Home Política Esqueça o G7 ou o G20, mundo vive a era do G-Zero

Esqueça o G7 ou o G20, mundo vive a era do G-Zero

A falta de um líder global está permitindo que conflitos se perpetuem e que a instabilidade se agrave, avalia Ian Bremmer, da Eurasia

por Gustavo Kahil
3 min leitura
G-Zero

Ian Bremmer, presidente da consultoria Eurasia Group, destacou em sua análise a crescente falta de liderança global, referindo-se ao mundo atual como uma era de “G-Zero”, um cenário em que não há potências globais dispostas ou capazes de liderar em questões essenciais, explicou em um relatório enviado a clientes nesta quarta-feira (23).

De acordo com Bremmer, essa ausência de liderança é evidente em crises como as guerras na Ucrânia e no Oriente Médio, onde, apesar de todos desejarem paz, nenhum país ou entidade internacional parece disposto, ou capaz de mediá-la de forma eficaz.

Os Estados Unidos, tradicionalmente vistos como líderes globais, são criticados por Bremmer por sua postura no Oriente Médio, particularmente por apoiar militarmente Israel sem utilizar sua influência para pôr fim ao conflito. Da mesma forma, a China, que tem uma relação próxima com a Rússia, é apontada por não usar seu poder para encerrar a guerra na Ucrânia.

“Nenhuma das grandes potências globais está fazendo o suficiente para alcançar soluções sustentáveis para esses conflitos”, escreveu Bremmer.

EUA divididos

Bremmer afirma que a fragmentação política dos EUA contribui diretamente para essa crise de liderança global. A divisão interna americana e a incapacidade de unir o país em torno de um objetivo comum têm repercussões internacionais, enfraquecendo a capacidade de liderar de maneira eficaz. Ele alerta que o cenário é de crescente instabilidade, e que os principais conflitos no mundo hoje não estão caminhando para uma resolução sustentável.

No caso da Ucrânia, por exemplo, Bremmer sugere que o país está a caminho de uma “partição de fato”, já que a Ucrânia carece de recursos militares para retomar todo o seu território, enquanto Vladimir Putin não mostra sinais de ceder voluntariamente as áreas ocupadas. O cenário, segundo Bremmer, depende crucialmente do suporte econômico, diplomático e de segurança que a Ucrânia receberá de seus aliados ocidentais nos próximos anos.

Sobre o Oriente Médio, ele argumenta que, apesar de a guerra em Gaza ter radicalizado os palestinos e endurecido as atitudes israelenses, a região como um todo pode se estabilizar, com potências regionais como Arábia Saudita e Irã evitando um conflito maior. Contudo, o destino dos palestinos, segundo Bremmer, “cairá gradualmente no esquecimento”.

Crise em todo o mundo

O analista também faz um alerta sobre os efeitos da crise política nos Estados Unidos, destacando que a crescente desconfiança entre americanos sobre a legitimidade do processo democrático está exacerbando a falta de liderança global.

Segundo Bremmer, a crise política americana “reverberará em todo o mundo”, à medida que aliados e adversários passam a questionar se podem confiar nos EUA para manter a segurança global, o livre comércio e o estado de direito.

Em suma, Bremmer pinta um quadro sombrio de um mundo cada vez mais desestabilizado e sem liderança clara, o que ele chama de G-Zero. A falta de um líder global eficaz está permitindo que conflitos se perpetuem e que a instabilidade se agrave, ao mesmo tempo que o próprio sistema democrático americano parece à beira de um colapso interno.

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