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Entenda por que você não deveria investir apenas em dólares

Um bom índice de renda variável terá correlação alta com o mercado global, e irá subir ou descer, em maior ou menor escala, no mesmo ritmo

por André Salmeron
3 min leitura
Do ponto de vista financeiro, muitas pessoas tratam o dólar como um almoço grátis

O dólar (USDBRL), por uma série de razões, desempenha um papel relevantes nos seus investimentos. Não apenas por ser a moeda franca do comércio global, mas porque investir no dólar cria uma camada de diversificação internacional. Com isso, tem ganhado força a ideia de atrelar todos os seus investimentos, ou a maioria deles, a moeda dos EUA. Contudo, do ponto de vista financeiro, isso não é uma boa ideia.

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Para entender melhor esse problema, precisamos considerar que existem dois eixos principais de análise. O primeiro trata das questões propriamente financeiras, do ponto de vista matemático, econômico e racional. O segundo trata das questões psicológicas e cognitivas de quem investe, com decisões que, do ponto de vista financeiro, são pouco ou nada racionais.

Nesse pequeno texto, tentarei explorar um pouco de cada uma dessas questões para mostrar que, apesar de muito relevante, o dólar deve ser tratado como uma parte e não como o todo da sua carteira de investimentos.

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Um bom índice de renda variável terá uma correlação alta com o mercado global, e irá subir ou descer, em maior ou menor escala, no mesmo ritmo que o resto do mundo (Imagem: REUTERS/Brendan McDermid/File Photo)

Por que você de abdicar do real para investir em dólares?

A principal razão para isso é ter acesso a mercados fora do Brasil, tanto na renda fixa quanto variável, gerando um grau muito maior de diversificação. Isso é fundamental para que os retornos da sua carteira se tornem menos imprevisíveis, visto que diante de uma crise no Brasil, você terá a proteção de ativos negociados em outros países.

Quando esse processo é bem feito, chega-se numa exposição que chamamos de neutra, porque permite acessar o mercado do mundo inteiro conforme o peso que cada ativo representa no todo. O exemplo mais didático é o do ETF Vanguard Total World Stock (VT), que reúne cerca de 98% da capitalização global do mercado de ações.

A grande vantagem, nesse caso, é que mesmo diante de uma crise no Brasil e EUA, ainda haverá dezenas de outros países integrando a carteira do fundo. Dessa forma, conforme alguns se saem melhor, a carteira do fundo se adequa a nova composição do sistema global de ações. Além disso, faz isso de maneira neutra, considerando o peso de cada ação na soma do todo.

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Logo, do ponto de vista puramente teórico, os portfólios com o máximo de eficiência seriam aqueles que replicam os mercados mundiais de renda fixa e variável na totalidade. Entretanto, isso não é o caso na prática e a comunidade científica concorda não haver necessidade, ou benefício, em ter uma carteira totalmente descolada do mercado nacional.

Isso acontece porque um bom índice de renda variável terá uma correlação alta com o mercado global, e irá subir ou descer, em maior ou menor escala, no mesmo ritmo que o resto do mundo. Isso é o caso, mesmo que o Brasil tenha uma correlação mais baixa com o mundo do que aquela de países economicamente desenvolvidos.

Para termos uma noção, podemos olhar alguns exemplos. Começando em 2008, o índice S&P 500 (SP500) possui uma correlação de 0,95 com VT, o que significa que em 95% das vezes eles andam no mesmo sentido. No caso do STOXX 600, que reúne as maiores ações da Europa, a correlação é de 0,89. No caso do IBRX (IBRX), que representa corretamente o mercado nacional, essa correlação é de 0,63.

Com essa correlação mais baixa, carteiras brasileiras de fato demandam um peso maior de renda variável global. Considerando a recomendação de que carteiras de economias avançadas tenham cerca de 30% da renda variável em ativos globais, no Brasil faz sentido ter algo em torno de 50%. Como de costume, isso não deve ser levado como recomendação de investimentos.

Fora isso, a outra razão para não alocar tudo em ativos globais é que ao trocamos de moeda, passamos a lidar com a imprevisibilidade do câmbio. Dado que Brasil é uma economia emergente, isso implica em riscos bem mais altos em função da nossa economia mais frágil. Apesar dos períodos de alta serem comuns, os períodos de queda são mais intensos e podem corroer, significativamente, os ganhos obtidos em moeda estrangeira.

Na B3, às 17:15 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 0,38%, a 4,9585 reais (Imagem: Reprodução/Freepik/@jcomp)
Os resultados mostram que a dinâmica de valorização do dólar pode ter um custo especialmente alto nos prazos de dez e quinze anos (Imagem: Reprodução/Freepik/@jcomp)

Não trate o dólar como um almoço grátis

Do ponto de vista financeiro, muitas pessoas tratam o dólar como um almoço grátis. A ideia é que investir fora do Brasil significa se livrar do risco nacional, ganhar com a valorização dessa moeda e acessar os melhores ativos do mundo. Na prática, contudo, a teoria é outra, porque o dólar, assim como qualquer outra moeda, é um ativo de risco e cobrará um preço pelos retornos adicionais.

Para mostrar isso concretamente, o núcleo de research da Portfel fez uma série de levantamentos sobre a cotação do dólar contra o real. Foram avaliados os resultados acumulados e anualizados em períodos seguidos de cinco, dez e quinze anos. Ignoramos durações acima de vinte anos devido à baixa quantidade de cenários possíveis, visto que o real iniciou apenas em 1994 – 1995.

Os resultados mostram que a dinâmica de valorização do dólar pode ter um custo especialmente alto nos prazos de dez e quinze anos, aqueles no qual faz mais sentido investir em renda variável.

Ainda que existam períodos bem atraentes, como a década de 2012 a 2022, no qual o dólar obteve rendeu 11,61% ao ano, os piores períodos são intensos. Uma aplicação na moeda teria gerado -4,85% a.a. de 1999 a 2009; além -4,01% a.a. de 2003 a 2013. De um total de 18 cenários, 7 foram negativos; dos 11 restantes, cinco tiveram ganho anual abaixo de 0,5%.

Para o cenário de quinze anos, o ganho mais alto veio de 1995 a 2010, com ganho de 9,64% ao ano. Entretanto, de 2003 a 2018, o retorno teria sido de -4,14% ao ano após uma década e meia de investimento. Dos treze cenários totais, seis deles, ou quase metade, obtiveram retornos negativos após quinze longos anos.

Isso reforça que mesmo que os retornos positivos sejam altos, os períodos negativos exigem a devida cautela. Na prática, isso significa dividir as alocações em bolsa nacional e estrangeira de uma forma que equilibre os riscos de uma baixa do dólar com os prêmios que a moeda oferece para quem está no Brasil.

A dimensão psicológica do dólar

Embora o dólar tenha uma importância financeira bem grande, podemos ir um pouco além dessa questão para tratarmos de outro ponto relevante, que diz respeito à dimensão psicológica dos investimentos em dólar.

Como principal moeda usada no comércio global e sendo os EUA a maior economia do planeta, muitas pessoas presumem, incorretamente, que deveriam abandonar totalmente o real. O mesmo acontece em períodos de eleição presidencial, em que se torna comum ver investidores e investidoras buscando tirar seu dinheiro do país.

Essas urgências, como podemos ver, estão desligadas de uma análise racional e bem fundamentada em dados financeiros. Isso é perigoso para quem investe porque precisamos buscar o máximo de qualidade na alocação para evitar perdas significativas, que podem atrasar em vários anos a conquista dos seus objetivos. Foram os casos, por exemplo, dos períodos de dez e quinze anos com rendimento negativo do dólar.

Embora a ideia de atrelar todos os seus investimentos ao dólar possa ser psicologicamente agradável, ela reduz muito a qualidade da sua alocação. Por isso, o caminho correto é sempre dosar essa exposição com aquela que será atrelada a moeda local, ainda que o Brasil carregue riscos próprios de uma economia emergente.

Isso pode não ser psicologicamente confortável, mas é o caminho mais racional e sensato para sua jornada de investimentos. Um caminho que facilita bastante o processo envolve buscar a ajuda de um(a) profissional de investimentos com boa formação e que não opere sob conflito de interesses.

A Portfel, consultoria patrimonial do Grupo Primo, tem sido um dos caminhos mais comuns para quem busca acesso a esse tipo de aconselhamento. Graças a uma análise rigorosa dos dados e da literatura científica de finanças, produzimos carteiras sob medida para ajudar você a conquistar seus sonhos.

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