o baixo incentivo ao aspirante empreendedor mantêm o modelo familiar como principal tipo de empreendedorismo no país, um empreendedorismo movido basicamente pela necessidade financeira.

Com isso, o Brasil perde, pois o desenvolvimento empresarial acompanha somente a motivação pessoal e, muitas vezes, deixa de gerar um maior impacto socioeconômico. Tudo isso nos deixa bem distantes de grandes ecossistemas, como o do Vale do Silício e Israel, para ficar em dois exemplos conhecidos.

Conversando com os nossos membros e mentores, percebo que o empreendedorismo no Brasil ainda é visto como algo muito arriscado e muitas vezes nem se considera o empreendedorismo como uma opção de carreira no meio universitário.

Segundo uma pesquisa realizada pela Endeavor Brasil, um terço daqueles que empreendem já tem um bom exemplo dentro de casa para se inspirar, só assim sentem-se mais seguros para se aventurar no empreendedorismo. Uma fração preocupante, se levarmos em conta que apenas 4% da população brasileira possui empresas com funcionários.

Muitos se atêm apenas aos riscos, deixando o medo extinguir com o sonho de seguimento da carreira. Falhar, no entanto, deve ser encarado como aprendizado que aproxima a ideia da realidade. Outros acreditam que para ser um grande empreendedor necessita-se de dom, como se já nascêssemos predestinados.

O que cada vez mais confirmamos é que ambas ideias são equivocadas, já que a maioria das empresas de sucesso são compostas por pessoas que acreditaram e aprofundaram seu aprendizado sobre o que é empreender, se qualificando cada vez mais para corresponder às exigências do consumidor.

Os empreendedores necessitam de habilidades comportamentais que não são ensinadas nas salas de aula, como conhecer melhor a si mesmos e a realidade em que estão inseridos. Mas, para isso, é necessário maior incentivo educacional específico para prepará-los e motivá-los.

Portanto, um grande passo a ser dado é aumentar a tolerância ao erro, ensinar a verificar quais ideias são válidas com menor custo de recursos. Depois disso, divulgar os exemplos de sucesso de grandes empresas que utilizaram de forma ética ideias inovadoras para transformar problemas em solução. Assim, mais pessoas poderão ser inspiradas a criar empresas rentáveis e com mais impacto positivo para a sociedade.

Como você enxerga os desafios que temos relacionados a questões como burocracia, carga tributária e legislação trabalhista? Isso impacta as startups? De que forma?

L. E. B. R: As startups são um tipo de organização particular, pois trabalham num ambiente muito novo, estão testando um serviço ou produto em um mercado que às vezes ainda nem existe e precisa ser criado.

Nesse ambiente, as empresas que se destacam são as que conseguem trabalhar com maior rapidez para escolher os caminhos mais viáveis para o sucesso. Ou seja: velocidade é tudo! Ter consciência que no Brasil a burocracia é um complicador e que os impostos são altos é crucial antes de formalizar uma ideia.

Esse assunto, entretanto, é tratado como um desafio para os empreendedores durante sua jornada e não como fator desanimador. O importante é consultar quais tributos podem incidir sobre a nova empresa e colocá-los no plano de negócios para evitar surpresas. Além disso, é importante buscar contadores que são especializados em dar suporte para startups na área tributária, contábil e financeira.

Por outro lado, existe projeto de lei que isenta por dois anos os tributos federais para startups da área de tecnologia com faturamento bruto trimestral menor que 30 mil reais. Apesar de ser um limite de faturamento muito baixo, isso nos indica um avanço que deve se acelerar nos próximos anos.

Conte-nos um pouco mais sobre a Liga Empreendedora. Vocês criaram um grupo para incentivar o empreendedorismo a partir de encontros frequentes?

L. E. B. R: A Liga Empreendedora é um grupo formado por universitários da graduação, da pós-graduação e ex-alunos da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). Nossa missão é estimular, capacitar e apoiar os empreendedores conectados ao ambiente universitário.

O grupo fomenta a criação de novas empresas na universidade através de iniciativas como palestras motivadoras e de inspiração com empreendedores de sucesso, rodadas de avaliação de modelos de negócios (apresentações de novas empresas em frente a um público dividido em grupos de clientes, investidores e empreendedores), meetups (encontros entre empreendedores de perfil técnico e administrativo contando com a presença de mentores e investidores), além de treinamentos e workshops em diversas áreas e eventos que estimulam a criação de novas empresas.

Nós apoiamos empreendedores com dois modelos de empresas: empresas de base tecnológica, que possuem como desafio construir novos negócios a partir de tecnologias geradas na universidade, e empresas de internet, que atuam na inovação do e-commerce.

Na Unicamp, realizamos diversas iniciativas de treinamento, bate papos e palestras com empreendedores e executivos de diversas áreas. Nomes como Cristiane Correia (jornalista da revista Exame e autora do livro “Sonho Grande”), Fabrício Bloisi (fundador da Movile), Igor Santiago (fundador da I-Systems) e Gabriel Benarrós (graduado em Stanford e fundador da Ingresse.com) já participaram de iniciativas promovidas pela Liga Empreendedora no campus.

Vem ai o Startup Weekend em Campinas, de 17 a 19 de outubro, organizado por vocês. Explique para nosso leitor o que é o Startup Weekend, seus objetivos e como ele funciona.

L. E. B. R: O Startup Weekend é um evento que dura 54 horas, ao longo de um fim de semana, no qual empreendedores, desenvolvedores, designers e entusiastas se unem para compartilhar ideias, formar equipes e criar protótipos de empresas. O modelo do evento, que já foi realizado em mais de 700 cidades do mundo, tem a missão de inspirar, educar e capacitar times e comunidades através do trabalho prático.

O evento começa na noite de sexta-feira, dia 17, com o palco aberto para os participantes compartilharem suas ideias e inspirarem outros a se juntar a seus times, pois só as ideias mais votadas são escolhidas para formação de times.

Durante o sábado e o domingo, os times focam em encontrar um modelo de negócios e criar um produto, utilizando metodologias e ferramentas como Lean Startup, Business Model Generation e Customer Development. Na maior parte do tempo, haverá mentores à disposição dos participantes para auxiliar e instigar a execução da ideia.

No domingo, os times apresentam o que construíram, recebem feedbacks valiosos de jurados e podem até sair com um investimento. Os melhores são aqueles que colocam o plano de negócio em prática e provam que o seu produto é viável e vendável.

No ano passado, contamos com cerca de 120 participantes e treze protótipos de startups. Os três melhores foram premiados, mas não foram só eles que continuaram com seus projetos. O trabalho intenso desses três dias evidencia as habilidades individuais dos participantes, incentiva o networking e mostra o dia-a-dia de uma Startup. O aprendizado é imenso.

Nosso leitor interessado em iniciar o próprio negócio sempre nos pede sugestões e dicas para se preparar para este desafio. O que você tem a dizer para o aspirante a empreendedor?

L. E. B. R: Acredito que a melhor forma de iniciar o próprio negócio e ser bem-sucedido é utilizar ferramentas práticas e objetivas. Hoje, sabemos que para reduzir o risco é necessário verificar se a ideia é válida no menor tempo possível, evitando o desperdício de recursos. Por isso, desenvolver a habilidade de testar o que já foi aprendido deve vir antes do novo aprendizado. O conteúdo teórico é muito importante, mas deve ser aprendido com a mão na massa.

Outro ponto crucial são as conexões que criamos. Isso acelera o aprendizado através dos exemplos de sucesso e nos possibilita compartilhar o projeto com pessoas que tem habilidades complementares às nossas.

Luiz Eduardo, obrigado por sua participação. Por favor deixe uma mensagem final sobre empreendedorismo e formas de contato para que o leitor possa manter-se próximo do assunto. Obrigado.

L. E. B. R: Acredito que incentivar e preparar as pessoas para o empreendedorismo é o caminho mais curto para o avanço social e econômico de um país. Ainda temos que trabalhar para conseguir diminuir a burocracia e os impostos sobre aqueles que estão começando, afinal, no longo prazo, é mais interessante para a arrecadação nacional que as empresas floresçam.

Por fim, devemos aumentar a tolerância ao erro. Se tivermos mais gente tentando viabilizar novos modelos de negócios, teremos mais erros, porém proporcionalmente mais acertos. E apenas um acerto pode ser suficiente para cobrir os custos das tentativas mal sucedidas.

Para ficar por dentro das nossas atividades, os leitores podem acessar o site www.ligaempreendedora.com e para mais detalhes sobre o Startup Weekend Campinas basta clicar aqui. Obrigado e até a próxima!

O Dinheirama é o melhor portal de conteúdo para você que precisa aprender finanças, mas nunca teve facilidade com os números.

© 2024 Dinheirama. Todos os direitos reservados.

O Dinheirama preza a qualidade da informação e atesta a apuração de todo o conteúdo produzido por sua equipe, ressaltando, no entanto, que não faz qualquer tipo de recomendação de investimento, não se responsabilizando por perdas, danos (diretos, indiretos e incidentais), custos e lucros cessantes.

O portal www.dinheirama.com é de propriedade do Grupo Primo.