O real não conseguiu acompanhar hoje tom positivo que tomou conta da bolsa e do mercado de juros futuros diante de especulações em torno da corrida presidencial de 2026, na esteira da perda de popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva revelada por pesquisas recentes, em especial o levantamento do Datafolha divulgado na última sexta-feira, 14.
Em sessão morna e de liquidez reduzida, com as bolsas em Nova York fechadas em razão de feriado nos EUA, o dólar (USDBRL) apresentou leve alta em relação ao real, alinhado ao comportamento da moeda americana no exterior.
Operadores afirmam que o pregão foi marcado por ajustes técnicos e realização de lucros, após o rali recente da divisa brasileira.
No início dos negócios, o dólar chegou a esboçar um avanço mais forte, ultrapassando os R$ 5,72 para registrar máxima a R$ 5,7222.
A moeda americana desacelerou os ganhos em relação ao real ainda pela manhã, à medida que o Ibovespa subia e os juros futuros recuavam, sob o impacto do chamado “trade eleitoral”.
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Com mínima a R$ 5,6959, o dólar à vista fechou a R$ 5,7125, em alta de 0,29%. Após ter recuado 5,56% em janeiro, a moeda já apresenta baixa de 2,13% em fevereiro, o que leva a uma desvalorização de 7,57% em 2025.
O real tem o segundo melhor desempenho no ano entre as principais moedas, atrás apenas do rublo russo.
O chefe da mesa de câmbio da EQI Investimentos, Alexandre Viotto, afirma que o feriado nos EUA comprometeu a liquidez e deixou a formação da taxa de câmbio mais sujeita a operações pontuais.
Com os investidores, em especial os estrangeiros, retraídos, houve um ajuste técnico no mercado de câmbio local.
“O movimento hoje é muito baixo. Amanhã será o dia mais adequado para ver se esse ‘trade eleitoral’ vai continuar tendo efeito no câmbio, como parece ter acontecido na sexta-feira”, afirma Viotto, que vê potencial para dólar se firmar abaixo de R$ 5,70 no curto prazo, com entrada de investidores estrangeiros em especial para renda fixa. “É aquela coisa de chegar primeiro para aproveitar a oportunidade, porque o Brasil ainda está barato”.
A leitura predominante de analistas ouvidos pelo Broadcast é que a perda de popularidade de Lula abre espaço para o crescimento de um candidato da oposição, mais à direita do espectro político e, em tese, mais comprometido com políticas de austeridade fiscal o que se traduziria em redução dos prêmios de risco.
Pesquisa do Datafolha mostrou na sexta-feira que a aprovação de Lula caiu de 35% em dezembro de 2024 para 24%. Já a desaprovação saltou de 34% para 41%.
Trata-se dos piores índices entre os três mandatos do petista pelo histórico do Datafolha.
Circularam informações hoje de que Lula ainda não definiu se concorrerá à reeleição em 2026. O presidente teria expressado a auxiliares o desejo de evitar uma candidatura em condições físicas debilitadas, mencionando o exemplo do ex-presidente americano Joe Biden.
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De outro lado, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, teria sinalizado que pode concorrer à presidência caso receba o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Para o time de estrategistas de ações do JP Morgan para a América Latina e Brasil, as pesquisas recentes mostrando queda de popularidade de Lula levaram os investidores que não têm posições em Brasil (ou alocações modestas) a experimentar o chamado “medo de ficar de fora” (Fomo, na sigla em inglês).
“O Brasil é um dos mercados de melhor desempenho, tanto no lado das ações quanto no câmbio, levando os investidores a perseguir o ‘momentum'”, afirma o time do JP Morgan. “Quando os preços estavam mais baixos do que agora, não havia compradores, mas, à medida que os preços subiam, mais pessoas se interessavam. E isso vem junto com notícias no cenário político, um dos pouquíssimos gatilhos locais”.
Em relatório, o Itaú afirma que a queda do dólar do pico de R$ 6,30 em dezembro para nível próximo a R$ 5,70 se deve, em parte, à melhora do ambiente externo, com um início de governo Donald Trump “mais ameno”.
O principal indutor da apreciação do real, contudo, foi o aumento do diferencial de juros interno e externo.
“Apesar de algum alívio no curto prazo, os fundamentos ainda apontam para uma taxa de câmbio depreciada, principalmente diante do risco fiscal que deve seguir em patamar elevado”, afirma o economista-chefe do Itaú, Mario Mesquita, que mantém projeção de dólar em R$ 5,90 no fim deste ano e de 2026.
“O dólar deve seguir se fortalecendo globalmente, sendo apenas parcialmente atenuado pelo aumento do diferencial de juros”.