A economista-chefe do Inter Research, Rafaela Vitória, revisou o cenário macroeconômico brasileiro, com foco na trajetória da taxa Selic e suas implicações para a economia em 2024 e 2025.
Segundo sua análise, o Comitê de Política Monetária (Copom) deverá manter a Selic em 10,5% até o primeiro semestre de 2025, devido ao maior risco fiscal e à inflação persistente acima da meta.
A possibilidade de uma alta dos juros, no entanto, não pode ser descartada, dada a recente pressão inflacionária.
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Credibilidade e a Selic
Rafaela Vitória destaca que, apesar das discussões sobre uma possível retomada do ciclo de alta dos juros, a manutenção da Selic em 10,5% é vista como a medida mais adequada para o atual cenário econômico. O juro real ex-ante estimado, próximo de 7%, é considerado restritivo o suficiente para controlar a inflação, mantendo a credibilidade da política monetária do Banco Central.
“A credibilidade da política monetária é importante nesse processo, principalmente através do comprometimento e da coesão, como bem colocado pelo BC, mas acreditamos que a manutenção da restrição atual por um prazo mais longo é melhor caminho, considerando menor volatilidade e menor custo para a economia”, analisa Vitória.
A economista observa que, embora o Copom tenha deixado em aberto os próximos passos da política monetária, o cenário recente mostrou-se favorável, com destaque para a variação cambial e a redução do risco externo. A possível iniciação de cortes de juros pelo Federal Reserve (Fed) em setembro também contribui para essa perspectiva, aliviando pressões sobre os mercados emergentes, como o Brasil.
No entanto, o risco de uma elevação da Selic permanece, principalmente devido às surpresas inflacionárias recentes, impulsionadas pelos preços de serviços. A inflação atual está acima das expectativas e a manutenção da Selic em um patamar restritivo por um período mais prolongado pode ser necessária para garantir que a inflação retorne à meta em 2025.
Inflação e PIB
Em relação às projeções de inflação, a Inter Research revisou suas estimativas para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2024, elevando a previsão de 4,2% para 4,4%. Para 2025, a expectativa de inflação foi mantida em 3,8%. A inflação de serviços e a depreciação cambial foram os principais fatores que justificaram essa revisão.
O cenário para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) também foi ajustado, com a projeção para 2024 sendo elevada de 2,1% para 2,5%, devido a dados de atividade mais fortes no segundo trimestre. A economista aponta que o impulso fiscal e a melhoria no mercado de trabalho têm sido os principais motores desse crescimento.
Entretanto, Rafaela Vitória alerta para o risco fiscal como um dos principais desafios para a economia brasileira. O crescimento dos gastos públicos, que acumulou 12% acima da inflação entre 2022 e 2024, é visto como um fator que sustenta o prêmio de risco nas curvas de juros, refletindo a baixa credibilidade do arcabouço fiscal atual.
A expectativa para o déficit primário em 2024 é de aproximadamente R$ 60 bilhões, o que pode ser visto como um cumprimento do piso da meta fiscal, considerando as despesas excluídas do cálculo e o empoçamento de recursos no final do ano. No entanto, o desafio para 2025 permanece, com a necessidade de cortes de gastos mais significativos para garantir o cumprimento da meta fiscal.
No cenário externo, a melhora nos dados de inflação nos Estados Unidos trouxe alívio aos mercados, consolidando a expectativa de que o Fed inicie um ciclo de cortes de juros em setembro de 2024. A economista prevê três cortes de 25 pontos base cada até o final do ano, o que deve reduzir a aversão ao risco para países emergentes e contribuir para uma apreciação do câmbio no Brasil.