De acordo com a Serasa Experian, o Brasil tem, em média, quase 4,7 mil tentativas de fraudes por dia. Apesar do cenário econômico adverso, esse patamar elevado tem se mantido ao longo dos anos.
Além do impacto financeiro que as fraudes causam às suas vitimas, elas também geram muitos outros problemas que precisam ser resolvidos: limpar o nome que ficou sujo, correr atrás dos “credores” para dar baixa nas dívidas criadas pelos fraudadores, trocar cartões e senhas…
Com a popularização da internet, os fraudadores encontraram outras formas para cometer delitos. Com trilhões de transações e negócios sendo realizados pela internet, a preocupação com fraudes se torna essencial e prioritária.
Pensando nisso, convidamos William Sato, CEO da SafeGuard, para uma conversa.
William tem 20 anos de experiência em áreas como Riscos, Crédito e Finanças. Formado em Economia pela USP, com pós-graduação em Riscos também pela USP, passou por grandes bancos e empresas.
Especialista em riscos, hoje ele é o CEO da SafeGuard, empresa que desenvolve soluções antifraude próprias para cada tipo de negócio.
William, o assunto “fraude” nunca ficou tão em evidência como nos últimos meses. É Lava Jato, Petrolão, executivos de empresas sendo presos, políticos sendo cassados… Como um especialista no assunto, fale um pouco sobre fraudes.
William Sato: Quando olhamos esses casos, parece que as fraudes são esquemas grandiosos que estão distantes do nosso dia-a-dia, não é mesmo? Mas isso é só uma impressão.
Fraude é qualquer esquema criado para prover ganhos ou benefícios a partir do prejuízo de outros.
Só para dar uma ideia de grandeza: no mês abril deste ano, a Serasa Experian registrou pouco mais de 141 mil tentativas de fraude. Isso significa 1 tentativa a cada 18 segundos!
Baseado nesses números, podemos dizer, infelizmente, que a fraude está em nosso dia-a-dia.
Quais as fraudes mais comuns e quem são as vítimas desses golpes?
W.S.: Vou falar de três fraudes das mais comuns e também de suas implicações:
1. Roubo de identidade: o roubo de identidade acontece através do furto de documentos ou uso de documentação perdida. Os fraudadores usam esses documentos para:
- Realizar compras fraudulentas em nome de outras pessoas.
- Abrir contas em bancos e contratar empréstimos, financiamentos e cartões para realizar compras / pagamentos fraudulentos.
- Abrir empresas com o objetivo de aplicar golpes no mercado.
2. Pagamentos com cartões de crédito fraudulentos:
- Fazendo uso de cartões clonados, roubados ou perdidos, os fraudadores realizam compras em nome dos titulares dos cartões.
3. Fraudes praticadas através da internet:
- Podem acontecer de várias formas. Vou citar duas bastante praticadas:
- E-commerces falsos criados por fraudadores: as vítimas são atraídas por falsas promoções, se cadastram e realizam compras.
- E-mails falsos, onde os fraudadores tentam se passar por instituições financeiras ou lojas, pedindo para inserir o usuário e a senha das contas.
- Através desses dois recursos, os fraudadores roubam informações pessoais, profissionais e de cartões de crédito. E esses dados são usados em compras e pagamentos fraudulentos.
As vítimas desses golpes são:
- As pessoas comuns, como eu e você, que tiveram seus nomes usados nas compras fraudulentas ou em esquemas envolvendo empresas.
- As empresas como lojas físicas e e-commerces, que entregaram o produto ou o serviço aos fraudadores e terão que devolver o pagamento recebido por se tratar de uma fraude.
A cada dia, estamos cada vez mais conectados. Fazemos cada vez mais coisas através da internet: buscamos informações, realizamos operações financeiras, pesquisamos produtos e preços, fazemos compras de produtos e serviços. Não é a toa que as fraudes na internet são as que mais ocorrem.
W.S.: Isso mesmo. Estamos cada vez mais dependentes do mundo online, pois nos traz muitas facilidades e comodidade. Conseguimos fazer várias coisas fora do horário comercial, não temos que pegar filas e encontramos preços mais baixos.
Vamos analisar dois setores que fazem uso intensivo da internet: os bancos e o comércio eletrônico.
De acordo com a pesquisa FEBRABAN (Federação Brasileira de Bancos) de Tecnologia Bancária, em 2015:
- O internet banking foi o canal mais utilizado para a realização de operações bancárias: 17,7 bilhões de transações e 62 milhões de contas.
- O mobile banking foi utilizado em 11,2 bilhões de transações bancárias (crescimento expressivo de 138% em relação ao ano anterior) e 33 milhões de contas ativas (crescimento de 32% em relação a 2014).
- Juntos, os dois canais foram responsáveis por 54% do total das operações realizadas.
Através desses números, podemos notar a importância dos canais digitais:
- São quase 29 bilhões de operações realizadas pela internet em um ano!
- São aproximadamente 917 transações por segundo.
- Já representam mais da metade das transações bancárias.
Agora vamos analisar alguns números do e-commerce. De acordo com o relatório Webshoppers, elaborado pela E-bit / Buscapé Company, em 2015 as vendas pela internet atingiram marcas também expressivas:
- R$ 41,3 bilhões em vendas.
- Pouco mais de 106 milhões pedidos.
- Mais de 39 milhões de consumidores únicos ativos.
Com as estatísticas todas, não é de se estranhar que a internet atraia também os fraudadores. Através desse canal, eles conseguem uma ampla “disponibilidade” de vítimas, além do fato que é relativamente fácil e barato obter informações pessoais e confidenciais.
Como assim? É fácil obter informações confidencias?
W.S.: Uma parte significativa das fraudes no mundo online envolve crime organizado. E existem grupos especializados em venda de dados.
Só para dar uma ideia, existe uma indústria de venda de informações de cartões de crédito, cujo preço varia de acordo com a quantidade / qualidade das informações. Por exemplo, é possível comprar informações básicas, incluindo número de cartão e código verificador, por menos de US$ 2.
Diante de tantos perigos, como podemos evitar os golpes?
W.S.: Vamos falar de 8 pontos muito importantes que devemos prestar muita atenção na hora de realizar compras ou transações pela internet:
1. Faça negócios apenas com empresas confiáveis. Pesquise e busque informações e avaliações em sites como do PROCON e do Reclame Aqui.
2. Não utilize computadores ou conexões wi-fi públicos para efetuar pagamentos, compras, operações bancárias e troca de informações sigilosas. Esses meios podem ser usados por hackers para roubar suas informações.
3. Cuide bem dos dispositivos que você utiliza para acessar suas contas de lojas e de bancos na internet. Existe uma série de programas desenvolvidos para proteção: antivírus, firewall, antispam e filtros de conteúdo. Preste atenção para instalar apenas aplicativos confiáveis e não se esqueça de mantê-los atualizados, inclusive o seu sistema operacional.
4. Redobre a atenção com e-mails que pedem para você inserir ou atualizar informações, como usuários e senhas ou o numero do cartão e os códigos de verificação. Esse golpe é conhecido como Phishing (uma alusão à palavra fishing – pescaria). Bancos e lojas não pedem esse tipo de informação por e-mail.
5. E-mails com arquivos em anexo: tome cuidado para abri-los, pois podem conter vírus ou programas que criarão brechas para roubar suas informações.
6. Cuidado com as ofertas que você recebe:
- Tome cuidado ao clicar nos links, pois eles podem direcionar para endereços falsos de sites maliciosos. Muitas vezes, esses sites replicam muito bem a aparência das lojas verdadeiras. E, se você efetuar o login no site e realizar uma compra, os dados pessoais e de pagamento (como cartão de crédito) informados serão roubados e usados em esquemas fraudulentos.
- Uma das formas de chamar a atenção e fazer você cair na armadilha é o preço. Redobre a atenção em superpromoções / grandes descontos, principalmente em sites desconhecidos.
- Em junho deste ano, de acordo com o levantamento da Fortinet (empresa que atua no combate a ameaças virtuais), existem aproximadamente 8 milhões de endereços criados com o intuito de roubar informações.
- E, em especial no Brasil, por conta das Olimpíadas, houve um crescimento de aproximadamente 83% dos endereços maliciosos, contra 16% na média mundial, entre maio e junho.
7. Quando for realizar transações ou pagamentos, verifique no seu browser o símbolo do “cadeado”. Ele indica que os dados que você esta trocando com o site trafegarão de forma criptografada pela internet. Mas fique atento, pois esse é apenas um dos cuidados que você deve ter.
8. Sempre acompanhe suas contas bancárias e os lançamentos nos seus cartões. Caso identifique alguma transação suspeita, entre imediatamente em contato com a instituição financeira.
Vejam outras dicas e tipos de fraudes em nosso blog (clique aqui).
No começo de nossa conversa, você falou que as lojas físicas e virtuais também são vítimas das fraudes. Mas elas não recebem o pagamento?
W.S.: Elas podem até receber, mas depois são obrigadas a devolver. Por exemplo, para as compras fraudulentas realizadas com cartão de crédito, existe o mecanismo de chargeback, que é uma contestação da compra por parte do titular do cartão.
Nessa contestação, a loja virtual ou física tem que comprovar que quem realizou a compra foi realmente o titular do cartão, caso contrário, acaba tendo que devolver os valores. Como é difícil realizar essa prova, geralmente a loja é quem arca com o prejuízo.
Para recuperar o dinheiro perdido, existe a possibilidade de ir atrás dos fraudadores. Mas esse processo também é demorado, custa caro e pode ser perigoso. Portanto, a melhor forma de evitar as perdas é a prevenção.
A SafeGuard, empresa em que trabalho, desenvolve soluções que fazem a análise do risco de fraude das vendas em tempo real, trazendo mais segurança e conforto para os lojistas.
William, agradecemos sua disponibilidade e as importantes informações para os leitores do Dinheirama, que com certeza utilizam a internet no seu dia-a-dia.
W.S.: Eu que agradeço pela oportunidade! Infelizmente, surgem cada vez mais oportunistas profissionais e temos que estar atentos para não cair em golpes. Ajudar a todos com informações e dicas, é sempre um prazer!