Você já parou para pensar com que frequência precisa tomar decisões no seu dia a dia? Pense por um instante nas decisões que já tomou desde que acordou: qual roupa colocar? Esse ou aquele sapato? Que e-mails responder primeiro? Onde almoçar? Tenho certeza de que você encontrou inúmeras outras escolhas fazendo este rápido exercício.
Legal, mas absolutamente normal. Óbvio. Escolhas são parte de nosso cotidiano de uma forma quase invisível, mas com consequências sempre importantes. O que quero discutir hoje é como, ainda que de forma inconsciente, tomamos certas decisões.
Escolher entre uma atividade ou outra, entre este ou aquele produto envolve muito mais do que apenas uma análise racional – você certamente concorda que certas decisões seriam óbvias se fôssemos capazes de usar apenas o raciocínio lógico. Interferências externas, emoções e os aspectos subjetivos das consequências influenciam nesse processo.
Onde você vai almoçar?
Repare como é comum, ao escolher um produto ou tomar uma atitude, avaliar a decisão sob a ótica do “certo e errado” ou do “melhor e pior”. Acompanhe minha opinião através de um exemplo cotidiano: decidir onde almoçar.
Escolher um restaurante com uma maior variedade de pratos e opções saudáveis soa como a decisão “certa” e, assim, é o “melhor” a fazer quando a fome chegar. Pensar assim faz todo o sentido e torna a escolha mais simples e menos trabalhosa, o que alimenta nossa sensação de controle e bem-estar.
Mas, repare que ao escolher o restaurante “certo” e, porque é o “melhor” em termos de variedades, estamos tomando uma decisão baseada em gatilhos externos, situações esperadas pela sociedade e noções sobre felicidade e sucesso baseadas em modelos ditados pelos outros. Perdemos muito tempo no “Onde almoçar?” e passamos batido no “Por que almoçar?”.
Como assim? Ora, basta observar as pessoas e sua alimentação após realizada esta escolha “certa” e “melhor” para seu dia. A maioria dos clientes vai de fato a esses lugares, mas enche o prato de “porcaria” e não come nada do que deveria (ou exagera na quantidade, na sobremesa e por aí vai). Elas estão lá, mas não estão focadas em si mesmas (embora justifiquem que sim).
A ilusão do certo e errado
Antes que alguém ache que estou exagerando, não tenho nenhuma comprovação científica para o exemplo, mas decidi compartilhá-lo porque passei um bom tempo observando as decisões das pessoas e suas ações de fato. Meu relato é puramente empírico.
Ocorre que escolhemos pensando no que é “melhor”, no que é “certo”, mas acabamos mantendo uma rota confortável de executar as coisas “como elas são”. Por que isso acontece? Porque “certo e errado” e “melhor e pior” são opiniões, não parâmetros; são julgamentos, não prioridades.
Ora, o que é certo para um, pode não ser certo para o outro. O melhor para um perfil é certamente diferente do melhor para o outro. Opiniões mudam (Oh!) conforme o humor, situação emocional ou psicológica, níveis de estresse e por aí vai. Julgamentos são igualmente pessoais e facilmente influenciáveis.
No que você acredita?
Observar as pessoas bem-sucedidas e que são capazes de compartilhar suas experiências me fez enxergar algo simples: suas decisões são tomadas com base em princípios (parâmetros) e prioridades.
Não entendeu? As escolhas destas pessoas são feitas levando em consideração suas crenças, seu sistema de valores e seu próprio senso de urgência – elas fazem porque acreditam, não porque esperam algo delas ou por estarem no “piloto automático”. Sendo mais direto: o foco está todo voltado para quem toma a decisão e não para as expectativas dos outros.
Não interessa escolher o “melhor” lugar para almoçar ou o restaurante com a comida “certa”, mas alimentar-se de acordo com suas prioridades e interesses (nem que precise cozinhar sua própria comida se não encontrar isso em lugar nenhum).
Não sei se percebeu a sutileza da coisa. Enquanto nos basearmos nos conceitos de “certo e errado” e “melhor e pior”, estaremos tomando decisões com boa margem de interferência da sociedade de consumo. Quando passamos a agir de acordo com o que acreditamos, trocamos o “certo e errado” por apenas ser coerente e o “melhor e pior” pelo bom senso.
A lição que aprendi
Ora, posso me alimentar bem em qualquer restaurante, comendo aquilo é importante para o meu perfil (alguém que gosta de atividades físicas), na quantidade certa e de forma paciente. Não me interessa ser visto neste ou naquele estabelecimento, mas manter-me fiel ao que me faz bem em termos de alimentação.
Agora sem a metáfora: preocupe-se mais em ter um estilo de vida seu do que em estar “certo” ou ser o “melhor”. As escolhas “certas” e as “melhores opções” podem até trazer resultados, mas só as decisões coerentes o colocarão cada vez mais em contato com o que realmente interessa: você mesmo.
Ah, não gostou do exemplo que usei? Não cola? Ok, troque comida e restaurante por qualquer outra coisa e refaça mentalmente as ponderações que compartilhei aqui – dinheiro, carro, saúde, estudos, pense no que for e faça esse exercício.