Após instabilidade e trocas de sinal pela manhã, o dólar (USDBRL) à vista se firmou em terreno positivo na segunda etapa de negócios e encerrou a sessão desta sexta-feira, 17, em leve alta, na casa de R$ 6,06.
Declarações do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em entrevista à CNN Brasil ao longo da tarde, provocaram certo desconforto entre analistas ouvidos pelo Broadcast, pelo tom visto como agressivo e pela ausência de novidades no campo fiscal, mas não tiveram impacto relevante na trajetória da moeda.
Operadores observam que formação da taxa de câmbio hoje esteve sujeita, sobretudo, ao quadro externo. Dados positivos da economia da China, que alimentaram mais uma rodada de alta do minério de ferro e impulsionaram o Ibovespa, jogaram a favor do real.
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O PIB do gigante asiático subiu mais que o esperado em dezembro e fechou 2024 com crescimento de 5%, em linha com as metas estabelecidas pelas autoridades.
De outro lado, uma postura cautelosa às vésperas da posse de Donald Trump e o avanço da moeda americana em relação ao euro e ao iene contribuíam para a depreciação do real.
Parte dessa pressão foi amenizada em certo ponto após Trump revelar que teve uma conversa “muito boa” com o presidente da China, Xi Jinping. Termômetro do comportamento do dólar em relação a pares, o índice DXY voltou a superar 109,000 pontos, na esteira de dados fortes da indústria americana em dezembro.
Ontem, divisas emergentes e de países exportadores de commodities, em especial da América Latina, sofreram com sinais do futuro titular do Departamento do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, a respeito de adoção de tarifas de importação.
A leitura é a de que a medidas protecionistas e corte de impostos tende a limitar o espaço para corte de juros pelo Federal Reserve, o que deve se traduzir na manutenção de dólar forte no mundo.
Com mínima a R$ 6,0290 e máxima a R$ 6,0904, o dólar à vista fechou em alta de 0,20%, cotado a R$ 6,0656. Apesar de ter subido nas duas últimas sessões, a divisa termina a semana em queda de 0,60%, o que leva as perdas acumuladas em janeiro a 1,85%.
Em dezembro, a moeda subiu 2,98%. A recuperação do real neste início de ano é vista como reflexo de ajustes de posições por investidores locais e estrangeiros.
O economista-chefe da Equador Investimentos, Eduardo Velho, afirma que os indicadores positivos da China contribuíram para amenizar as pressões sobre o real.
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Ele pondera, contudo, que o mercado de câmbio ainda é “comprador” de dólar quanto a taxa de câmbio se aproxima do piso de R$ 6,00.
“O efeito Trump deve continuar repercutindo nos mercados, com valorização do dólar no exterior e rigidez dos yields dos Treasuries, refletindo impactos potenciais na inflação e menor espaço para recuo dos juros até o fim de 2025”, afirma Velho, acrescentando que não vê gatilhos internos capazes de sustentar um movimento de apreciação do real, dada a ausência de sinais de que o governo vai adotar medidas mais rígidas de contenção de gastos.
O Citi avalia, em relatório, que o aumento de prêmios embutidos nos títulos americanos de longo prazo eleva o risco “de intolerância fiscal” de mercados emergentes.
Segundo o banco, o Brasil parece “particularmente frágil”, uma vez que apresenta déficit mais elevado que seus pares e que cresce com a elevação da taxa Selic. “É o único emergente que vai estar em um ciclo de aumento de juros e um resultado primário mais distante para estabilizar a dívida”, afirma o Citi.
Em entrevista à CNN Brasil, o ministro da Fazenda disse que está preocupado com o endividamento, mas não acenou com a adoção de novas medidas fiscais. Haddad descartou o diagnóstico de dominância fiscal e afirmou que a política monetária vai conseguir levar a um arrefecimento da inflação.
Ele ponderou que o cenário externo mudou “radicalmente” e impõe desafio maior a países como o Brasil.
Haddad se esquivou ao ser questionado sobre a possibilidade de a taxa de câmbio voltar a se situar abaixo de R$ 6,00, mas disse que pessoalmente não compraria dólar acima de R$ 5,70.
“Se eu dissesse que hoje eu compraria dólar a R$ 6, não, eu não compraria acima de R$ 5,70. Na minha opinião, qualquer coisa acima de R$ 5,70 é caro para os fundamentos da economia brasileira”, afirmou.