O banco americano Wells Fargo apresentou uma análise pessimista para o real brasileiro, com previsão de desvalorização acentuada frente ao dólar nos próximos anos, devido a fatores econômicos e políticos locais em um relatório chamado “A ficção fiscal do Brasil para frustrar o real”.
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Assinado pelo economista Brendan McKenna, o documento destaca que o cenário de incerteza fiscal no Brasil, combinado com influências externas, pode levar o câmbio a patamares recordes de desvalorização, chegando a R$ 6,50 por dólar até o primeiro trimestre de 2026.
Embora o banco mantenha algum otimismo de curto prazo para o real, especialmente com a perspectiva de que o Banco Central do Brasil (BCB) possa aumentar a taxa de juros em novembro, a visão de longo prazo é de desvalorização. Segundo McKenna, “a combinação de política monetária mais flexível e política fiscal frouxa deverá impactar a percepção de mercado e pressionar o real para baixo a partir do segundo semestre de 2025 e até o fim do nosso horizonte de previsão”.
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A análise da Wells Fargo menciona dois pontos centrais para a deterioração do real: a política fiscal do governo brasileiro e o impacto das eleições de 2026. De acordo com McKenna, as recentes eleições municipais mostraram um enfraquecimento do apoio ao presidente Lula e aos partidos de esquerda, o que, segundo o banco, pode fazer com que o governo antecipe gastos fiscais em uma tentativa de reconquistar a base eleitoral antes das próximas eleições presidenciais.
“Acreditamos que o governo Lula fará uso antecipado de estímulos fiscais para angariar apoio eleitoral bem antes de 2026”, afirma o economista. Ele observa que essa injeção de recursos deve ocorrer já no primeiro semestre de 2025, com possibilidade de intensificação ao longo do segundo semestre e ao longo do ano eleitoral de 2026.
O cenário fiscal brasileiro, segundo a Wells Fargo, já é delicado e, com a perspectiva de estímulos adicionais e déficits primários ampliados, a credibilidade do sistema fiscal poderia ser questionada. O banco cita previsões do Fundo Monetário Internacional (FMI) que indicam um déficit fiscal primário de aproximadamente 0,7% do PIB para os próximos dois anos. Entretanto, McKenna destaca que “os riscos são inclinados para um déficit ainda maior com a concretização dos gastos eleitorais”, o que poderia levar a um crescimento da dívida pública do país para mais de 100% do PIB nos próximos cinco anos.
Além da questão fiscal, o contexto externo também contribui para a perspectiva de enfraquecimento do real. O relatório aponta para uma postura menos estimulativa do Federal Reserve (Fed), o banco central americano, e a desaceleração da economia chinesa, fatores que devem enfraquecer o apetite dos investidores por ativos de mercados emergentes, incluindo o real. McKenna destaca que a decepção com os pacotes econômicos da China deve afetar o mercado financeiro e “contribuir para a depreciação das moedas de mercados emergentes, entre elas o real”.
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Segundo a análise, a combinação entre política monetária e fiscal deve começar a pressionar o real a partir do segundo semestre de 2025. McKenna enfatiza que o corte de juros no Brasil, previsto para o próximo ano, deve ser realizado em paralelo a uma postura mais cautelosa do Fed, o que tornará o Brasil menos atraente para os investidores internacionais.
“A remoção do suporte oferecido pelas altas taxas de juros no Brasil, junto a um Fed mais gradual nos cortes, pode intensificar o fluxo de saída de capital”, afirma.
A Wells Fargo, portanto, projeta um cenário desafiador para a moeda brasileira, com a taxa de câmbio ultrapassando R$ 6,00 por dólar a partir do segundo semestre de 2025 e podendo chegar a R$ 6,50 até o início de 2026. McKenna conclui que “as preocupações em torno da sustentabilidade do arcabouço fiscal brasileiro, somadas a uma economia global mais restritiva, deverão levar o real a constantes recordes de desvalorização”.
Essa perspectiva da Wells Fargo alerta para o impacto potencial dos próximos movimentos fiscais e monetários do Brasil. Mesmo com a possível alta de juros no curto prazo, o cenário fiscal e as questões estruturais indicam uma pressão de longo prazo sobre o real, elevando as incertezas para investidores e o próprio governo na condução da política econômica.