As projeções econômicas do Itaú BBA, publicadas nesta sexta-feira (12), destacam um cenário desafiador para o Brasil, com ênfase na necessidade de cortes de gastos públicos para manter a sustentabilidade fiscal.
As declarações recentes do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre a importância de evitar uma expansão fiscal neste momento, contextualizam essas projeções e reforçam a urgência de medidas econômicas responsáveis.
Segundo Mario Mesquita, economista-chefe do Itaú BBA, a percepção de risco fiscal piorou devido à alta significativa dos gastos e uma agenda de receitas próxima ao limite de crescimento. “Para sinalizar a sustentabilidade da regra de despesas do arcabouço, julgamos que iniciativas de economia de gastos, como as reportadamente cogitadas pela equipe econômica, são fundamentais”, afirmou Mesquita.
O relatório do Itaú BBA mantém as projeções de déficit primário em 0,6% do PIB para 2024 e 0,9% do PIB para 2025. Contudo, para alcançar esses números, Mesquita enfatiza a necessidade de um bloqueio de despesas de pelo menos R$ 20 bilhões, idealmente próximo a R$ 30 bilhões.
A ausência dessas medidas poderia comprometer a credibilidade fiscal do governo.
Em relação à taxa de câmbio, o Itaú BBA revisou suas projeções para R$ 5,30 por dólar em 2024 e R$ 5,40 por dólar em 2025, anteriormente projetadas em R$ 5,15 e R$ 5,25, respectivamente.
A revisão se deve à piora dos fundamentos domésticos e ao aumento da percepção de risco.
No que tange ao crescimento do PIB, o Itaú BBA manteve suas projeções de 2,3% para 2024 e 1,8% para 2025. Apesar das enchentes na região Sul do país em maio, a instituição financeira vê uma retomada da atividade econômica já em junho.
As projeções de inflação também foram revisadas, com uma expectativa de 4,0% tanto para 2024 quanto para 2025, contra 3,8% e 3,7% anteriormente.
Esse ajuste incorpora o impacto de um câmbio mais depreciado sobre alimentos e bens industriais, além do recente reajuste da gasolina. “O balanço de riscos para ambos os anos segue assimétrico de alta”, observa Mesquita.
O Banco Central, conforme sinalizado no relatório, pretende manter os juros em território contracionista por um período prolongado.
O Itaú BBA projeta a taxa Selic estável em 10,50% ao ano até o final de 2025, mas com riscos adicionais devido à dinâmica recente do câmbio.
A instituição ressalta que suas projeções pressupõem um bloqueio significativo nas despesas no próximo relatório bimestral do Tesouro, previsto para 22 de julho. “Uma eventual frustração nessa frente traria um relevante dano de credibilidade para o arcabouço fiscal e a política econômica em geral”, alerta Mesquita.
As recentes declarações do ministro Fernando Haddad reforçam a necessidade de cautela fiscal. Haddad afirmou que uma expansão fiscal neste momento não seria benéfica para o país, considerando o atual cenário econômico global e os desafios internos enfrentados pelo Brasil.
Mesquita corrobora essa visão, destacando que a adoção de medidas de controle de gastos é crucial para manter a confiança dos investidores e a estabilidade econômica. A ausência dessas medidas poderia resultar em um aumento da inflação e da taxa de câmbio, impactando negativamente o mercado financeiro e a economia como um todo.
O relatório do Itaú BBA também aponta para possíveis impactos nos preços de ativos, caso as expectativas fiscais não sejam atendidas. “Os impactos poderiam ser análogos aos observados nas últimas semanas”, alerta Mesquita.
Nesse caso, poderíamos ver a taxa de câmbio em R$ 5,70 por dólar, inflação mais elevada em 2024 e 2025 (acima de 4%) e necessidade de aumento de taxa de juros (de pelo menos mais 1p.p.), ainda este ano.