Por Gustavo Chierighini, fundador da Plataforma Brasil Editorial.
Caro leitor, em tempos de pós-eleição presidencial, diante do clima que se instaurou (a poeira teima em não baixar), algumas reflexões se fazem necessárias.
Antes de tudo, o contexto. Existem os satisfeitos, convictos de que a continuidade do modelo vigente e a condução econômica estão no lugar e no tom adequados. Estes convivem com uma outra metade assustada, frustrada e receosa, à espera de sinais de que uma oposição finalmente se apresente de forma estruturada, exercendo o seu papel institucional.
Por oposição estrutura, trato do anseio pelo velho, sólido e saudável antagonismo típico da normalidade em regimes democráticos liberais (para aqueles que não aceitam esse balanço, vale a sugestão de residirem por alguns anos em países ditatoriais com a missão de lá fazer oposição – será bem didático).
Sugestões à parte, seria essa a prova de que, no fundo no fundo, somos uma democracia sólida? Somos uma democracia que apenas convive com o natural conflito de posições, mas sobretudo blindada de retrocessos e maluquices como uma nova intervenção militar ou uma guinada bolivariana? Aposto que sim.
Acredito que vencerá o pragmatismo econômico: cumprimento vigoroso do regime de metas de inflação, câmbio flutuante, responsabilidade fiscal e redução do intervencionismo governamental.
Se acredito mesmo nisso tudo, ações que não parecem parte do grupo político reconduzido pela terceira vez ao poder? Sim, creio, afinal de contas o senso de sobrevivência sempre fala mais alto e não há motivos consistentes para que assim não seja.
Como sabemos, os frutos resultantes de sucessivos “pibinhos” acompanhados de forte pressão inflacionária trazem como efeito colateral derrotas políticas e problemas graves de governabilidade. Já vivemos isso e o didatismo da questão é claro.
Até aqui, tudo mais ou menos previsível. A grande questão é se iremos nos acomodar com tão pouco. Ou seja, estaremos mesmo satisfeitos apenas com a certeza de não vivenciarmos rupturas institucionais e com o bom senso econômico voltando à tona?
Para este último questionamento, não tenho a resposta, mas é sempre bom lembrar que:
- Ninguém investe pesado em um ambiente onde não há segurança jurídica;
- Tomadores de risco não querem ser estigmatizados, mas conviver com regulação eficiente, porém não excessiva, protegidos de abusos e do massacre da burocracia;
- O “bônus demográfico” brasileiro está chegando ao final, e por conta disso precisamos, com urgência, nos tornar uma sociedade mais produtiva (isso se desejarmos prosperar com equilíbrio social e ampla oferta de oportunidades);
- O foco em educação precisa deixar de ser uma retórica vazia para se tornar uma política de estado, com menos pressão ideológica e mais focada em formar cidadãos plenos e capacitados, com amplas condições de formatar as suas próprias opiniões;
- Sem investimentos em infraestrutura “morreremos na praia”, sem jamais termos conhecido o nosso verdadeiro potencial econômico;
- Devemos conviver com o conflito de opiniões e o contraditório, mas desunidos não iremos muito longe, como de fato não estamos indo;
- Necessitamos urgentemente somar ao nosso portfólio produtos de valor agregado, garantindo não apenas resultados mais consistentes e saudáveis em termos de balança comercial, mas sobretudo gerando empregos de melhor qualificação;
- Não é possível conviver com uma carga tributária tão pesada, sem o devido retorno em investimentos e disponibilização de ampla eficiência estatal.
Para encerrar, recorro ao óbvio, reafirmando que uma sociedade que quer prosperar jamais se contenta com tão pouco. Onde queremos chegar? Quem queremos ser? Vamos pensar com carinho nisso? Obrigado e até o próximo.
Foto: People with direction, Shutterstock