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Home Economia e Política Economia brasileira: formação de uma bolha ou simples crescimento?

Economia brasileira: formação de uma bolha ou simples crescimento?

por Conrado Navarro
3 min leitura

Economia brasileira: formação de uma bolha ou simples crescimento?Juliano comenta: “Navarro, o noticiário econômico tem dado especial destaque ao fato de a inadimplência estar crescendo muito em relação a períodos passados. Jornais e revistas falam do aumento da inflação, da alta dos juros e do crédito cada vez mais caro. As pessoas reclamam que não podem pagar, as dívidas aumentam e o ciclo parece ficar perigoso. Especialistas internacionais apontam risco de superaquecimento na economia, com possibilidade de uma bolha de crédito. É isso mesmo? E agora?”.

A situação econômica brasileira tem despertado diferentes interpretações, tanto aqui quanto lá fora. Crescimento econômico, ascensão social (pelo menos 30 milhões de brasileiros migraram de classe nos últimos anos) e crescimento da renda familiar são alguns dos fatos que levaram mais e mais brasileiros a consumir – especialmente aqueles que tinham desejos de consumo represados e antes eram marginalizados neste sentido.

Estes brasileiros compraram (muito!) e se endividaram ao longo dos últimos anos, quando os juros básicos da economia (Taxa Selic) encontraram seus patamares mais baixos na história. O crédito (dinheiro) na época ficou mais barato – financiar e comprar com dinheiro emprestado parecia uma opção atraente. O boom na venda de carros mostrou como a realidade do crédito para compra de bens mudou radicalmente em nosso país.

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O momento agora é diferente. Como reflexo da elevação do consumo, veio a inflação. Com ela, novos e consistentes aumentos dos juros básicos. A alta na Taxa Selic tem reflexos diretos no custo do crédito, encarecendo os empréstimos e financiamentos. A decisão de “esfriar” a economia traz consigo alguns efeitos colaterais, sendo um deles o aumento da inadimplência.

O assunto ganhou destaque no jornal britânico “Financial Times”, que publicou mais de 12 matérias sobre isso em menos de 15 dias, e também na prestigiada revista “The Economist”, que colocou o Brasil entre os sete países com maior risco de superaquecimento. Isso sem falar da opinião da nova diretora do FMI, Christine Lagarde, que alertou para riscos de inflação e perigo de bolha de crédito.

Será que oferecemos crédito demais, sem critérios e sem a devida regulação/fiscalização?
Observar a evolução na concessão de crédito no Brasil assusta, mas é importante relacionar o indicador com outros índices e fatos da realidade econômica brasileira:

  • O volume de crédito é crescente, não explosivo. Como proporção do Produto Interno Bruto (PIB), o crédito representava 24,7% em janeiro de 2005; em abril de 2011 esse valor chegou a 46,6%. Uma alta expressiva, é verdade, mas muito distante de países como China e África do Sul, onde o crédito doméstico passa de 120% do PIB, ou de países como EUA e Inglaterra, onde os números passam de 200%. Os dados são do Banco Central (BC) e Banco Mundial;
  • O perfil do endividamento é diferente do de anos atrás. Apesar da alta na concessão de crédito, o foco são modalidades mais baratas e com juros em queda, como financiamento imobiliário e de veículos e crédito consignado. Opções como cheque especial e cartão de crédito perderam espaço. Para se ter uma ideia, em dezembro de 2007 o cheque especial representava 5,4% das operações, enquanto o cartão de crédito atingia 7,1%. Dados de maio deste ano mostram que o cheque especial representa 3% do total das operações, enquanto o cartão atinge 6%. Os dados são do BC;
  • A renda familiar e o nível de emprego estão em patamares históricos. Segundo estudos da Fundação Getúlio Vargas (FGV), as classes mais pobres (D e E), que em 1992 representavam juntas 62,13% dos brasileiros, agora são 33,19%. Nossa classe C – renda entre R$ 1.200,00 e R$ 5.274,00 – atinge hoje 105,4 milhões de pessoas, ou 55,05% da população. O índice de desemprego atingiu patamar de 6,2% em junho, menor valor para o mês desde o início da série (março de 2002);
  • Nosso sistema financeiro é conservador se comparado ao de economias mais desenvolvidas. Depois de muitos problemas com fraudes bancárias e quebras generalizadas (vale lembrar do Proer em 1995), o BC adotou medidas mais rígidas em termos de regulação: aumento do compulsório, limitação de prazos para os empréstimos e exigência maior para o pagamento mínimo da fatura do cartão são alguns exemplos.

A situação de outros países como comparação
Como estamos lidando com a questão do perigo de uma escalada na inadimplência, vale observar como se comportam os países quando o assunto é o endividamento das famílias. Segundo dados da OCDE, no Brasil esse índice é de 42% da renda líquida; na Alemanha, o valor chega a 99%; no Japão, 126%; No Canadá, 148%; e no Reino Unido, 171%.

O que nosso Banco Central tem feito?
Nosso BC parece agir de forma pró-ativa em relação à expansão do crédito, com medidas pontuais visando controlar a inflação, diminuir a expansão do crédito e fiscalizar a concessão de empréstimos:

  • O BC anunciou em maio a criação do Comef, Comitê de Estabilidade Financeira, justificado da seguinte forma por Anthero Meirelles, diretor de fiscalização do BC: “Num momento em que a internacionalização dos bancos brasileiros é forte e o interesse dos estrangeiros pelo mercado local também é grande, queremos criar melhores condições para os sistemas decisórios e definir diretrizes para que as áreas trabalhem de maneira mais harmônica”;
  • O BC pretende antecipar a implementação das medidas previstas no acordo Basileia III, firmado no ano passado como resposta à crise financeira e que visa reforçar a solidez das instituições financeiras, aumentando a estabilidade de toda a economia. Para entender melhor as mudanças e o tema, sugiro a leitura de um boletim da RiskBank;
  • A partir do fim de outubro serão fiscalizados empréstimos com valor a partir de R$ 1.000,00. Antes da medida, apenas concessões com valores acima de R$ 5.000,00 eram monitoradas. O monitoramento completo dos empréstimos permitirá ao BC avaliar melhor informações como renda, nível de endividamento, histórico, dados cadastrais, modalidade de empréstimo e juros e localizar discrepâncias. O volume de informações monitorado pelo departamento de fiscalização vai se multiplicar por dez, segundo apurou o jornal Folha de S. Paulo;
  • O aumento nas taxas básicas de juros costuma ser seguido de avaliações nos prazos máximos dos financiamentos conseguidos e da necessidade dos bancos em manter reservas maiores (compulsórios).

Então não é bolha, mas crescimento?
Diante da situação exposta e da realidade dos fatos, sou da corrente que acredita que o momento presente está muito mais para um reflexo das mudanças sociais e econômicas de nossa população que para um movimento irracional de consumo. Observo com as devidas ressalvas, é claro, principalmente porque problemas decorrentes de avanços no crédito foram sentidos recentemente em outros países.

Se ainda não estamos em uma bolha, é preciso que cuidados continuem sendo tomados para que esta não seja a realidade do amanhã. Se as medidas tomadas serão suficientes para conter uma eventual formação de bolha, só o tempo dirá. É importante ficar de olho e torcer para que, nas conversas e decisões de nossos representantes, crescimento sustentável também seja sinônimo de crescimento saudável.

Foto de sxc.hu.

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