Nouriel Roubini é um dos economistas mais cultuados nos últimos tempos devido ao sucesso de suas previsões catastróficas sobre o destino crítico da economia mundial. Ele passou de “ovelha negra” para celebridade mundial e tornou-se figura carimbada nos grandes eventos mundo afora. Em um seminário realizado ontem pela Serasa Experian em São Paulo, o novo Oráculo fez novos alertas – um tanto quanto pessimistas.
Só que, desta vez, a próxima vítima é o excesso de otimismo que alguns analistas e o próprio governo brasileiro têm em relação ao crescimento do país. Para o economista, o crescimento não será tão fácil como o governo gostaria que fosse. Mesmo sobre os olhares pouco amistosos de Guido Mantega (Ministro da Fazenda), Roubini não se fez de rogado e disparou:
“Notei que parte do otimismo no Brasil tem relação com a China, e isso parece ser injustificado porque a China está exportando menos e tem excesso de investimento em produção, que já está saturada. (…) As coisas melhoram para os que concentram dois terços do PIB global [os países ricos], mas onde alguns vêem um sinal verde, eu vejo um sinal amarelo. Afinal esses dois terços estão em recessão, e os emergentes estão em pouso forçado”
As palavras de Roubini, que muitos podem julgar pessimistas, fazem muito sentido. Principalmente porque sabemos que apenas o crescimento chinês não levará o Brasil e o restante do mundo rumo a dias melhores.
China: ritmo mais lento e menor exportação de matérias primas
O desempenho relativamente bom do gigante oriental ainda é tímido se comparado com os resultados do crescimento demonstrado nos últimos anos. Fora que os chineses estão comprando menos commodities e endureceram a negociação de produtos oriundos de minério – um mau sinal principalmente para nossa gigante Vale.
Mantega, que ouviu atentamente as palavras do Dr. Apocalipse (apelido carinhoso dado a Nouriel Roubini), discorda de sua tese de que o Brasil viverá um recuo no PIB e acredita em crescimento de 3% a 4% no último trimestre de 2009, prevendo um avanço de 1% para o PIB em 2009. O ministro falou:
“Percebemos uma melhora, uma recomposição do crédito. Porém isso não significa que a crise acabou, e sim que a confiança está voltando antes que todos os problemas tenham sido resolvidos.”
Brasil: muitos problemas ainda impedem seu crescimento
O ponto de discórdia o modelo de retomada do crescimento. Para Roubini, o modelo é demonstrado pela letra “U”, ou seja, queda e recessão prolongada. Para Mantega, o que acontecerá com a economia brasileira será melhor demonstrada pela letra “V“: forte queda, seguida de rápida recuperação. Sinceramente, acredito que o Brasil possui condições de sair mais rapidamente da crise.
Entretanto, ter condições não significa ver a prática se confirmar. Nossos principais parceiros comerciais estão estagnados e passando por períodos de grave recessão. O Brasil está travado dentro de sua própria camisa de força criada pela burocracia, corrupção e ineficiência de gestão pública – desafios que precisam ser enfrentados se quisermos um dia fazer parte do grupo dos países ricos e desenvolvidos. De qualquer forma, 2009 já é um desafio!
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Ricardo Pereira é educador financeiro e palestrante, trabalhou no Banco de Investimentos Credit Suisse First Boston e edita a seção de Economia do Dinheirama.
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