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Está na hora de comprar um carro zero? E um imóvel?

por Conrado Navarro
3 min leitura

Está na hora de comprar um carro zero? E imóvel?Pedro diz: “Navarro, estou surtando. Calma, explico as razões: o Dinheirama deu ampla e excelente cobertura aos acontecimentos ligados à crise financeira mundial, especialmente no que se refere aos seus efeitos para o bolso dos cidadãos. Ótimo. Mas eis que, lendo alguns jornais e revistas, noto reportagens e propagandas estimulando a compra de veículos, casas e apartamentos. Como assim? Vimos que a tendência do momento é de escassez de crédito, que torna o juro mais elevado, e tem gente mandando a gente comprar? Gostaria de sua opinião sobre isso”.

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Tem muita gente surtando. Aliás, tem um sem número de pessoas que já surtou. “Crédito fácil não significa crédito barato”, máxima proferida com propriedade pelo colega Ricardo Pereira e que sempre exploramos no Dinheirama nos coloca diante de uma questão ainda mais crucial sobre os juros e as compras da população: quem disse que antes da crise os juros estavam em patamares interessantes e que o crédito era a ferramenta indicada para tanta gente?

A “briga” é boa, mas sua discussão nem sempre é tão produtiva. Afinal, o crédito é um instrumento essencial para o crescimento da economia[bb], já que permite que muitas pessoas executem ordens de poder e movimentem o comércio e padrão de vida locais. O dinheiro, meio de troca que é, também tem seu lado social – que é subjetivo, mas de grande impacto nas decisões cotidianas. Portanto, discutir se o crédito é bom ou ruim é um desafio capcioso e muito maior que as capacidades intelectuais deste humilde blogueiro. Vou por outro caminho.

Quem mandou financiar?
Passada a observação sobre relevância do crédito, finalmente volto para o ponto central de todo nosso bate papo: a compra parcelada, normalmente financiada através de juros altos, era saída inteligente mesmo antes da crise? Certamente era a mais fácil. Do ponto de vista de planejamento financeiro[bb] e orçamento, talvez a realidade devesse ser completamente diferente. Mas, disso, você já sabe.

Pois bem, com o temor de inadimplência contaminando bancos, instituições financeiras e demais fontes de crédito, é natural que se empreste menos capital e que os rigores no empréstimo sejam maiores. Isso significa notar, em alguns casos, juros maiores e/ou exigência de entradas maiores. Em outras palavras, financiar continua sendo uma opção disponível, mas certos detalhes mudaram.

Entendo perfeitamente a dúvida em relação ao momento atual. Felizmente, os financeiramente educados partem para o saudável debate sobre as decisões de empresas e bancos, discutindo a viabilidade da compra diante de um cenário delicado e ainda imprevisível. Os demais sentem-se atraídos, mesmo sem entender porquê. Vejamos o caso dos carros: é fato que o mercado de automóveis derreteu de forma acentuada e os juros médios nos financiamentos e empréstimos já subiu. E daí?

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Promoções? Será hora de comprar?
Feirões para lá e para cá, ofertas de juro zero, parcelas mais atraentes e descontos no preço à vista. Uau! Mas será que isso não estaria indo na contra-mão do atual cenário de crise? Repare que a partir daqui a discussão fica bem interessante. Antes, com dinheiro[bb] caro ou barato, existia enorme demanda (ou procura). Todo mundo queria um carro e estava disposto a pagar o que fosse para tê-lo. Os fabricantes, claro, queriam vender e produziram muito.

Você já deve ter captado a mensagem, afinal estoque é a palavra-chave do mês. Montadoras e concessionárias estão com estoques elevados, tendo inclusive que convidar seus funcionários a viver momentos de lazer com a família (leia-se convocando férias coletivas). Para produzir mais, primeiro é necessário vender aquilo que já foi produzido. Estoque significa, dentre outras coisas, custo e ineficiência.

Ora, com uma queda brusca nas vendas, previsões inteiras foram arruinadas, resultados e novas análises foram prejudicadas. Entre não vender e vender mais barato, ainda que diminuindo margens, o que parece mais sensato? Pois é, os descontos na compra de carros novos e algumas facilidades na negociação explicam parte deste comportamento. Logo, comprar agora pode representar a realização de um bom negócio? Pode. Mas, como insistir na necessidade de planejamento e organização das finanças é parte de meu dever, lembre-se:

  • Regra 1: Só compre se puder comprar. É fácil. Você precisa ter dinheiro disponível para a realização do objetivo, sem que isso comprometa seus outros objetivos em andamento. Não é porque está mais barato que você vai comprar e depois se matar para pagar (ou não pagar);
  • Regra 2: Prefira comprar à vista ou dê a maior entrada possível, desde que a regra anterior seja respeitada. Os preços promocionais ainda podem ser negociados e você fica livre dos juros do financiamento. Mas você precisa poder pagar;
  • Regra 3: Cuidado com o juro zero. Os financiamentos possuem taxas administrativas e impostos, muitas vezes repassados de forma não usual (leia-se embutida no preço final do carro). Negocie muito e negocie sempre!

O caso dos imóveis é ainda mais lógico: a procura por casas e apartamentos diminuiu em diversas regiões do país, o que naturalmente fez os preços caírem. Claro, parte da queda de procura se dá pela escassez de crédito e pela atitude “melhor esperar” de muitos investidores. Neste contexto, sim, é possível encontrar imóveis interessantes com preços também muito interessantes. No entanto, essa análise deve ser cuidadosa e deve respeitar as mesmas regras explicitadas acima.

O assunto é importante e foi abordado com muita propriedade no caderno “Classificados” do jornal Folha de S. Paulo de ontem, dia 16/11. De lá, tirei inspiração para criar esta importante relação entre o momento, a oportunidade e a realidade de cada um de nós. Por que? Simplesmente porque não concordo com a afirmação “a prestação coube no meu bolso”, dita pela grande maioria dos brasileiros que ainda compram carro financiado sem dar entrada e em um prazo muito longo. Será assim tão “simples”? Tomara que não.

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Crédito da foto para stock.xchng.

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