Falar sobre dinheiro costuma ser um pouco doloroso para muitos brasileiros. A coisa fica ainda mais grave porque culturalmente associamos pessoas bem-sucedidas financeiramente à avareza. Em alguns casos mais extremos, olhamos com preconceito quem conseguiu sucesso cuidando bem do próprio dinheiro.
Infelizmente, cada vez mais me deparo com pessoas que ainda querem prosperar na facilidade, pessoas que buscam “se dar bem” a qualquer custo, principalmente em cima da ingenuidade e ganância de muita gente.
As pessoas estão com pressa. Pressa para ganhar dinheiro, pressa para gastar dinheiro, pressa para enriquecer, pressa para comprar e financiar seus sonhos. Pressa que, no Brasil do passado, até tinha algum sentido; hoje, a situação é outra.
Consumo imediato, a saída contra a inflação
Desde 1994, com o surgimento do Plano Real, o Brasil experimentou uma realidade econômica muito diferente, afinal as décadas de 70 e 80 foram marcadas por picos de hiperinflação e diversos planos econômicos que trouxeram ao país grandes dificuldades.
Naquele tempo, nossos brasileiros conviviam diariamente com a necessidade de consumo imediato em razão da perda de poder de compra: o que se comprava de manhã no final do dia já estava muitas vezes remarcado nos supermercados da época. A inflação literalmente corroía nossas chances de comprar.
De lá pra cá, muita coisa mudou em nossa economia. Fica até difícil explicar para quem não viveu naquele período tantas dificuldades e desafios. Em fevereiro de 1987, por exemplo, o Brasil anunciou a suspensão do pagamento dos juros de sua dívida externa, situação que colocou em xeque a pouca credibilidade de nossa economia por um bom tempo.
Estabilização econômica com o Plano Real
A população que era obrigada consumir a qualquer custo foi caminhando e acompanhando de longe as movimentações na economia do país. Pouca gente (infelizmente) percebeu as novidades que uma economia estável e mais previsível oferece às pessoas.
O consumo continuou em alta por um bom período, o que foi importante para o crescimento da economia do país, o brasileiro teve acesso ao mercado de crédito e aproveitou a facilidade na obtenção de dinheiro emprestado para comprar cada vez mais.
Nesse meio tempo, as condições econômicas também melhoraram e criaram condições para que a qualidade de vida das pessoas melhorasse. Consequentemente, nossa expectativa de vida aumentou consideravelmente.
Passado o período de 20 anos de Plano Real, é possível afirmar que atravessamos alguns períodos de crise, de crescimento e hoje estamos convivendo novamente com um período de grande incerteza (basta olhar os números não só do Brasil, mas também do mundo).
O erro que cometemos tem a ver com o longo prazo: o país apostou suas fichas em uma política de expansão de crédito e consumo, mas se esqueceu da importância da formação de poupança para o futuro e do foco em um aumento de renda focado em qualificação e produtividade.
Desafios para o futuro: seremos capazes de enfrentar?
Temos inúmeros desafios para os próximos anos e todos já percebemos que as responsabilidades precisam ser compartilhadas entre governo e também cidadãos. Nós somos os responsáveis por cobrar a responsabilidade fiscal do país, mas não pensamos duas vezes antes de gastar mais do que podemos, não é mesmo?
A mudança precisa ser estrutural e baseada na transformação da forma como nos colocamos como participantes do processo democrático. Precisamos incentivar, desde já, os mais novos a se preocuparem com a aposentadoria, para começar com um exemplo clássico.
Precisamos criar o sentimento de que para conquistar é fundamental planejar e investir tempo e dinheiro. Precisamos cuidar da educação para que consigamos, com o passar do tempo, alinhar nossa gentileza (somos, sim, um dos povos mais receptivos e alegres do mundo) à cultura de execução e respeito pelo próximo e pelo bem público.
Acabou a Copa! E agora?
Coincidentemente, ultrapassamos um dos períodos mais mágicos da recente história do país: a Copa de 2014. Felizmente, o caos alardeado por muitos não aconteceu e o Brasil conseguiu melhorar sua imagem no exterior.
Precisamos agora cuidar para que nossa alegria seja associada ao nosso potencial, com menos jeitinho e cada vez mais simpatia e projetos de impacto para a população. O Brasil é um lugar de belezas naturais incríveis e pode aproveitar esse momento importante para alavancar seu turismo. Depende da nossa competência em catalisar tudo isso.
Em 2016, teremos as Olimpíadas no Rio de Janeiro, outro megaevento com muita visibilidade. Tomara que estejamos preparados para ver nosso país sendo destaque (na organização e no esporte) e que as pessoas percebam que para chegar ao sucesso é preciso cada vez mais trabalho e planejamento.
Foto “Real”, Shutterstock.