Depois de dois dias de leves correções após altas recentes, o dólar (USDBRL) volta a ter um dia instável ante o real nesta sexta-feira, 3, embora siga dentro do intervalo de preços das últimas duas semanas. Segundo Fernando César, operador de câmbio da AGK Corretora, os fatores que amparam o desempenho são os mesmos dos pregões anteriores: o risco fiscal local e os receios com as políticas de Donald Trump, o próximo presidente dos Estados Unidos.
“Está todo mundo se posicionando para o Trump, há expectativa de o Federal Reserve [Fed, o banco central norte-americano] não cortar mais juros. O mercado está fraco, fluxo é bem diminuto devido a poucos negócios, a volatilidade vai prevalecer”, avaliou o operador.
Por volta das 11h45, o dólar à vista caía 0,08%, para R$ 6,14.
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Ibovespa
A desvalorização do minério de ferro impede o Ibovespa (IBOV) de subir em sintonia com os índices de ações em Nova York. Com muitos investidores ainda fora dos mercados mesmo após as festas de final de ano, a liquidez promete ser continuar reduzida. Além disso, ainda que Brasília esteja de recesso, a preocupação fiscal permanece em meio a incertezas em torno de temas como as emendas parlamentares.
Com a agenda esvaziada de indicadores econômicos, principalmente no Brasil, os investidores ficam com poucas opções de diretrizes
No exterior, destaque apenas para um discurso de um dirigente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) e para a divulgação do índice de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) industrial, medido pelo Instituto para Gestão da Oferta (ISM, na sigla em inglês), dos EUA.
Ontem, o giro financeiro na B3 somou R$ 19,2 bilhões, aquém da média diária de cerca de R$ 23 bilhões, e o Ibovespa fechou em baixa de 0,13%, aos 120.125,39 pontos.
Como ressalta Alvaro Bandeira, coordenador de Economia da Apimec Brasil, sem grandes acontecimentos e a agenda quase que vazia diminuem a movimentação nos negócios. “E o Congresso brasileiro parado reduz o ímpeto da política e a mexida nos mercados”, avalia.
Segundo Bandeira, se o Índice Bovespa mantiver os 120 mil pontos será um sinal importante, o que, conforme ele, abriria espaço para mais recuperação, mas isso “se o noticiário for mais favorável” à frente.
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Em meio a dúvidas quanto ao ritmo de crescimento na China, o governo promete atuar para impulsionar a economia. Porém, isso ainda não anima. Nesta sexta-feira, o minério de ferro no mercado futuro de Dalian fechou em queda de 2,18%. Isso pesa nas ações do segmento metálico na B3, com Vale perdendo 0,92% por volta das 11 horas. Petrobrás também recuava, entre 0,24% (PN) e 0,74% (ON).
Apesar de a China reforçar a promessa de implementar cortes de compulsórios bancários e de juros em algum momento ainda não definido neste ano, prevalecem dúvidas. “Não tem muita notícia hoje e os investidores continuam analisando o desempenho dos ativos no ano passado, muito direcionado pelo fiscal brasileiro que segue negativo”, analisa Cleber Rentroia, Head de renda variável da Blue3 Investimentos.
Neste sentido, Rentroia avalia que relatos como o vindo da China tendem a ter pouca influência. “Não traz uma perspectiva de melhora de longo prazo por enquanto. Além das duvidas com a economia chinesa, há incertezas relacionadas à nova gestão Trump, que prometeu criar barreiras tarifárias”, completa o Head de renda variável da Blue3 Investimentos.
Marcos Moreira, sócio da WMS Capital, reforça que o Ibovespa segue a tendência da véspera, operando de forma lateralizada, diante da liquidez reduzida nesse início de ano. “Iniciamos 2025 com ressaca que basicamente foi pautada no final do ano pela fiscal e pela retomada do ciclo de alta dos juros pelo Banco central. Ainda temos o recesso parlamentar”, reforça.
Para Moreira, à medida que houver um cenário “mais direcional” em relação à pauta econômica e de avanço de medidas fiscais, o quadro “ultra negativo” para os ativos em 2024 pode melhorar.
Capital estrangeiro
O ano de 2024 registrou o pior número de aportes externos na B3 desde 2020, ano de pandemia. Saiu cerca de R$ 32 bilhões de fluxo estrangeiro no ano passado. E isso não é um bom presságio para 2025. A mudança no calendário traz o retorno de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, o que sugere uma economia americana mais resiliente e menor interesse dos investidores por países emergentes. No Brasil soma-se a perda de atratividade que já vem ocorrendo devido ao risco fiscal e à Selic elevada, segundo profissionais ouvidos pelo Broadcast.
O líder de renda variável do BNP Paribas Asset Management Brasil, Marcos Kawakami, afirma que a volatilidade e a depreciação recentes do real fizeram o investidor estrangeiro ter uma visão mais negativa do Brasil.
“Temos percebido um interesse maior do investidor estrangeiro pela Índia, que tem crescido em atividade e lucro das empresas”, exemplifica Kawakami. Diferentemente, a projeção para Brasil é de uma desaceleração na atividade econômica em 2025 frente 2024, enquanto a taxa Selic deve subir ainda mais e prejudicar potencialmente o balanço de companhias brasileiras.
Para o executivo-chefe de investimentos (CIO) para o Brasil no UBS Global Wealth Management, Luciano Telo, um retorno mais firme do investidor estrangeiro à renda variável requer um ajuste fiscal mais profundo, o que, segundo ele, não deve ocorrer no curto prazo. “O Banco Central já contratou uma Selic de 14,25% e o mercado tem projetado mais do que isso, está no jogo. E mesmo com preços descontados na Bolsa, há retornos mais fáceis na renda fixa”, pondera.
Às 11h45, o Ibovespa cedia 0,64%, aos 119.355 pontos.
No mercado de juros, às 11h26, o contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 tinha taxa de 15,105%, ante 15,203% do ajuste de ontem.
O DI para janeiro de 2027 estava com taxa de 15,53%, contra 15,71% do ajuste anterior. E a taxa do DI para janeiro de 2030 era de 15,19%, de 15,41% de ontem.
(Com Estadão Conteúdo)