O dólar (USDBRL) fechou praticamente estável frente ao real nesta quarta-feira, em sessão sem grandes catalisadores e marcada por relativa calma depois que dados de inflação da véspera não alteraram as apostas sobre o início do corte de juros do Federal Reserve.
A moeda norte-americana negociada no mercado interbancário teve variação negativa de 0,01%, a 4,9745 reais na venda. Na B3, o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 0,14%, a 4,9805 reais na venda.
Operadores têm notado recentemente que o dólar está sendo negociado numa faixa estreita nos últimos dias, ficando a maior parte do tempo entre 4,94 e 4,98 reais.
“Muita coisa está tendo de influência para que o dólar não saia desse intervalo: um dos pontos importantes foi o índice de preços americano divulgado ontem. Havia expectativas de que viria bem mais alto do que as estimativas, mas veio levemente acima, o que não fez com que o mercado abandonasse expectativas de início da flexibilização em junho”, disse Márcio Riauba, gerente da mesa de operações da StoneX.
O índice de preços ao consumidor dos EUA subiu 0,4% no mês passado, depois de ter avançado 0,3% em janeiro, mostraram dados de terça-feira. Nos 12 meses até fevereiro, os preços ao consumidor aumentaram 3,2%, de 3,1% em janeiro. Economistas consultados pela Reuters projetavam alta de 0,4% no mês e de 3,1% na base anual.
Embora tenham vindo um pouco acima do esperado na base anual, os dados foram recebidos como benignos o suficiente para não interferir no plano de voo do Fed. Atualmente, a maior parte dos mercados financeiros espera que o banco central dos EUA deixe os custos dos empréstimos inalterados até junho, quando deve haver um primeiro corte.
“Ao cortar sua taxa de juros, o banco central americano eleva o apetite por risco dos investidores internacionais, induzindo um fluxo positivo em direção às economias com maior risco relativo, como as emergentes. Com a expectativa do início do ciclo de cortes nos juros americanos este ano, vemos uma boa oportunidade para se posicionar em emergentes”, avaliou o Inter em relatório nesta terça-feira.
No Brasil, o Banco Central deve cortar a taxa Selic em 0,50 ponto percentual quando o Comitê de Política Monetária se reunir na semana que vem, a 10,75%, segundo probabilidades implícitas no mercado de juros futuros, mesmo em meio a preocupações com a pressão inflacionária no setor de serviços.
Apesar da relativa visibilidade sobre a política monetária, agentes financeiros ainda apontavam problemas na cena doméstica.
“O risco político referente a uma possível interferência do governo nas políticas da Petrobras acaba interferindo no processo de valorização da moeda brasileira; de repente isso pode dar uma atrapalhada na trajetória do real”, afirmou Riauba, da StoneX.
Os ativos brasileiros tombaram na última sexta-feira após decisão da Petrobras de não distribuir dividendos extraordinários e colocar os recursos em uma reserva estatutária.
O receio é de que esse episódio possa ter mudado o equilíbrio de forças em um cabo de guerra entre o presidente-executivo da estatal, Jean Paul Prates, e o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, que controla o conselho de administração.