Enquanto o Brasil debate se a redução da escala 6×1 é discutida como uma maneira de uma vida mais “humana”, um estudo do pesquisador Nicholas Bloom, economista e professor da Universidade de Stanford, revela que o fator mais importante para os trabalhadores não é o número de horas trabalhadas, mas o tempo gasto no deslocamento para o trabalho.
Ele defende que o aumento significativo do trabalho remoto desde a pandemia pode ser uma solução para o desacelerado crescimento da produtividade, trazendo benefícios para empresas, trabalhadores e a sociedade em geral.
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De acordo com Bloom, o trabalho remoto teve um aumento de dez vezes no início da pandemia e, atualmente, estabilizou-se em um nível cinco vezes superior ao período anterior. Ele aponta que essa mudança pode sustentar o crescimento econômico nas próximas décadas. “O trabalho híbrido, comum entre profissionais e gestores, economiza cerca de cinco horas por semana ao reduzir o tempo de deslocamento”, explica.
Deslocamento: a atividade mais odiada
Baseando-se em pesquisas, Bloom destaca que “o deslocamento é a atividade mais detestada do dia, mais odiada do que o próprio trabalho”. Isso explica por que muitos funcionários valorizam tanto a oportunidade de trabalhar remotamente. Para eles, evitar horas de tráfego intenso significa maior qualidade de vida e flexibilidade, além de possibilitar moradias mais distantes dos centros urbanos.
O trabalho remoto também ampliou a inclusão no mercado de trabalho. Bloom cita que “cerca de dois milhões de pessoas com deficiência entraram no mercado de trabalho nos Estados Unidos após a pandemia, especialmente em ocupações que permitem o trabalho remoto”. Além disso, o estudo mostra um aumento na participação de mulheres na força de trabalho, atribuído à maior flexibilidade para conciliar responsabilidades familiares.
Ele ainda sugere que essa tendência pode impactar taxas de fertilidade, especialmente em regiões como o leste asiático, onde longas jornadas e deslocamentos dificultam a criação de famílias. Dados preliminares nos Estados Unidos indicam um aumento de 0,3 a 0,5 filhos desejados por casal quando ambos os pais trabalham remotamente pelo menos um dia por semana.
Redução de custos
Do ponto de vista de capital, o trabalho remoto permite a redução de espaços de escritórios, liberando terrenos urbanos para habitação ou comércio. Bloom observa que “o espaço reduzido de escritórios nos centros urbanos pode tornar a habitação mais acessível, especialmente para trabalhadores essenciais, como professores, policiais e profissionais da saúde, que precisam viver próximos ao trabalho”.
Além disso, a diminuição do tráfego gerada pelo trabalho remoto contribui para a redução da poluição e melhora a saúde pública. Segundo o estudo, “menos emissões de poluentes, especialmente partículas pesadas, estão ligadas a melhorias cognitivas e de produtividade”.
Produtividade
Embora o trabalho remoto total possa apresentar desafios de gestão, o modelo híbrido mostrou um impacto neutro na produtividade individual, com benefícios como ambientes mais tranquilos para trabalho em casa, compensando a menor interação presencial. Contudo, Bloom argumenta que o impacto macroeconômico é positivo, pois o trabalho remoto expande os mercados de trabalho para além das fronteiras locais, permitindo que empresas contratem os melhores talentos, independentemente da localização.
Tecnologia
Bloom também aponta que o crescimento do trabalho remoto impulsiona a inovação tecnológica. O aumento de patentes relacionadas a “trabalho remoto” ou “home office” desde 2020 demonstra como as empresas estão investindo em soluções para esse novo cenário. Ele prevê que tecnologias como realidade virtual e hologramas podem melhorar ainda mais a produtividade do trabalho remoto nos próximos anos.
Para Bloom, o impacto do trabalho remoto é amplamente positivo. Ele conclui que “em minha vida como economista, nunca vi uma mudança tão amplamente benéfica”. Com benefícios para empresas, funcionários e sociedade, o trabalho remoto não apenas melhora a produtividade, mas também redefine a dinâmica urbana e social.
PEC da escala
A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) de fim da escala 6×1 é de autoria da deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP), que formalizou uma iniciativa do Movimento Vida Além do Trabalho (VAT), do vereador eleito no Rio Rick Azevedo (PSOL).
A medida propõe acabar com a jornada de 44 horas de trabalho semanais, vigente há 81 anos no País, desde que a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) foi publicada, em 1943. Em vez disso, a ideia é reduzir esse limite para 36 horas semanais.