A Energisa (ENGI11) está ingressando na comercialização de gás natural, uma das oportunidades que a companhia centenária de energia elétrica passará a explorar para diversificar os negócios e criar um portfólio completo de soluções energéticas para clientes de todo tipo, disse à Reuters uma executiva do grupo.
A nova aposta vem cerca de um ano após a companhia ter entrado no mercado de gás com a compra distribuidora capixaba ESGás e ficará sob o guarda-chuva da (re)energisa, marca voltada para negócios no mercado livre de energia, geração distribuída solar e outros.
A empresa já obteve habilitações para atuar como comercializadora de gás nos Estados do Espírito Santo e São Paulo e deve inaugurar neste primeiro semestre as primeiras transações, afirmou Roberta Godoi, vice-presidente de Soluções Energéticas e líder da (re)energisa.
“Estamos conversando com quem tem o gás para nos disponibilizar, para formatarmos o portfólio adequado para comercialização. Estamos neste momento fazendo todas essas conversas, estabelecendo as parcerias”, explicou à Reuters.
Segundo Godoi, a oportunidade da comercialização veio após a “primeira incursão” com a ESGás. Em conversas com clientes industriais, a empresa identificou que já havia demanda para contratação do insumo no mercado livre, que pode proporcionar economia de custos, entre outras vantagens.
Apesar de o mercado livre de gás ser novo e não estar ainda desenvolvido em todo o Brasil, a executiva destacou que a Energisa está se antecipando a uma grande tendência que deve se consolidar, conforme o gás natural passa a ter o papel de “combustível de transição”.
Ela reforçou ainda o desejo da Energisa, que se aproxima dos 120 anos, de se tornar uma companhia completa, diversificando sua atuação para além do negócio tradicional de distribuição de energia elétrica.
“Precisa de energia no mercado livre? Nós temos. Precisa de gás? Nós temos também. E biometano? Vamos ter também. Então, a gente está bem animado com essa perspectiva de ir cada vez mais ampliando o nosso escopo.”
No ano passado, a (re)energisa somou 193 milhões de reais em Ebitda e investiu 936 milhões de reais em seus negócios. Para este ano, a projeção é de 430 milhões de reais em aportes, desacelerando após um pico de investimentos para construção de novas usinas solares, segundo a executiva.
“Nos negócios não regulados, o que inclui a transmissão (de energia), a expectativa do grupo é até 2026 chegar em 25% mais ou menos do Ebitda da empresa.”
Energia no “varejo” e Biometano
A companhia brasileira também vem fazendo importantes avanços em outras frentes, como o mercado livre de energia elétrica, que vive uma nova onda de migrações depois da abertura para todos os consumidores ligados em alta tensão.
A (re)energisa se preparou nos últimos anos para capturar oportunidades no segmento “varejista”, que engloba consumidores de energia de pequeno porte, e teve um importante avanço em sua carteira.
A base de clientes da (re)energisa no mercado livre mais do triplicou no ano passado, passando de 180 para 620. Na esteira desse crescimento, a comercializadora do grupo fechou 2023 com um Ebitda de 71,6 milhões de reais, um “resultado histórico” nos 19 anos de existência, disse Godoi.
“Eu acredito que a gente vai viver um ano bastante agressivo (em migrações para o mercado livre), bastante acima do que a gente esperava”, avaliou.
Ela afirmou ainda que a (re)energisa pode olhar parcerias com companhias de outras áreas para atingir mais consumidores com ofertas para o mercado livre, a exemplo do que outras elétricas têm feito para ampliar sua atuação no segmento.
Outra aposta está no biometano, mercado que a empresa ingressou no ano passado com a compra da Agric, empresa de compostagem de resíduos orgânicos industriais para produção de biofertilizante.
“Já começamos a construção de uma planta de geração de biometano, que vai ser inaugurada em 2025… A gente está trazendo (tecnologia) de fora, para ter ali a maior planta de geração de biometano do Estado de Santa Catarina, com uma produção de mais ou menos 25 mil metros cúbicos por dia.”
Em paralelo ao primeiro projeto, a (re)energisa estuda novas oportunidades para produção de biometano — combustível renovável substituto do gás natural — a partir de diferentes biomassas.
“Inicialmente fomos pelo caminho dos resíduos orgânicos industriais… Mas o grupo Energisa tem a felicidade de estar em Estados que têm insumos de toda a natureza. Quando a gente vai ali para o agronegócio, é uma vastidão de possibilidades”, acrescentou a executiva, lembrando que o grupo tem concessões de distribuição de energia em vários Estados do Centro-Oeste, Norte e Nordeste.
Segundo Godoi, o mercado de biometano deve ver um importante crescimento nos próximos anos, saltando de apenas 6 plantas certificadas atualmente pelo regulador ANP para 93 unidades em 2029, com produção subindo de pouco mais de 400 mil metros cúbicos/dia para 6,6 milhões de metros cúbicos/dia.