Eu sempre acreditei que o papel da escola é ensinar, e não fazer a gente aprender. Parece estranho? Deixe-me tentar explicar: a escola transmite conceitos importantes, mas se ela não faz isso de forma instigante, ninguém se sentirá compelido a praticar fora daquele ambiente. Ou seja, ninguém vai tentar – na vida, no dia a dia e na prática – o que se viu na teoria.
Porque, parece óbvio observar, o aprendizado só surge quando praticamos o que observamos. Ou seja, aprender é também sinônimo de experimentar. Experimentar muito! Quando estudamos “para passar”, estamos preocupados em satisfazer as expectativas dos outros (a nota) e não em aprender (ou simplesmente praticaríamos por mero desejo e prazer).
A falência da educação atual não está apenas em manter-se fiel a um modelo antiquado, mas simplesmente em achar que ela é responsável por fazer as pessoas aprenderem. Seu papel é outro e entender isso tornaria as coisas muito mais simples.
É só pegar os exemplos de professores fantásticos para perceber que seu estilo consiste em provocar os alunos e despertar neles o interesse pelo que estão falando em sala de aula. Só isso! Perceba que não importa o local (é a escola, mas poderia ser um restaurante, a empresa etc.), mas o foco da ação: compartilhar e tornar o tema prático, agradável e com sentido.
O “resto” (que para o modelo atual é tudo) passa a ser responsabilidade dos alunos; porque o aprendizado virá como consequência destes quererem praticar o que foi compartilhado (e não “ensinado”) em sala de aula.
As críticas podem se estender aos conceitos de nota, ao formato de avaliação e demais aberrações. O “melhor” no atual modelo de educação (aquele que tirou “nota boa”) não quer dizer muita coisa, apenas que ele se enquadra no que a sociedade espera de um “bom aluno”.
Habilidades essenciais para a vida (resiliência, relacionamento interpessoal, interpretação, persistência, humildade etc.) não se medem em uma escala de 0 a 100 e nem possuem “certo e errado”, “melhor e pior”. Repare que aqui estou falando de práticas de vida e não de teorias sobre como as coisas deveriam ser (o que se faz muito na escola).
Digo isso porque creio que o aprendizado verdadeiro é fruto da interseção entre valores, princípios e exemplos (e não apenas do conhecimento formal e ladeado por apostilas, livros e material didático), o que nos remete à qualidade dos professores e dos exemplos dados pelos pais e familiares.
Ora, que tipo de atitude professores mal preparados e desvalorizados transmitirão enquanto seres humanos? O que dizer de pais ignorantes e que abdicam da responsabilidade de educar e formar um cidadão, alegando que isso é papel da escola? Não é possível aprender a ser gente (algo impossível de “dar nota”) enquanto quem nos “educa” acredita que isso é uma baboseira (pais, professores e sociedade).
Confesso que fico muito mais preocupado com a turma que passa “na média” que com quem tira “notas baixas” ou “notas altas”. Sim, porque é bom lembrar que, em geral, “a média é invisível” (frase de Seth Godin), então ser um outlier pelo menos garante atenção. O que vamos fazer com ela é que é o ponto-chave.
O tema e minha opinião são polêmicos, eu sei. Mas é muito legal saber que posso compartilhar minha visão de forma sincera, com o objetivo de somar em um debate tão necessário e urgente. Nossa educação precisa de mais carinho, bons exemplos e valorização do ser humano – e isso não é só responsabilidade de professores e educadores. É uma tarefa social muito mais ampla.
Ufa! O que você acha disso tudo? Use o espaço de comentários abaixo e deixe sua opinião. Abraços e até a próxima.
Foto “Graduates”, Shutterstock.