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Dinheirama Entrevista: Ricardo Amorim, economista e apresentador do “Manhattan Connection”

por Ricardo Pereira
3 min leitura

Dinheirama Entrevista: Ricardo Amorim, economista e apresentador do "Manhattan Connection"Compreender bem as transformações econômicas vividas por nosso país é um desafio tanto para nossas autoridades, quanto para nossos cidadãos. Interpretar os acontecimentos e, com base neles, tomar a melhor decisão não é tarefa simples. Por isso, insistimos sempre na questão do aprendizado e busca de conhecimento, fator essencial para elevar o nível do debate e criar, como consequência, um ambiente mais agradável para as importantes discussões que os temas “dinheiro”, “finanças pessoais” e “economia” merecem.

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Sempre acreditamos que a opinião de qualidade é a diferença que realmente enriquece e faz refletir. Nesta semana, tivemos a honra de entrevistar e conversar com Ricardo Amorim, Economista formado pela Universidade de São Paulo e pós-graduado pela ESSEC (Paris). Ele foi um dos poucos que anteciparam a crise elétrica brasileira de 2001, a crise imobiliária americana de 2008, a crise européia de 2010 e suas consequências.

Em 2009, após quase vinte anos de carreira no mercado financeiro internacional – atuando nos EUA, Europa e Brasil – Ricardo montou sua empresa, a Ricam Consultoria, que presta assessoria econômico-financeira, de investimentos e de estratégia para clientes no Brasil e no exterior. Além disso, é colunista da Revista IstoÉ e, desde 2003, um dos apresentadores do programa “Manhattan Connection” do canal Globonews.

Veja o que ele tem a dizer:

Ricardo, nos últimos 20 anos o mundo mudou muito. Estados Unidos e Europa, que até então ditavam as regras, agora atravessam um período de muita dificuldade. Em sua opinião, podemos afirmar que países como Brasil e principalmente China estarão no comando das ações econômicas mundiais?

Ricardo Amorim: China, Índia, Brasil e Rússia já estão no comando das ações mundiais, sabendo disso ou não. Isto não significa que substituíram ou substituirão EUA, Europa e Japão, mas que se juntaram a eles neste comando, o que não acontecia antes.

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Acompanhando seu trabalho, percebemos que você é mais pessimista quanto aos problemas europeus. Indo direto ao ponto, em sua opinião a União Européia corre risco real de se esfacelar?

R.A.: É muito improvável que a União Europeia deixe de existir nos próximos anos, mas chegou o momento dela decidir se está disposta a se integrar ainda mais. Se não estiver, o risco de esfacelamento no longo prazo é bastante real. Recentemente, escrevi um artigo exatamente sobre este tema intitulado “Interdependência ou Morte”.

Na última reunião do COPOM se optou por um caminho de queda de juros, quando boa parte dos diretores entendeu que a inflação não é mais o grande perigo para nossa economia, pelo menos nesse momento. Em sua opinião, a medida foi correta ou realmente existiu uma decisão política com interferência da Presidente Dilma na decisão?

R.A.: Se houve interferência política ou não, só o tempo dirá, mas foi uma decisão bastante corajosa. Em quase 20 anos analisando decisões de bancos centrais em todo o mundo, é a primeira vez que vejo um Banco Central antecipar-se a um evento econômico ao invés de reagir ao fato consumado.

A decisão do BC foi uma aposta de que a crise europeia e seu contágio sobre o Brasil vão piorar muito e logo. Se acontecer, o que eu acho bastante provável, terá sido uma tacada de mestre. Caso contrário, a inflação continuará subindo e o BC terá de reverter sua decisão.

Um dos desafios de noticiar e discutir economia é abordá-la “sem economês”, algo que você faz com muita autoridade. Infelizmente, ainda parece que os mais jovens não se interessam tanto pelo tema. Então, como tornar o assunto mais interessante?

R.A.: Tornando-o palpável e próximo da realidade de cada um, ao invés de algo distante e emaranhado em termos técnicos. Uma coisa é dizer: “há um grande risco de default soberano na Grécia”, outra é dizer “se a Grécia der calote, você não vai poder trocar de carro porque faltará financiamento”. Falta ser mais direto e tratar de questões cotidianas com análises mais objetivas e vocabulário econômico mais acessível e explicado.

Outro aspecto importante do debate econômico é a interpretação dos fatos e sua relação com a vida da população e seu dia a dia. Se há o que melhorar na forma como a informação é apresentada, talvez haja espaço para também ensinar alguma coisa através da educação financeira. Vamos mal neste sentido? Por onde começar e o que melhorar?

R.A.: Vale começar entendendo que educação financeira pode melhorar muito a vida das pessoas. Não adianta nada trabalhar feito um escravo e não saber investir. A vida só faz sentido se for aproveitada, e um bom planejamento financeiro ajuda a tornar isto possível. Também tenho tentado ajudar, realizando palestras sobre educação financeira. Pelo feedback que tenho tido, parece estar funcionando. Ou seja, o assunto é relevante e as pessoas se interessam por seus desdobramentos.

Com uma economia mais previsível, estável e uma moeda forte, é claro que melhoramos em relação ao passado. Males como a corrupção, a gestão ineficiente de recursos e a política do benefício próprio, no entanto, deixam alguns jovens desanimados. Qual sua visão sobre o futuro econômico e político do Brasil?

R.A.: O copo sempre estará meio cheio e meio vazio. A boa notícia é que estamos enchendo o copo. Nos últimos oito anos, apesar dos muitos problemas que ainda existem, o crescimento do PIB brasileiro foi, em média, o dobro dos 25 anos anteriores. A má notícia é que a melhora do desempenho econômico reduziu a pressão política por reformas que permitiriam que o Brasil crescesse ainda mais, como a reforma da previdência do setor público e a reforma tributária.

Ricardo, muito obrigado pela disponibilidade. Torcemos que continue essa trajetória de sucesso. Pedimos que deixe uma mensagem final para nossos leitores.

R.A.: O mundo e o Brasil estão passando pelas transformações mais profundas de muitas décadas. Compreendê-las permite que tomemos decisões corretas para aproveitar oportunidades e reduzir riscos. Boa informação e análise são hoje mais importantes do que nunca. Assim como o excelente trabalho de vocês, também tento contribuir um pouquinho com análises, notícias e artigos sempre publicados em meu site: www.ricamconsultoria.com.br.

Crédito das fotos: Ricardo Correa.

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