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É só o mercado, idiota! A real história por trás da queda da Nvidia

A queda abrupta recente das ações da Nvidia pode ser melhor explicada por uma série de manobras estratégicas no mercado financeiro

por Gustavo Kahil
3 min leitura
Nvidia

As ações da Nvidia (NVDA; NVDC34) derreteram quase 10% nesta terça-feira (3), uma perda de US$ 279 bilhões, e continuou caindo 2,4% após o fechamento. O motivo, segundo foi noticiado em todo o mundo, foi a intensificação de uma investigação do Departamento de Justiça (DOJ) dos EUA envolvendo a fabricante de chips que potencializam a inteligência artificial das empresas.

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No entanto, segundo o relatório detalhado da Bloomberg Intelligence, obtido pelo Dinheirama, os procedimentos legais sobre a Nvidia continuam nos estágios iniciais, enquanto o cenário regulatório continua a evoluir, com a Nvidia enfrentando possíveis desafios jurídicos tanto nos EUA quanto internacionalmente.

Os analistas Justin Teresi e Jennifer Rie ressaltam que as verificações do DOJ pode “levar anos para serem concluídas”.

É só o mercado!

Com isso, a queda de quase 10% nas ações da Nvidia pode ser explicada também por uma série de manobras estratégicas no mercado financeiro, que culminaram em uma grande liquidação de posições, segundo apurou o Dinheirama.

No início da semana, entre os dias 2 e 3 de setembro, fundos de investimento, assets e outras instituições financeiras se posicionaram fortemente em opções de venda (puts) da Nvidia, com um strike de US$ 110 para o próximo vencimento. Esse movimento foi realizado em antecipação ao relatório de Emprego dos EUA que será divulgado na sexta-feira (6), e que normalmente influencia a reavaliação de risco nas carteiras dos investidores.

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Durante a madrugada de domingo para segunda-feira, um volume expressivo de compras dessas opções foi observado, o que gerou alerta no mercado. À medida que a segunda-feira avançava, começaram a circular boatos, espalhados por traders de grandes bancos e fundos, sobre a pressão de venda iminente nas ações da Nvidia. Essa onda de rumores se espalhou rapidamente, intensificando o sentimento negativo em relação ao papel.

Apesar da notícia de que a Nvidia havia aprovado um plano de recompra de ações no valor de US$ 50 bilhões — um dos maiores da história de Wall Street —, a pressão vendedora causada pelos grandes investidores posicionados em puts foi tão forte que o valor de mercado da empresa despencou, resultando em uma perda de aproximadamente US$ 280 bilhões em capitalização de mercado.

Os investidores que estavam comprados nas opções de venda conseguiram liquidar suas posições com um grande lucro, aproveitando-se do movimento de queda nas ações da Nvidia. Esse evento destaca a influência que grandes players do mercado podem ter sobre os preços das ações, especialmente quando coordenam movimentos significativos em opções derivativas, como as puts.

Desde o último resultado da Nvidia em 28 de agosto, parece haver uma dissonância entre a percepção dos analistas dos bancos internacionais e o humor de mercado para a empresa. Após o balanço, todos os analistas de sell-side reforçaram a recomendação de compra, sendo que nenhum diminuiu o preço-alvo e 10 deles inclusive aumentaram-no em até US$ 40.

Todos os 73 principais analistas de sell-side abordaram o tema do atraso da tecnologia Blackwell e descredenciaram as preocupações de mercado. Desde então, as acoes foram de um intervalo entre US$ 125 e US$ 130 para US$ 110. O JP Morgan, por exemplo, elevou o preço-alvo em US$ 40, de US$ 115 para US$ 155.

A análise da Bloomberg foi dividida em cinco partes, cada uma destacando aspectos diferentes da investigação e suas potenciais consequências:

1. Apenas a longo prazo

Segundo o relatório, a notícia de que Nvidia e outras partes receberam intimações do DOJ não foi surpreendente, dado o interesse do órgão em possíveis questões antitruste envolvendo a aquisição da Run AI pela Nvidia. Além disso, o DOJ está examinando se a Nvidia impõe restrições anticompetitivas a seus clientes de chips. As investigações ainda estão em estágio inicial e “podem levar anos para serem concluídas”. O DOJ se concentrará no domínio da Nvidia em semicondutores, enquanto a FTC investigará Microsoft e OpenAI.

A israelense Run é uma provedora de software de gestão e orquestração de workloads baseada em Kubernetes para ajudar seus clientes a utilizarem de forma mais eficiente os recursos de computação de IA. À medida que as implantações de IA se tornam mais complexas, com workloads distribuídas entre nuvens, data centers e ambientes híbridos, a Run fornece uma plataforma centralizada que permite o gerenciamento e a otimização da infraestrutura de computação, seja em premissas ou na nuvem. Isso “fideliza” os clientes.

2. Questões complexas em jogo

O DOJ também está investigando investimentos da Nvidia em startups, além de avaliar se a aquisição da Run e possíveis práticas de “bundling” (venda casada) podem configurar monopólio. Esses casos são extremamente complexos e exigem análises econômicas detalhadas.

“Práticas de bundling podem ser consideradas anticompetitivas, mas o padrão para provar isso é alto”. Mesmo que algum dano seja identificado, justificativas comerciais válidas podem isentar a empresa de responsabilidade.

3. Reforço da autoridade

A análise sugere que parte da investigação visa garantir que o DOJ e a FTC mantenham sua autoridade de revisar certas transações antes de seu fechamento, especialmente no setor de IA. Um ponto de interesse é se acordos de IA estão sendo estruturados de forma a evitar essa revisão. “A presidente da FTC, Lina Khan, alertou que a ação agora pode evitar problemas antitruste futuros causados pela consolidação.” A compra de startups e grandes investimentos, como o da Microsoft na OpenAI, são focos centrais da investigação.

4. Investigações e possíveis acordos

O relatório alerta que, sem confirmação pública, tudo o que se pode fazer é especular sobre o futuro da Nvidia. Investigações como essa geralmente levam anos para serem resolvidas, e, se for determinado que houve conduta anticompetitiva, isso pode resultar em acordos ou anos de litígios.

“Os acordos provavelmente se limitariam a mudanças estruturais ou de conduta corporativa, além de possíveis multas por violações da Lei Hart-Scott-Rodino.” É improvável que o DOJ ou a FTC façam anúncios públicos sobre as investigações neste momento.

A Lei Hart-Scott-Rodino (HSR), promulgada nos EUA em 1976, exige que empresas que planejam fusões ou aquisições de grande porte notifiquem as autoridades antitruste, como o DOJ e a FTC, antes de concluir o acordo. O objetivo é permitir uma revisão para evitar concentrações de mercado que possam prejudicar a concorrência. A questão é que o DOJ teria sido ignorado neste caso.

5. Cenário regulatório em evolução

A divisão de tarefas entre FTC e DOJ não é nova. Em 2019, a FTC investigou a conduta da Amazon (AMZN; AMZO34) e do Meta (META; M1TA34), enquanto o DOJ analisou Google (GOOG; GOOGL; GOGL34; GOGL35) e Apple (AAPL; AAPL34), com todas as investigações resultando em processos judiciais. O relatório destaca que, além das investigações nos EUA, órgãos reguladores europeus também estão investigando possíveis comportamentos anticompetitivos da Microsoft (MSFT; MSFT34), OpenAI e Nvidia. “Bruxelas optou por focar em acordos de exclusividade como parte da investigação sobre Microsoft e OpenAI.” Isso demonstra a dificuldade de aplicar leis existentes a acordos que não envolvem aquisições completas.

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