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Dólar a R$ 7? Pergunte no bar e tenha a sua melhor reposta

Parafraseando o livro de Mlodinow, por aqui, seria algo assim: "como o fiscal, não o acaso, determina nossas vidas"

por Gustavo Kahil
3 min leitura
Dólar bêbado

A trajetória do dólar frente a outras moedas, como o real brasileiro (USDBRL), pode ser comparada ao “andar do bêbado”, uma analogia que ilustra o caráter imprevisível do câmbio. Essa ideia é explorada no livro “O Andar do Bêbado”, de Leonard Mlodinow, que analisa como o acaso influencia fenômenos aparentemente lógicos. Segundo Mlodinow, “assim como um bêbado que dá passos para frente e para trás sem padrão aparente, o comportamento dos mercados é frequentemente dominado pelo acaso, mesmo quando tentamos explicá-lo racionalmente”.

Não há como deixar de comparar este cenário com as últimas semanas no Brasil. Um pacote de contenção de gastos abaixo do esperado fez a moeda superar os R$ 6 e já beirar os R$ 6,10, um nível inédito. A moeda encerrou a primeira semana de negócios em dezembro com valorização de 1,16%, após ter subido 3,81% em novembro. No ano, o dólar tem ganhos de 25,54% em relação ao real.

Por enquanto, claro, esperar o dólar ainda mais alto não parece uma projeção alcoólica, mas bem realista. Parafraseando o livro de Mlodinow, por aqui, seria algo assim: “como o fiscal, não o acaso, determina nossas vidas”.

Imprevisibilidade previsível

No câmbio, fatores como decisões políticas, taxas de juros, balança comercial e expectativas econômicas interagem de forma caótica, tornando a previsão exata quase impossível. Em um estudo acadêmico da Universidade de Chicago, economistas compararam o movimento do câmbio ao modelo de passeio aleatório, sugerindo que as flutuações cambiais se comportam como um bêbado cambaleando: sem destino definido e guiado por choques externos e internos.

Essa imprevisibilidade pode ser observada na volatilidade do dólar frente ao real. Um exemplo clássico é o período de instabilidade política no Brasil, em que as oscilações abruptas do câmbio pareciam refletir, mais do que fundamentos econômicos, o humor do mercado. Como afirma Mlodinow, “a natureza humana tende a buscar padrões, mas nem sempre eles existem”. Muitas vezes, o câmbio responde de forma exagerada ou indiferente a eventos que, em teoria, deveriam ter impacto previsível.

Economistas como Paul Samuelson e Eugene Fama, defensores da hipótese dos mercados eficientes, reforçam essa visão ao argumentar que o preço das moedas reflete todas as informações disponíveis, tornando qualquer tentativa de previsão algo semelhante a um jogo de azar.

A metáfora do “andar do bêbado” não apenas ajuda a compreender a complexidade do mercado cambial, mas também destaca a importância de reconhecer que nem sempre há uma lógica clara por trás das flutuações. Para investidores e gestores, aceitar essa incerteza é crucial para lidar com a volatilidade do dólar de forma mais estratégica e menos reativa.

Gabriel Galípolo, diretor de política monetária do BC, ao lado do ministro da Fazenda, Fernando Haddad
Gabriel Galípolo, próximo presidente do Banco Central, ao lado do ministro da Fazenda, Fernando Haddad (Imagem: Washington Costa/MF)

Selic e inflação

O economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, pondera que, apesar dos fatores globais desfavoráveis, o real sofreu mais que pares hoje com a busca de posições mais defensivas à medida que se aproxima a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), na próxima quarta-feira, 11. Ele chama a atenção para a possibilidade de o relatório Focus, que sai na segunda-feira, 9, trazer revisão significativa para cima do IPCA de 2025.

“Parte do mercado já espera 100 pontos-base de alta da Selic na semana que vem. Vejo já um movimento de investidores tentando se proteger do risco de o comitê entregar menos do que precisa para estancar a desancoragem das expectativas em momento de aumento da incerteza fiscal”, afirma Borsoi, acrescentando que parecem crescer as chances de desidratação do pacote de corte de gastos, “que já não era ideal”, durante a tramitação das medidas no Congresso.

Deputados ouvidos pelo Estadão, em especial do PT, admitiram resistência a aprovar regras que endurecem o acesso de idosos e pessoas com deficiência de baixa renda ao Benefício de Prestação Continuada. Alterações no BPC constam tanto no projeto de lei complementar (PLP) que revê programas sociais quanto na Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que traz as medidas fiscais. O governo espera economizar R$ 2 bilhões por ano com a revisão no BPC e R$ 12 bilhões ao longo de seis anos.

“Os desdobramentos do pacote de corte de despesas continuam influenciando os mercados, com impacto possivelmente menor que o estimado pelo governo. A resistência a pontos específicos, como os ajustes do BPC, indica uma possível desidratação do projeto inicial, contribuindo para a piora dos ativos domésticos”, afirma a economista-chefe da Armor Capital, Andrea Damico, ressaltando que o real termina a semana com desempenho pior em comparação com o seus pares.

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