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Economia pós-pandemia: mais endividados, pagando mais impostos

por Conrado Navarro
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Economia pós-pandemia: mais endividados, pagando mais impostos - homem de máscara

Como vai ficar a economia pós-pandemia? Talvez você já tenha ouvido uma frase muito usada para definir o brasileiro e sua “sina”: “Por aqui, a única certeza para o cidadão é que ele vai morrer e vai pagar mais impostos”. Daria para colocar a inflação e mais dívidas no contexto também, mas a afirmação já é trágica o suficiente.

Acredite ou não, a economia pós-pandemia caminha realmente para um cenário bastante trágico. Ah, não entraremos aqui na ridícula discussão entre vidas e economia, ok? Por favor, deixe a polarização de lado e considere o foco do texto uma escolha minha, afinal de contas aqui tratamos de educação financeira.

De um lado, famílias com a renda prejudicada, com o fantasma do desemprego surgindo com cada vez mais força. Como resultado, mais endividamento. De outro lado, o Brasil ficando com uma enorme pressão fiscal e cada vez mais longe das necessárias reformas tão anunciadas pelo atual governo.

No meio disso tudo, nossa população, a necessidade de enfrentar a pandemia e a tentativa de manter a esperança. Parece dramático, porque é mesmo. Como sempre, vamos atravessar mais esta crise, mas não sem impactos reais, muitos deles já sentidos (e conhecidos). Vejamos.

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Economia pós-pandemia: famílias mais endividadas

Recorde de inadimplência das famílias em maio chama atenção: de acordo com dados divulgados pela Confederação Nacional do Comércio (CNC), o índice aponta que 10,6% das famílias declararam não ter condições de pagar contas atrasadas, ou seja, mais de 1 em cada 10 entrevistados. Em abril, o índice era de 9,9%.

Partindo da situação mais grave, mostrada acima, praticamente todos os demais indicadores pioraram. As famílias que se declararam muito endividadas representaram 16% dos respondentes, em patamar muito próximo do medido em meados de 2011.

Considerando os que afirmaram não ter condições de pagar suas dívidas e os que se veem como muito endividados, temos mais de ¼ dos respondentes. Quando a pergunta é “você tem alguma dívida em atraso?”, 25,1% dos brasileiros responderam “Sim”. O número cresce em relação à média anual, de 24,1%.

Mais de um terço dos brasileiros (66,5%) declarou que mantém dívida de cheque especial, cartão de crédito, crediário, empréstimo e financiamento de carro. Não significa que a dívida está fora de controle, mas que seu orçamento está comprometido com estas despesas.

Adivinhe qual o tipo de dívida mais comum? Acertou! O cartão de crédito continua líder no endividamento da população, com 76,7% do total das dívidas, seguido dos famosos carnês/crediário, com 18%, e do financiamento de veículos, com 11,1%.

É muita gente, muito endividada. Para a economia pós-pandemia, que deverá ser de acentuada queda de renda e pouca oferta de emprego, o quadro preocupa, embora ainda não seja considerado “explosivo”, termo usado pelos especialistas. Algumas pessoas já não conseguem pagar o que devem, outras poderão viver esta realidade dentro de pouco tempo.

O auxílio emergencial e as diversas medidas tomadas até agora pelo governo federal têm tido um papel importante para a não piora do quadro geral, mas é no lado do crédito que talvez esteja o aspecto mais importante para ajudar os brasileiros a atravessar este momento.

Bancos e instituições financeiras estão mais críticos e seletivos por conta da natural aversão ao risco, mas ao mesmo tempo oferecerem aos seus clientes que estão em dia, formas de postergar parcelas e amenizar o impacto dos empréstimos por alguns meses.

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Economia pós-pandemia: país endividado e mais impostos

Como país, a situação do endividamento também vai se complicar. Começamos 2020 com um endividamento equivalente a 76% do PIB (Produto Interno Bruto), indicador que mostra a tão falada relação dívida/PIB, uma referência importante para avaliação da saúde econômica da nação como um todo.

A análise desse indicador é relativamente simples: quanto menor o número, melhor, uma vez que a riqueza produzida é muito maior que a dívida do país. Ou seja, é muito mais fácil conseguir pagar (ou rolar) a dívida em uma situação assim.

Os enormes (e necessários) gastos com a pandemia projetam uma escalada no endividamento. A estimativa para o final do ano de 2020 é que o número final fique acima de 90% do PIB, podendo chegar a até 96%. O quadro fiscal do país se deteriorou muito rapidamente e não há, no momento, espaço para discutir reformas, que dirá ajuste fiscal.

O tamanho da crise surpreende e seus efeitos durarão um bom tempo. Depois de um PIB negativo em 2020, talvez recorde, espera-se que haja crescimento em 2021, mas será suficiente para maior arrecadação e volta de pautas econômicas essenciais defendidas pelo governo desde a sua eleição? Duvido.

Privatizações, reformas administrativa e tributária ou mesmo um choque de gestão passaram a ser temas de segunda relevância e que despertam ânimos em meio ao caos e à “prova”, como defendem muitas pessoas, de que o Estado precisa ser muito presente em nossa realidade econômica.

Diante de tudo isso, algumas empresas de análise e economistas já são unânimes em dizer que a saída mais rápida e com resultado mais consistente no curto e médio prazo é a elevação de impostos. Mais impostos, acredite se quiser.

Sergio Vale, da MB Associados, acredita que a maneira mais viável de elevar os impostos se dará através do Imposto de Renda, para profissionais com carteira assinada, e das empresas. O desconto do IR poderia saltar de 27,5% para 35%, por exemplo, segundo sua opinião dada ao jornal Estado de S. Paulo.

Vale também é favorável à continuidade da agenda reformista que mencionei alguns parágrafos acima, principalmente para que possamos voltar a atrair a atenção de investidores estrangeiros e de capital não especulativo.

Luiz Carlos Mendonça de Barros, ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDES) também defende que o aumento de impostos será inevitável. Na sua visão, porém, devem avançar antes as propostas de tributação de dividendos e elevação de certas alíquotas para os bancos. Uma espécie de nova CPMF também parece plausível, segundo ele.

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Conclusão

A situação da economia pós-pandemia vai ser desafiadora tanto do ponto de vista do cidadão, quanto do governo. Aliás, vai seguir complicada, afinal de contas nós ainda não havíamos nos recuperado da grave crise vivida em 2015 e 2016.

O nível de renda per capita deve recuar algo entre 10% e 15%, não sendo homogêneo por conta da complexa matriz de trabalho vista no Brasil. O desemprego e a informalidade devem crescer. Tudo isso ao mesmo tempo em que a situação fiscal e a tensão política do país se agravam.

Não bastasse o enorme desafio da pandemia, herdaremos uma “segunda onda” de problemas de toda ordem na economia pós-pandemia. De reformas adiadas a mais impostos, passando por polêmicos projetos de lei, precisaremos mais do que nunca de liderança, esforço público e incentivo ao empreendedorismo. Haja coração!

Foto: Pixabay.

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